* Nº 0483 - CAFÉ MARIA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Nas margens tranquilas do rio, a vida seguia seu curso, e a rotina de um povoado ribeirinho era marcada por tradições calorosas e hospitalidade generosa. Era uma manhã de sol radiante, e a notícia da visita iminente se espalhara rapidamente entre as casas à beira d'água.
O cheiro do café recém preparado, conhecido carinhosamente como "café Maria", permeava o ar. Era o sinal de boas-vindas para o visitante que já se aproximava. A pressa de receber o amigo era contrastada com a calma da paisagem ao redor, onde a natureza reinava soberana. O jovem moleque, que já conhecia bem a tradição, correu até a porta e lançou um grito animado: "A visita já chegou!". Era um momento aguardado, a oportunidade de compartilhar histórias e lembranças. O visitante, por sua vez, sentia-se honrado por ter sido batizado naquela comunidade, um gesto de integração e reconhecimento de sua parte naquela família ribeirinha.
Enquanto as saudações e abraços eram trocados, as preparações para a refeição iam adiante. Um galo foi escolhido para compor o almoço festivo. O cozido, com macaxeira, urucum, pimenta-de-cheiro e outros temperos locais, começou a tomar forma na cozinha simples, onde a habilidade do anfitrião brilhava. Ele se esforçava para impressionar o visitante, oferecendo-lhe sempre o melhor da culinária regional.
Nas mãos de outro agregado, um chega com uma fieira de peixes traíra, com o mesmo intuito de agradar à visita. Ele também trouxe pupunha, sabendo que a visita gostava de presentear com sabores típicos da região na sua urbe. Era uma tradição local, demonstrar carinho e respeito por meio de ofertas que representavam a generosidade daquele povo. Enquanto as ofertas de peixe traíra e pupunha eram recebidas com alegria e gratidão, um terceiro morador da comunidade chegou com uma meia lata de farinha e beiju, complementando a refeição que estava sendo preparada. Era evidente que todos queriam dar as boas-vindas à visita de maneira especial, e a oferta de alimentos era uma forma de compartilhar o que tinham de melhor.
No entanto, o moço que hospedava a visita começava a sentir uma leve preocupação. Ele observou a generosidade da comunidade, com todos trazendo presentes e ofertas culinárias. Com humildade, ele olhou para o amigo e disse: "Olha, estou sendo muito bem tratado aqui, mas não quero me acostumar mal com tanta generosidade." Foi uma observação tímida, mas sincera, que mostrou o apreço que ele tinha por suas raízes e a importância de manter os valores simples e a gratidão, mesmo diante da generosidade abundante da comunidade. A visita sorriu, entendendo o sentimento do anfitrião, e eles continuaram a compartilhar histórias e lembranças, apreciando a refeição e a camaradagem que aquela visita especial trazia para aquele canto tranquilo da Amazônia.
À medida que o dia cedia lugar à noite, a atmosfera se transformava. A sala modesta da casa era iluminada apenas pelos candeeiros e lamparinas, criando uma luz suave e acolhedora. Era o momento perfeito para contar histórias de visagens, lendas que ganhavam vida na penumbra da noite. Os moradores da comunidade se reuniram ao redor, com olhos atentos e corações abertos para as histórias que seriam compartilhadas. As histórias de visagens, seres misteriosos que habitam as margens do rio e a densa floresta, eram passadas, e cada narrador acrescentava seu próprio toque de magia e suspense.
Naquele ambiente aconchegante e cheio de expectativa, as histórias ganhavam vida, e as imaginações se perdiam nos encantos e mistérios. Enquanto o fogo crepitava e as sombras dançavam nas paredes, as histórias de visagens transportavam todos para um mundo de maravilhas e respeito pela natureza que os cercava. E assim, sob a luz suave dos candeeiros e lamparinas, a visita teve a chance de experimentar não apenas a hospitalidade calorosa da comunidade ribeirinha, mas também a riqueza das tradições culturais e das lendas que fazem de um lugar verdadeiramente mágico. Era uma noite para lembrar, uma celebração da rica herança que sempre permeiam as mais humildes casas deste pedaço de mundo.
- E o poeta dormiu ao som das Matintas que estavam lá dentro da mata!
- Vida verde por aqui!
FIM
Copyright de Britto, 2022
Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0483


