*Nº 0687 - GUERREIRAS DO VENTO - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Há muitas e muitas gerações, nas terras místicas dos Tucuxiwaras, existia uma tribo de nativos profundamente conectada com os elementos da natureza. Essa tribo vivia em perfeita harmonia com os rios, florestas e, sobretudo, com os ventos. Eles acreditavam que os ventos eram os mensageiros dos deuses antigos, espíritos poderosos que atravessavam os céus e a terra, trazendo consigo sabedoria, avisos e ensinamentos. Cada sopro de ar era como uma mensagem divina, e o povo dos Tucuxiwaras sabia que escutar o vento era tão importante quanto reverenciar a própria terra.
Entre os membros dessa tribo, uma jovem chamada Kailash destacava-se por sua curiosidade insaciável e seu desejo de compreender o mundo além dos horizontes. Desde criança, Kailash sentia uma atração especial pelos ventos que sopravam sobre as dunas sagradas, uma região ao leste do território da tribo, onde o vento corria livre e selvagem. Diziam que ali os ventos sussurravam verdades profundas, e Kailash sentia que esses sussurros escondiam segredos que precisavam ser revelados.
Determinada a entender o que os deuses tentavam comunicar, Kailash decidiu embarcar em uma jornada solitária pelas dunas. Ela caminhou por dias e noites, enfrentando o calor abrasador do dia e o frio cortante da noite, sempre ouvindo os ventos que sopravam ao seu redor. Durante essas noites solitárias, Kailash começou a perceber algo incomum: o vento, especialmente ao cair da noite, cantava uma melodia distinta, como um batuque suave que reverberava pelas areias. Era um som rítmico e ancestral, como se o próprio vento estivesse dançando em celebração à vida. Kailash, então, compreendeu que estava diante de algo extraordinário: o "Batuque dos Ventos", uma canção eterna entoada pelos deuses e pelo universo, carregada de segredos ancestrais e presságios futuros.
Impelida pela descoberta, Kailash retornou à sua tribo e, com o coração cheio de sabedoria, reuniu todos os membros em uma noite sem lua, um momento em que os ventos eram mais intensos e cheios de significado. Com grande reverência, ela os conduziu até as dunas sagradas, onde todos puderam ouvir o batuque dos ventos pela primeira vez. Ao sentir a melodia em suas almas, os Tucuxiwaras entenderam que o vento não apenas transportava mensagens divinas, mas também carregava a sabedoria dos antigos Maracanãs, os espíritos protetores de seu povo. A partir daquele momento, o "Batuque dos Ventos" se tornou uma cerimônia sagrada, celebrada com grande devoção por toda a tribo.
Conforme o tempo passava, o Batuque dos Ventos não apenas guiava os Tucuxiwaras em suas práticas cotidianas, mas também os ajudava a manter a harmonia com a natureza. As filhas de Kailash, sete mulheres corajosas e sábias, foram criadas para ouvir e interpretar os ventos, se tornando as "Guerreiras do Vento". Essas mulheres, herdeiras da sabedoria de sua mãe, desenvolveram uma habilidade extraordinária de interpretar as mudanças nos padrões dos ventos, sendo capazes de prever a chegada das estações, os melhores momentos para plantar e colher, e até mesmo antecipar os desafios que surgiriam no horizonte. Elas também lideravam rituais de agradecimento aos ventos, pedindo orientação e proteção.
Kailash, com o passar dos anos, tornou-se a grande guardiã das tradições de sua tribo. Respeitada e admirada por seu povo, ela dedicou sua vida a ensinar suas filhas e toda a tribo a ouvir e entender os ventos, não apenas como um fenômeno da natureza, mas como uma ponte sagrada entre os humanos e o divino. Sob sua liderança, o Batuque dos Ventos se espalhou além dos limites da tribo, alcançando outras comunidades e culturas. Tribos vizinhas começaram a buscar o conselho das guerreiras do vento, reconhecendo a sabedoria única que os Tucuxiwaras haviam cultivado ao longo de gerações. O Batuque dos Ventos, assim, transcendeu suas origens, tornando-se uma força unificadora que conectava diferentes povos, inspirando cooperação e respeito mútuo. Em um dia de grande serenidade, após uma vida dedicada ao serviço de sua tribo, Kailash sentiu que seu tempo na terra havia chegado ao fim. Ela se despediu de sua família e de seu povo com um coração cheio de paz, sabendo que suas filhas continuariam seu legado. Seu espírito, então, foi levado pelos ventos para os Maraventos de Maya, um lugar mítico onde os espíritos sábios residem e de onde, dizem, continuam a soprar seus conselhos sobre a terra.
Os anos trouxeram desafios e dificuldades, mas a tribo dos Tucuxiwaras sempre encontrou força e direção nas palavras dos ventos, guiados pelas Guerreiras do Vento, filhas de Kailash, que lembravam a todos da importância da união, do respeito pela natureza e da sabedoria ancestral. O Batuque dos Ventos, que começara como um sussurro ouvido por uma jovem, havia se transformado em uma tradição sólida e duradoura, um símbolo de paz, compreensão e gratidão.
E assim, a história do "Batuque dos Ventos" sobreviveu através dos tempos, lembrando a todos que, quando escutamos atentamente, a natureza e o universo podem compartilhar conosco seus segredos mais profundos, guiando-nos em nossas jornadas com sabedoria e compaixão. Os Tucuxiwaras, fortalecidos por essa tradição sagrada, continuam a viver em harmonia, conectados ao divino e às forças que os cercam, perpetuando a crença de que os ventos são os guardiões de todos os tempos.
- Assim uma coruja narrou esta história para Primolius!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0687