Nº 0545 - LIÇÕES DA SRA. MAYANDEUA - CONTO




A cidade estava praticamente parada naquele sábado. O cinema captava a visão dos transeuntes que, aos poucos, reclamavam de suas vidas escandalosas e cheias de sentimentos de esquinas. Assim, as filas e a chuva fina evidenciavam a cidade com suas luzes, que chegavam com a luz da noite fria e escandalosa, como o minuano cinzento por entre as ventas dos alinhados por fora e oscilantes por dentro. As pessoas caminhavam em seus circuitos de trânsito modernos e neuróticos. No entanto, todos estavam concentrados no que iriam fazer nos próximos sessenta minutos. Atrás da neblina, as horas passavam e talvez a lua estivesse em algum lugar, à espera de um olhar romântico. As luzes ardiam os olhos dos casais que mal conseguiam segurar suas próprias mãos. No termômetro dessa fiação de sentimentos oculares de celulares impróprios para sentimentos.

Nessa visão distraída de praças esquecidas, encontraremos Irineu, que caminhava na mesma fila com sua namorada de vinte e dois adornos de prata. Eles eram apenas mais dois entre as miríades de pessoas que, na busca incessante por distrações, perdiam-se em um turbilhão de entretenimento e futilidades. O cinema, um refúgio temporário da realidade, não escapava da crítica mordaz que a vida moderna merecia. A sociedade parecia embriagada por uma cultura superficial, presa nas garras do consumo desenfreado e da superficialidade das relações. O cenário urbano, com sua agitação frenética, servia apenas como um espelho da pressa e da alienação que dominavam a existência de todos. Irineu e sua namorada, como tantos outros, estavam cegos para a verdadeira beleza que a vida poderia oferecer.

O que muitos pensavam estar seguindo, na verdade, era um caminho previsível e estreito, um roteiro pré-estabelecido que não permitia o florescimento do indivíduo. Eles precisavam olhar para além das luzes artificiais e das telas brilhantes, encontrando coragem para confrontar a realidade que muitos preferiam ignorar. Era hora de redescobrir o poder das palavras líquidas, da comunicação genuína e da busca por um significado mais profundo na vida. E assim começa o filme: A Sra. Mayandeua, uma sábia anciã de uma comunidade, apareceu no horizonte de uma tela cinematográfica nesta narrativa urbana. Ela era uma mulher que tinha navegado pelos mares da vida e encontrado a verdadeira liberdade nas águas vastas e imprevisíveis. Ela compartilhou suas experiências e ensinamentos com Primolius, um jovem que também estava perdido na agitação da cidade. A Sra. Mayandeua explicou que o encontro do mar e da liberdade não pode ser comprado, mas deve ser buscado com intenção e determinação. O preço da natureza e do sabor do vento era a desconstrução do imaginário tecnológico moderno, a rejeição das distrações eletrônicas em favor de uma reconexão com a natureza e a verdadeira liberdade. Para experimentar essa jornada, a Sra. Mayandeua enfatizou a importância de despertar cedo, escolher o local certo à beira da água, desligar dispositivos, respirar profundamente, observar com gratidão, silenciar a mente e compartilhar a experiência com os outros.

Primolius, inspirado por essas lições, deparou-se com a verdade de que o preço de um suspiro pela manhã, ao ver o sol nascendo entre as águas, era, na verdade, um investimento em sua alma e bem-estar. A experiência de testemunhar o nascer do sol sobre as águas trouxe uma profunda apreciação pela natureza e uma sensação de liberdade que nenhum dispositivo tecnológico poderia igualar.

A Sra. Mayandeua mostrou a todos que a verdadeira riqueza reside na simplicidade da natureza e na capacidade de apreciá-la plenamente. Sua história, compartilhada com Primolius, continua a inspirar outros a desconstruir o imaginário tecnológico moderno e buscar a beleza da liberdade nas águas do mar, lembrando a todos que a natureza é o verdadeiro tesouro que devemos preservar e valorizar. 

- E assim na mesma semana o casal resolveu sair da cidade e morar nas águas de Fortalezinha em Mayandeua.   

- Vida que segue!


FIM

Copyright de Britto, 2022

Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0545



Mensagens populares