*Nº 0111 - OS TAMANCOS DA NOSTALGIA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Em um passado há muito tempo encerrado, que agora existe apenas nas páginas empoeiradas da memória, havia uma peculiaridade distante da moda dos dias atuais: os tamancos. O que torna essa história ainda mais intrigante é o fato de que eram os homens que se orgulhavam de calçá-los. Os tamancos eram verdadeiros tesouros nos guarda-roupas e nas sapateiras dos avós e tios. Eram, acima de tudo, um fragmento do passado, uma lembrança da juventude deles, em uma época em que os tamancos eram uma escolha de calçado bastante comum nas feiras abertas e nas ruas de nossas vidas. Suas solas rígidas e partes superiores de couro ou plástico evocavam uma época que já se foi. Ao caminhar com eles, os tamancos emitiam um som peculiar, como se a cada passo uma pequena orquestra de batidas "rastejadas" ecoasse pelo chão. Era o som da nostalgia, ressoando pelas ruas, calçadas e estradas de chão de barro ou piçarreiras, trazendo à tona memórias de dias mais simples, quando a vida fluía em um ritmo tranquilo.
Os homens que usavam tamancos pareciam carregar consigo uma luz de tranquilidade, lembrando que o tempo passa, mas certas tradições e preferências nunca morrem em suas lembranças. Em algum lugar desta Amazônia, neste novo século de informações expressas, lá estavam dois senhores, exibindo uma elegância não apenas na forma como os tamancos se encaixavam em seus pés, mas também em seus cabelos brancos e rugas profundas. Eles não se importavam com as tendências da moda ou com os olhares curiosos das gerações mais jovens. Ao contrário, exibiam seus tamancos com orgulho, como se estivessem desfilando na passarela da nostalgia.
Aquela cena fez com que os tamancos se tornassem mais do que simples calçados; eram guardiões de histórias, vestígios de um tempo que muitos de nós mal conseguimos imaginar. E, de alguma forma, ao usá-los, esses homens com setenta anos ou mais se conectavam a um passado que, embora distante, permanecia vivo em suas memórias. Atualmente, os tamancos dos avós e tios podem estar guardados em algum canto esquecido de muitas casas, esperando por um ressurgimento que talvez nunca chegue. Mas a história dos homens mais velhos usando tamancos é um lembrete de que a moda é fugaz, enquanto a nostalgia é eterna. Quem sabe, um dia os tamancos encontrem seu caminho de volta para os guarda-roupas e os corações de uma geração futura, recontando a história de um tempo em que era possível fazer barulho ao caminhar, sem pressa, pelas ruas da vida.
As batidas "rastejadas" dos tamancos ainda ecoam na memória, lembrando-nos que, mesmo em um mundo em constante mudança, certas lembranças e tradições permanecem intocadas. A elegância simples e a tranquilidade dos homens que calçavam tamancos são símbolos de uma era em que a vida era vivida com mais calma, onde cada passo era uma conexão com a terra e com as histórias que ela contava.
E assim, como testemunhas do tempo, os tamancos e seus antigos usuários nos ensinam a valorizar o que realmente importa: as memórias, as tradições e as histórias que carregamos conosco. Talvez, um dia, ao redescobrirmos esses velhos tamancos, possamos ouvir novamente a música suave de suas batidas "rastejadas", ecoando pela eternidade da memória.
- Sons que ecoam...
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0111