* Nº 0645 - MAR DE MAYA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA

 


Mayandeua, ilha aninhada no coração do oceano, vive ao ritmo do mar. Não apenas como uma paisagem, mas como uma força pulsante, uma presença constante que molda o tempo, a memória e os caminhos da comunidade que a chama de lar.  Ao primeiro suspiro da manhã, quando o céu ainda sonha em tons de azul, o mar já desperta, pronto para sua eterna dança com os pescadores. Redes são lançadas e barcos deslizam suavemente pelas águas salgadas, enquanto a brisa traz consigo histórias sussurradas pelos ventos distantes. Não são apenas os peixes que eles procuram; há uma comunhão silenciosa entre o homem e o oceano, um acordo tácito firmado em gerações.  

Há lugares em Mayandeua onde o mar e o divino se encontram. Pedras antigas que seguram orações, manguezais que parecem portais para outros mundos, e enseadas onde o murmúrio das ondas soa como cânticos. Esses espaços, sagrados para os moradores, guardam histórias dos antepassados. Os passos dos pescadores nas areias carregam o peso de mitos e lendas, cada pegada um elo com o passado.  Quando o sol começa sua descida, a ilha inteira parece segurar a respiração. O mar, então, se transforma. As águas refletem uma explosão de cores — dourado, laranja, rosa — enquanto os barcos retornam carregados não apenas de frutos do trabalho, mas de novas histórias. É um momento de pausa. As crianças correm pela praia, os anciãos contemplam o horizonte, e a comunidade se reúne em silêncio, como se o crepúsculo fosse uma oferenda do mar a todos que o respeitam.  

Com a chegada da noite, o mar não descansa. Sob o manto estrelado, ele continua a contar suas histórias, mas agora de forma mais sutil. As ondas que beijam as margens carregam memórias de tempos longínquos. O farfalhar das folhas dos manguezais se torna uma conversa entre terra e água. Para aqueles que ouvem com atenção, é como se o próprio universo respirasse através do mar.  

Mayandeua não é apenas uma ilha; é uma guardiã, uma narradora que escreve sua história nas redes dos pescadores, nas preces à beira-mar, e nos olhos fixos que se perdem no horizonte. Aqui, o mar não é apenas um elemento físico. É um espírito que conecta o material e o espiritual, o presente e o passado, em uma dança eterna.  

E assim, com cada nova maré, Mayandeua continua a contar suas histórias. Cada onda traz a promessa de uma nova jornada, um novo começo.  

E amanhã, como sempre, a maré crescerá novamente.  


FIM

© Copyright de Britto, 2020 – Pocket Zine

Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0645



Mensagens populares