* Nº 0691 - SUSSURROS MODERNOS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Nas profundezas cristalinas que cercam a mística Ilha de Mayandeua, as últimas sereias habitam, silenciosas guardiãs de uma era que quase se perdeu nas brumas do tempo. Suas caudas iridescentes, em tons que variam do azul profundo ao verde esmeralda, brilham intensamente sob a luz prateada do luar, refletindo a magia oculta nos oceanos. Essas criaturas, com uma beleza que transcende o imaginável, são mais do que lendas vivas. Elas são as protetoras dos segredos mais antigos do Mar de Maya, seres cuja existência está intrinsecamente ligada aos mistérios do universo aquático.
Ao cair da noite, os cânticos das sereias ecoam pelas águas serenas, flutuando como melodias esquecidas. Suas vozes, doces e etéreas, têm o poder de enfeitiçar não apenas os ouvidos, mas também as almas de quem as escuta. Esses cânticos, há muito transmitidos entre elas, são histórias de um tempo em que os mares fervilhavam com encantamentos e onde criaturas místicas nadavam lado a lado com os humanos. Cada sereia, com longos cabelos entrelaçados com algas marinhas e conchas cintilantes, carrega a memória viva de uma época em que a harmonia entre terra e mar era completa.
Vivendo em total sintonia com os ciclos naturais das marés, as sereias de Mayandeua respeitam e celebram as belezas da ilha e do oceano ao seu redor. Elas compreendem os ritmos sutis das águas, o fluxo e o refluxo das correntes, e como esses movimentos se entrelaçam com a vida na ilha. O pulsar do oceano é o coração da própria existência delas, e cada maré que se eleva e recua traz consigo histórias antigas e sabedoria esquecida. A cada dia, elas observam as transformações ao seu redor com um olhar contemplativo e sereno. As mudanças no mundo humano são inevitáveis, mas as sereias sabem que sua missão vai além do presente: elas guardam, em silêncio, os segredos do fundo do mar, protegendo as memórias de uma era em que o vínculo entre humanos e criaturas marinhas era profundo e inquebrável.
À noite, quando o véu da escuridão cobre a ilha e as estrelas piscam no céu como guardiãs distantes, as sereias emergem das profundezas para dançar nas ondas que acariciam as praias de Mayandeua. Suas danças são graciosas e fluidas, movendo-se como se fossem parte da própria água. Sob o ritmo distante dos tambores curimbós, tocados por mãos invisíveis, suas caudas cintilantes cortam as ondas com um brilho espectral, enquanto seus cânticos ganham força e se fundem com o som do mar. Para os viajantes que têm a sorte de atravessar os portais mágicos que conduzem à ilha, a visão das sereias dançando é um momento de revelação, um vislumbre de um mundo onde o encanto e a beleza ainda reinam supremos.
Esses viajantes, atraídos pelo mistério e pelo encanto da ilha, encontram nas sereias não apenas beleza, mas um convite para conhecer algo mais profundo. Cada encontro é uma ponte entre dois mundos – o humano, com suas pressas e buscas incessantes, e o mundo aquático das sereias, onde o tempo corre de maneira diferente, mais lento, mais atado ao ciclo eterno da natureza. Em cada canto compartilhado, em cada olhar trocado, as sereias oferecem aos visitantes um vislumbre de um universo onde a magia e a harmonia ainda existem. É um lembrete suave e melancólico de que há mais no mundo do que aquilo que se pode ver ou tocar.
Com uma graciosidade intemporal, as sereias de Mayandeua oferecem suas histórias não apenas para entreter, mas para ensinar e preservar. Elas sabem que sua própria existência é um elo vivo com um passado mágico que, aos poucos, vai desaparecendo das memórias humanas. Mas, enquanto houver viajantes dispostos a ouvir, enquanto houver aqueles que, com olhos de maravilha, se permitirem contemplar suas danças nas ondas, as sereias continuarão a sussurrar suas lendas nas marés.
Elas são as guardiãs de um mundo que está desaparecendo, mas também as mensageiras de esperança. Pois, mesmo em meio às mudanças inevitáveis que o tempo traz, elas mantêm viva a chama da conexão entre os seres terrestres e o mar. E na Ilha de Mayandeua, onde o vento, as águas e a terra se encontram em perfeita harmonia, as sereias permanecerão, iluminando a escuridão com suas caudas cintilantes e embalando os sonhos dos que acreditam no poder das lendas e da magia.
- Assim um boto me contou!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0691


