* Nº 0478 - RE(CANTOS) DE MAR - SÉRIE: CONTO FANTÁSTICO DE MAYANDEUA

 

Havia uma terra envolta em um mistério profundo, onde os ventos do norte dançavam como entidades vivas, trazendo consigo uma melodia ancestral que falava diretamente às almas daqueles que ousavam escutá-la. Nesse lugar mágico, os ventos não eram meras correntes de ar, mas portadores de histórias esquecidas, carregando ecos de amores perdidos, canções de sereias que enfeitiçavam corações e os lamentos tristes de baleias que vagavam pelo oceano infinito.

Nessa terra vivia Ryesther, um homem solitário cujo destino parecia entrelaçado aos ventos do norte. Desde criança, os ventos o seduziram com suas canções e promessas. Foi através deles que ele perdeu sua família para o mar, deixando-o órfão e com um desejo ardente de compreender os mistérios que os ventos escondiam. Eles sussurravam segredos que só ele podia ouvir, incentivando-o a navegar por mares traiçoeiros, sempre na esperança de que a próxima onda o levasse ao reencontro com seus entes queridos.

Seu barco, uma pequena embarcação adornada com runas antigas, era seu único companheiro fiel. Ele o conduzia pelas águas insondáveis, enfrentando tempestades e nevoeiros que pareciam vivos, moldados pela própria vontade dos ventos. À noite, as sereias cantavam para ele, suas vozes doces como mel, mas Ryesther não cedia às tentações. Ele sabia que sua missão era maior do que qualquer encantamento.

Quando as noites eram tranquilas, os lamentos das baleias ecoavam pelo mar, como se entendessem sua dor e compartilhassem sua saudade. O mar se tornava uma extensão de sua alma, e cada cheiro de sal e alga parecia narrar um fragmento da história que ele buscava. Os ventos do norte, com sua força indomável, o guiavam, prometendo respostas no horizonte.

Após décadas de busca, envelhecido mas determinado, Ryesther chegou ao lugar onde os ventos do norte nasciam. Era um cenário de tirar o fôlego: águas cristalinas refletiam o céu estrelado, enquanto uma corrente de ar parecia dançar sobre as ondas. Lá, ele sentiu a presença de sua família como nunca antes, não em carne, mas no amor e nas memórias que ele guardava em seu coração.

No auge da serenidade, ele entendeu que a resposta nunca esteve em encontrar sua família fisicamente, mas em aceitar que eles sempre estiveram com ele, em espírito. Em um ato final de entrega, Ryesther se fundiu ao vento e ao mar, deixando para trás sua forma terrena e ascendendo ao mesmo plano espiritual de seus entes queridos. Ao fazê-lo, as baleias cantaram uma última melodia, doce e eterna, como um adeus e um acolhimento.

Ryesther tornou-se parte do vento, do oceano e das histórias que ele tanto amou, transformando-se em uma lenda viva, um espírito que agora guia outros que ousam escutar os ventos do norte. 

Naquele canto do mundo, sua história ainda é contada como um lembrete de que o amor, mesmo perdido, jamais deixa de existir.

-  Descanse em paz!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0478




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