* Nº 0628 - OS ELFOS DE MAYA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 




No coração da ilha de Mayandeua, onde os manguezais se estendem como um tapete escuro sobre águas salgadas e lamacentas, vivem os Elfos de Maya. Eles são seres etéreos, quase invisíveis para os olhos humanos, mas cuja presença é sentida em cada sopro do vento, em cada som que ecoa pelas noites enluaradas. Dizem que esses elfos habitam os manguezais há séculos, guardando os segredos  da ilha e mantendo o equilíbrio frágil entre a terra e o mar. Os Elfos de Maya  costumam sair sempre no final da tarde, quando começa  o véu da escuridão a cobrir a ilha e as estrelas brilham como pequenas lanternas no céu. Durante o dia, eles se escondem nas raízes retorcidas dos mangueiros ou nos ocos das pedras dos furos, protegidos pela penumbra e pelo silêncio. Mas, assim que a lua surge, eles emergem, movendo-se com graça e leveza, como folhas levadas pelo vento.

Seu trabalho é delicado e essencial: eles direcionam as sementes dos mangueiros por toda a costa da ilha. Com mãos tão finas que parecem feitas de névoa, eles recolhem as sementes flutuantes e as guiam até os lugares onde devem brotar. Alguns dizem que eles usam cantos suaves para chamar as marés, pedindo que as águas carreguem as sementes até os locais certos. Outros juram que seus dedos emanam uma luz tênue que atrai os peixes e crustáceos, ajudando a fertilizar o solo antes da chegada das novas plantas.

Eles não trabalham sozinhos. Ao som de pássaros  noturnos os Elfos de Maya entoam canções que parecem vir do próprio coração da floresta. Essas melodias são hipnóticas, capazes de acalmar até os espíritos mais inquietos. Os pássaros respondem aos seus cantos, criando uma sinfonia natural que ressoa pelos manguezais durante toda a noite. É como se a própria ilha respirasse ao ritmo dessas vozes. Além de cuidar das sementes, os Elfos de Maya têm outra missão sagrada: proteger as flores dos mangueiros. Essas flores, pequenas e discretas, são consideradas joias vivas pelos elfos. Eles as nutrem com orvalho colhido ao amanhecer e as envolvem em teias de energia invisível, garantindo que continuem a florescer mesmo nos períodos mais secos. Dizem que quem encontrar uma flor de mangueiro sob os cuidados de um elfo será abençoado com sorte e sabedoria.

Mas o maior mistério dos Elfos de Maya está em sua capacidade de transformação. Quando necessário, eles podem assumir formas animais, tornando-se parte da própria natureza que protegem. Frequentemente, eles escolhem se transformar em pequenas corujas, cujos olhos grandes e redondos brilham como lanternas na escuridão. Essas corujas vigiam os manguezais, alertando os outros elfos sobre qualquer ameaça. Em outras ocasiões, eles adotam a forma de mucuras, pequenos marsupiais noturnos que se movem silenciosamente entre as raízes e galhos, espalhando magia enquanto caminham.

Há uma narrativa antiga que diz que os Elfos de Maya surgiram de uma aliança entre a terra e o mar. Conta-se que, em tempos remotos, a ilha estava prestes a ser engolida pelas marés crescentes. Foi então que os espíritos da floresta e do oceano se uniram para criar os elfos, seres que pudessem viver tanto na terra quanto na água e manter o equilíbrio entre os dois mundos. Desde então, eles têm sido um dos muitos  guardiões de Mayandeua, zelando para que a ilha nunca perca sua beleza e vitalidade. Mas nem tudo é harmonia. Há rumores de que, em noites de tempestade, quando o vento uiva e as ondas invadem os manguezais, os Elfos de Maya enfrentam batalhas contra forças sombrias que tentam perturbar o equilíbrio da ilha. Nessas ocasiões, suas vozes se elevam em cânticos poderosos, e suas formas animais se multiplicam, formando exércitos de peixes e crustáceos que lutam bravamente contra as trevas.

E assim, os Elfos de Maya continuam seu trabalho silencioso, tecendo a magia que mantém a ilha viva. Embora poucos consigam vê-los, todos sabem que estão lá, cuidando da terra, das águas e das flores, enquanto cantam ao som dos pássaros e se transformam em corujas e mucuras para proteger o que amam. Mayandeua, graças a eles, permanece um lugar de mistérios e maravilhas, onde o mundo visível e o invisível se encontram em perfeita harmonia.

- Assim narrou Primolius!


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0628

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