*Nº 0670 - REINO SECRETO DOS CARIMBOLEIROS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA

 



Vestes ao vento, colorido vibrante que dança com a brisa, iluminando o coreto da praça em Mayandeua. As saias rodadas das mulheres giram em harmonia com o movimento dos corpos, enquanto sorrisos resplandecem, despedaçando qualquer sombra de tristeza. Os parceiros, perfumados com essências da terra, exibem suas barras largas de tecidos, impregnados com o espírito festivo da ilha. Em círculos, homens e mulheres se reúnem, unindo os pés ao chão em uma batida constante que ecoa pela praça.

Um "xique, xéque, xoque" é o som que marca cada passo, cada giro, enquanto os compassos cadenciados revelam o carimbó folclórico em toda a sua glória. No centro da festa, os curimbós ressoam firmes, suas peles esticadas vibrando sob as mãos dos tocadores, que, em seus tronos de ritmo, transpiram alegria e devoção. Eles são os regentes da festa, transformando suas mãos em vaquetas humanas que dão vida à batida primitiva, ao pulsar da cultura de Mayandeua. Flautas e banjos entrelaçam suas melodias, "transpirando" sons que requebram o ar, trazendo as notas suaves da valsa paraense, que se mescla ao ritmo contagiante do carimbó.

Homens e mulheres, girando sem parar, são o retrato vivo das rodas festivas dessa terra do Sal, dessa Mayandeua encharcada de tradição. As roupas esvoaçantes, o perfume de patchouli no ar e o aroma forte do marafá criam um cenário de pura energia. É o Carimbó em sua essência, uma dança que arrasta tudo e todos em sua correnteza de alegria.

A morena de saia rodada, com movimentos suaves e quase hipnóticos, "quebra as cadeiras" com uma destreza encantadora. Quem dança o carimbó é dengoso, movendo-se com graça e formosura, como se cada passo fosse uma ode à beleza. A moçada bonita, cheia de vigor, exibe sua elegância despretensiosa, "açulerados" pela música que envolve cada parte do corpo. Orgulhosos, eles mostram ao mundo que quem dança o carimbó anda na lapa do mundo, com os pés no chão e o coração nas ondas do mar.

E lá está ela, a morena, com seu charme inigualável, "sabureando" o espaço ao seu redor, deixando rastros de encantamento por onde passa. O carimbó é assim: danado, charmoso, cheio de alma. Sempre há uma cunhã para namorar, e cada giro na dança parece um convite para o amor. Moços de todo tipo, do "batoré" ao "apaideguado", enchem a roda, todos com um brilho nos olhos e uma paixão pela dança que é maior do que qualquer coisa.

Quem dança o carimbó "si" balança como as ondas do mar, com um movimento que convida os botos a amar. "Açulerados", eles brincam na maré como meninada em pira, correndo e rindo, movidos pela leveza da música e pelo espírito da ilha. A mulher que dança o carimbó é como uma flor sempre em flor. Cheirosa a todas as horas, seus cabelos sintonizam com o vento, movendo-se com graça e leveza. E seus olhos? Ah, seus olhos sabem encantar como ninguém. Cada olhar é um convite à poesia, à melodia, ao segredo da dança.

Essa crônica musical é um presente, mas só os que sabem verdadeiramente dançar podem alcançar a felicidade plena que o carimbó traz. É um cântico antigo, uma dança que fala à alma, uma celebração que se espalha por toda Mayandeua. O carimbó é o coração da ilha, um pulsar constante que une terra e mar, homens e mulheres, tradição e renovação.

Dançar e cantar um carimbó em Mayandeua é viver em sintonia com os elementos, com a magia da ilha. É sentir o vento nas vestes, o chão vibrando sob os pés e a música correndo nas veias. É ser parte da terra, do sal, do mar. É ser livre, ser feliz, ser de Mayandeua.

- Um “Curimbó” chorando lá na beira da praia.


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0670

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