*Nº 0663 - VENTOS DE FORA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Na pacata Ilha de Algodoal, os Ventos de Fora são um fenômeno que há muito fascina e inquieta seus habitantes. Esses ventos, que chegam do mar distante com uma força incomum, não são vistos apenas como uma ameaça física, mas também como um evento carregado de mistério e significado espiritual. Quando os Ventos de Fora começam a soprar, os pescadores mais experientes sabem que é hora de recolher seus barcos e evitar o mar. O oceano, normalmente calmo, torna-se um território selvagem e imprevisível, repleto de ondas altas e correntes perigosas.
Mas os Ventos de Fora não são apenas sobre a força da natureza. Eles carregam consigo uma aura de misticismo que transcende o vento comum. Os moradores mais antigos da ilha, como o velho pescador Manoel, contam histórias de que esses ventos abrem portais invisíveis para outros mundos. Dizem que Maya, a entidade espiritual que protege a ilha, utiliza esses ventos para permitir que seres de outras dimensões entrem na nossa realidade. Discos voadores e luzes estranhas são frequentemente relatados nos céus quando o vento sopra mais forte, e muitos acreditam que esses fenômenos são diretamente ligados aos Ventos de Fora.
Além disso, esses ventos trazem entidades misteriosas para a ilha. Algumas pessoas relatam sentir a presença de figuras sombrias em suas casas ou nas praias desertas durante as noites de tempestade. Essas entidades, segundo os relatos, parecem observar os humanos em silêncio, como se estivessem estudando seu comportamento. Embora muitas vezes essas presenças sejam pacíficas, há sempre uma sensação de estranheza, como se algo incompreensível estivesse acontecendo.
Mas os Ventos de Fora também têm um lado simbólico para os moradores de Algodoal. Eles não trazem apenas perigo e mistério; trazem também mudanças, esperança e renovação. Ao mesmo tempo em que carregam as lembranças de tempos que não voltam mais, esses ventos também são vistos como mensageiros de um futuro que está por vir, trazendo novas possibilidades e transformações para a vida na ilha.
Seu Menys costumava dizer que o vento não apenas soprava sobre a ilha, mas também carregava com ele as memórias e as histórias de quem vive à beira do mar. Para ele, o vento era uma força viva, que conectava as gerações passadas com as presentes, mantendo vivas as tradições e os saberes dos pescadores. Ele acreditava que os Ventos de Fora eram, de alguma forma, cronistas dessas vidas e dessas memórias, que sempre voltavam à ilha, trazendo consigo novos desafios e ensinamentos.
Assim, para os moradores de Algodoal, os Ventos de Fora são muito mais do que rajadas de vento forte. Eles são um símbolo de transformação e continuidade, um lembrete de que o mar, o céu e a própria vida estão em constante movimento, sempre em mudança. Quando o vento finalmente se acalma, o mar volta à sua tranquilidade, e os pescadores retornam ao seu trabalho, sabendo que, de alguma forma, algo mudou. E que, assim como o vento, as histórias e as memórias da ilha continuarão a ser contadas, atravessando gerações, levadas por esses ventos misteriosos.
FIM
© Copyright de Britto, 2021 – Pocket Zine
Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0663


