Nº 0747 - O FARELO E O SONHO VERDE - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Muitos que tinham cavalos na ilha, tratavam de seus animais com respeito.... Eram dedicados e sempre direcionavam o melhor para o seu animal....
No entanto.... haviam outros....
Ouçamos o que Primolius ouviu em uma manhã num determinado lugar da ilha...
A Ilha era um paraíso de areia branca, mas para os cavalos que ali labutavam, o paraíso tinha gosto de farelo. Dia após dia, a mesma ração de milho e farelo enchia seus cochos, alimentando corpos cansados que puxavam carroças sob o sol inclemente. Um cavalo, em particular, sentia o peso dessa rotina. Chamava-se Ventania, e em seus olhos brilhava a chama de uma insatisfação crescente.
"Não podemos continuar assim", disse Ventania, reunindo alguns companheiros à sombra de um coqueiro. "Nossos corpos estão definhando. Precisamos de capim, da força que só a natureza pode nos dar."
A reação foi mista. Alguns concordavam em silêncio, seus flancos magros um testemunho da carência nutricional. Outros, porém, mostravam-se receosos. "Ventania, você sabe como é", relinchou um cavalo mais velho, de nome Bronze. "Trabalhamos do nascer ao pôr do sol. Não temos tempo para 'manifestações'."
Ventania sentiu o desânimo pesar, mas não se abateu. "Um pouco de capim é pedir demais?", indagou, a voz embargada. "Estamos fracos, cada dia mais perto de sucumbir na areia. Precisamos de vitaminas, e essa ração não nos sustenta."
O silêncio que se seguiu era mais eloquente que qualquer discurso. Ventania falava por todos, expressava a angústia silenciosa de uma tropa exausta. O "capim de ouro", como Ventania o chamava, pairava como um sonho distante, uma miragem verde em meio à aridez da rotina.
Os dias se passaram, e a vida na ilha seguiu seu curso implacável. O sol castigava, o trabalho esgotava, e a ração permanecia a mesma. Ventania, porém, não desistiu. Em cada olhar trocado com seus companheiros, em cada relincho de incentivo, ele mantinha acesa a esperança.
Enquanto isso, outros cavalos chegavam à ilha, trazidos por embarcações distantes. Traziam consigo a mesma esperança, o mesmo vigor juvenil que, inevitavelmente, se esvairia sob o peso do trabalho e da dieta de farelo. Ventania os observava, um misto de compaixão e determinação em seu coração. Sabia que a luta seria longa, mas o sonho do capim verde, da saúde e da dignidade, era um ideal que valia a pena perseguir.
E assim, na ilha de areia branca e mar azul, a saga do capim de ouro continuava, uma história de esperança e resistência, tecida nos relinchos dos cavalos e na brisa constante que soprava do oceano.
- Assim narrou Primolius!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0747