Nº 0661 - VALE ENCANTADO DOS TURÚS - COORDENADA GEOGRÁFICA 62 - CARTOGRAFIA DO IMAGINÁRIO POPULAR DE MAYANDEUA


TEATRO POPULAR 


Cenário: Um manguezal, com um tronco de madeira apodrecida e uma árvore jovem. Luzes coloridas e sons da natureza.

Personagens: Turus (um grupo de 6 atores com roupas e máscaras de moluscos), Árvore (uma atriz com roupa e maquiagem verde), Narrador (um ator com roupa neutra).

Narrador: No mangue tinha um tronco de madeira que era casa de turus. Os turus eram bichos que comiam madeira com os dentes na cabeça. Eles gostavam de morar no tronco podre porque era macio e quentinho. Eles não ligavam para a beleza da madeira porque ela era só comida para eles.

(Turus entram em cena, fazendo movimentos sincronizados e emitindo sons de roer e mastigar. Eles se aproximam do tronco e começam a perfurá-lo com as cabeças.)

Narrador: Perto do tronco tinha uma árvore nova que era bonita e verde. Ela era um mangue-vermelho que sabia viver no mangue. Ela tinha raízes que respiravam fora da água e folhas que jogavam fora o sal. Ela gostava de se ver no espelho da água porque ela era bonita e verde.

(Árvore entra em cena, fazendo movimentos graciosos e olhando para o público. Ela se posiciona ao lado do tronco e começa a balançar as folhas.)

Narrador: Um dia a árvore nova ouviu um barulho que vinha do tronco. Era um barulho de comer madeira que ela não gostava. Ela quis saber quem estava comendo madeira e perguntou:

Árvore: Quem está aí comendo madeira?

(Turus param de roer e olham para a árvore, surpresos.)

Turu 1: Somos nós, os turus.
Turu 2: Nós comemos madeira porque é bom.

Árvore: Como é que vocês comem madeira? A madeira é a coisa mais linda e importante de uma planta. Ela segura o corpo, os braços e as mãos. Ela guarda o sangue e a vida. Como é que vocês comem isso?

Turu 3: Nós não comemos isso.
Turu 4: Nós comemos só madeira.
Turu 5: É o nosso jeito de viver.
Turu 6: A madeira é o nosso pão e a nossa casa.
Turu 1: Nós não fazemos mal a ninguém.

Árvore: Mas vocês fazem mal à madeira. Vocês deixam ela fraca e furada, sem jeito nem graça. Vocês não gostam da natureza.

Turu 2: Nós gostamos da natureza.
Turu 3: Nós somos da natureza.
Turu 4: Nós somos bichos, como os caranguejos, os peixes e as aves.

Árvore: Mas vocês não podem comer outra coisa? Por que não comem mato, fruta ou bicho? Por que não deixam a madeira sossegada?

Turu 6: Porque nós somos turus.
Turu 1: E os turus comem madeira.
Turu 2: É assim que nós somos e sempre fomos.
Turu 3: Nós não podemos mudar.

(Árvore fica quieta um pouco. Ela tenta entender os turus, mas não entende. Ela achou que eles eram bichos bobos, que não viam a beleza e a importância da madeira. Ela teve dó do tronco de madeira podre, que tinha sido uma árvore como ela.)

Árvore: Eu tenho dó de vocês não verem a maravilha que é a madeira

(Turus ficam quietos um pouco. Eles tentam entender a árvore, mas não entendem. Eles acharam que ela era uma planta orgulhosa e vaidosa, que não via a diversidade e a realidade da natureza. Eles tiveram dó da árvore nova, que era verde e sem sabor.)

Turu 4: Eu tenho dó de você não verem a diversidade que é a natureza.
(Eles se despedem e se afastam)
 
Narrador: E assim eles se despediram, cada um seguindo as suas sinas. Essa história nos ensina que devemos respeitar as diferenças entre os seres vivos, e que cada um tem o seu papel na natureza. Não podemos julgar os outros pela nossa visão, mas tentar entender o seu modo de viver. 

A natureza é rica e diversa, e todos fazem parte dela.

FIM
 © Copyright de Britto, 2020 – Pocket Zine
Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0661

 

Mensagens populares