*Nº 0696 - PORTAL DE BABEL - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 




Na mística Ilha de Maya, um evento extraordinário e raro aconteceu: a Festa do Portal de Babel, uma celebração única que reuniu uma diversidade de aves em um espetáculo memorável. Foi uma reunião como nenhuma outra, onde as asas coloridas e as plumas majestosas dos participantes encheram os céus, e a terra foi transformada em um cenário de pura magia. Os colhereiros elegantes, com seu andar gracioso e bicos curvados, chegaram cedo, acompanhados pelas garças azuis e brancas, cuja elegância ao voar parecia uma dança no ar. Garcinhas delicadas e guarás vibrantes, com suas plumas vermelhas intensas, se destacavam entre os demais. No entanto, era impossível ignorar os socós caranguejeiros, com seus olhos atentos, e os socózinhos, que, mesmo menores, traziam uma presença inconfundível à celebração.

Pavãozinhos do Pará, com suas exuberantes caudas e cores, desfilaram em meio aos participantes, enquanto os urubus circulavam, simbolizando o ciclo da vida e da morte que Maya tanto reverenciava. Saracuras e maçaricos, com suas penas esbeltas, se moviam com leveza entre os mangues, enquanto os anuns e paturús, mais discretos, contribuíam com seus sons e movimentos harmoniosos. A festa era uma sinfonia de cores, sons e movimentos, onde cada ave desempenhava seu papel com graça e importância.

No entanto, foi a presença do ariramba, com seu bico longo e afiado como uma adaga, que chamou a atenção de todos. Sua figura esguia e a destreza com que se movia pela mata fizeram dele um participante essencial. Ele se misturava às aves maiores com uma confiança e serenidade que encantava os presentes.

Por três dias inteiros, a ilha foi tomada pela alegria, e algo verdadeiramente mágico aconteceu: em uma rara e quase inacreditável ocasião, todas as aves presentes começaram a falar a linguagem humana. Era como se o Portal de Babel, em sua sabedoria ancestral, tivesse concedido esse presente temporário, permitindo que essas criaturas aladas participassem ativamente de debates e decisões sobre o futuro da Ilha de Maya.

A festa não foi apenas uma celebração de cores e cantos. Foi um momento de união e reflexão profunda. As aves, em um gesto de rara camaradagem, discutiram questões essenciais para o bem-estar da ilha e do ecossistema que chamavam de lar. Garças, guarás, paturús, e até os mais reservados urubus, participaram das discussões, debatendo sobre os desafios climáticos, a preservação das florestas e o equilíbrio entre as espécies. Os voos acrobáticos entre as árvores, os mergulhos sobre as águas tranquilas e os cantos harmoniosos formavam o pano de fundo para um diálogo genuíno e inspirador.

Cada ave teve sua voz ouvida, porque na Ilha de Maya, toda vida era respeitada como parte vital do ecossistema da Grande Mãe. As decisões foram tomadas coletivamente, e os compromissos assumidos ali teriam um impacto duradouro em todas as criaturas que habitavam a ilha. A união e o respeito às diferenças foram os principais legados daquele encontro. A linguagem comum que as aves partilharam, mesmo que temporária, tornou-se um símbolo de comunicação verdadeira e da importância de ouvir o outro, não importando a espécie ou o tamanho.

Quando a Festa do Portal de Babel chegou ao fim, as aves retornaram aos seus ninhos com um novo senso de esperança e determinação. Cada uma delas carregava consigo a certeza de que, mesmo diante das adversidades, a união e a cooperação poderiam superar qualquer desafio. A festa, que começara como uma celebração de pura alegria, se tornara um marco histórico, um símbolo de resiliência e propósito. A Ilha de Maya, com sua mística e beleza, sobreviveria e floresceria graças à essência de todos os seres que viviam em seu leito.

Segundo o antigo sábio Primolius, essa história da Festa do Portal de Babel nos convida a refletir profundamente sobre a importância da união e da comunicação em um mundo onde, muitas vezes, as vozes se perdem em meio ao caos. Naquele encontro memorável, as aves ensinaram que, apesar de nossas diferenças, podemos nos unir em prol de um bem comum. Com respeito e empatia, é possível construir um futuro mais justo e harmonioso para todos, onde cada ser, alado ou não, tem sua importância reconhecida.

E ainda há muito mais nessa história para contar. Dizem que, durante a festa, o ariramba foi escolhido para uma missão especial, algo de grande relevância para a preservação da ilha e seus mistérios. O que seria essa missão? Os sussurros das árvores e as ondas suaves do mar de Maya guardam essa resposta, que em breve será revelada. Pois em Mayandeua, o ciclo da vida e da magia continua a girar, e novas aventuras aguardam aqueles dispostos a desvendar seus segredos.


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0696


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