* Nº 0299 - O MENINO DAS MANGABAS - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA
Em Camboinha, vivia um jovem de coração simples, mas espírito inquieto. Seus dias eram passados caminhando descalço pelas praias de areia fina, sentindo a frescura do mar acariciar seus pés enquanto observava os barcos dos pescadores balançarem ao ritmo das ondas no azul profundo. A natureza era sua fiel companheira, um refúgio para quem, embora não tivesse muitos amigos, encontrava nos elementos naturais a verdadeira essência da vida.
Foi nessa convivência íntima com o mundo ao seu redor que ele começou a prestar atenção aos detalhes da paisagem. Os sons das aves marinhas, o aroma salgado do vento, o vaivém da maré – tudo parecia parte de um ciclo perfeito, harmônico e misterioso. Mas foi numa manhã que algo especial chamou sua atenção. Enquanto explorava o mato próximo à praia, ele se deparou com uma árvore distinta: uma robusta mangabeira erguia-se imponente, como um segredo da natureza aguardando ser revelado. Seus frutos verdes e redondos reluziam sob a luz do sol, parecendo pequenas joias escondidas entre as folhas.
Intrigado, o jovem colheu um dos frutos. Era duro ao toque e exalava um aroma forte, quase enigmático. Ao mostrá-lo à mãe, descobriu tratar-se de uma mangaba, uma fruta deliciosa, mas que precisava de paciência para ser apreciada. Seguindo os conselhos dela, mergulhou o fruto em água para amolecer sua goma. No dia seguinte, ficou encantado ao ver a transformação: o fruto agora exibia um tom amarelo vibrante, estava macio ao toque e emanava um aroma doce e irresistível. Quando finalmente provou, seu paladar foi envolvido por um sabor delicado e refrescante. Desde então, ele retornava regularmente à mangabeira, colhendo mais frutos e aguardando ansiosamente pelo momento de saborear aquele presente da natureza.
No entanto, com o passar do tempo, a mangabeira foi ficando vazia, e o jovem aprendeu a respeitar o ritmo lento da natureza, esperando pacientemente que os galhos voltassem a se encher. Certo dia, ao retornar à árvore, ele a encontrou em pleno florescimento. Pequenas flores decoravam sua copa, espalhando um perfume delicado pelo ar. Resolveu subir. Ao subir, bem no último "degrau" da copa, viu algo incomum: entre as folhas, quase oculto, havia uma pequena janela de folhas diferentes, como se sempre tivesse estado ali, mas apenas agora fosse visível aos seus olhos.
Movido pela curiosidade, o jovem abriu a janela e, num piscar de olhos, foi transportado para um mundo completamente diferente. Era o Reino das Mangabas, um lugar onde tudo – desde as casas até as montanhas – era feito da fruta que tanto amava. O cheiro doce da mangaba impregnava o ar, e o jovem ficou maravilhado ao ver um rio de suco dourado correndo entre colinas reluzentes. Árvores altíssimas ostentavam mangabas de todas as cores e tamanhos, e ao longe podia-se ouvir risos e músicas que lembravam o ritmo contagiante do carimbó.
Antes que pudesse compreender totalmente o que estava acontecendo, uma figura peculiar aproximou-se. Era um ser com braços e pernas feitos de mangaba, que o saudou com um sorriso caloroso: "Bem-vindo ao Reino das Mangabas," disse a criatura, cuja voz era tão doce quanto o suco da fruta. "Você é o primeiro humano a nos visitar em séculos. Foi escolhido porque ama nossa fruta e cuida de nossa árvore sagrada com tanto zelo. Nós, guardiões das mangabas, estávamos esperando por você."
O jovem sentiu um misto de espanto e gratidão. Ele havia descoberto um segredo ancestral, escondido no coração da natureza – um reino mágico onde as mangabeiras não apenas floresciam livremente, mas também guardavam histórias e mistérios profundos. Os guardiões o levaram em uma jornada por maravilhas inimagináveis. Ele passeou por florestas onde os frutos flutuavam no ar, visitou parques de diversões feitos inteiramente de mangaba e nadou em um lago cujas águas tinham o sabor fresco da fruta.
Os guardiões explicaram que a mangabeira era mais do que uma árvore; ela era uma ponte entre dois mundos – o mundo dos humanos e o reino mágico. Sua missão era proteger essa árvore sagrada, impedindo que fosse destruída pela ganância ou negligência. Eles pediram ao jovem que se tornasse um defensor das mangabas, ajudando a preservar sua existência e garantindo que nunca fosse esquecida ou explorada.
Comovido pela confiança depositada nele, o jovem prometeu manter o segredo do Reino das Mangabas e proteger a árvore com todo o seu coração. Embora visitasse o reino mágico sempre que possível, ele nunca se esqueceu de sua vida na praia de Camboinha. Sabia que seu lugar era ali, entre o mar, o céu e a areia, mas agora via o mundo com novos olhos. Entendia que, escondidos nas belezas naturais que muitos ignoravam, havia segredos e magias esperando para serem descobertos.
Assim, o menino das mangabas viveu com o coração dividido entre dois mundos: o real, onde crescera e amava profundamente, e o mágico, que lhe revelara os segredos mais doces da natureza. Com esse conhecimento, ele dedicou sua vida a proteger o meio ambiente, sabendo que, além das portas da realidade, o Reino das Mangabas continuaria a existir, aguardando o momento de revelar suas maravilhas a quem fosse digno de encontrá-lo.
Moral da história: A natureza guarda segredos e magias que só podem ser revelados por aqueles que a amam e a respeitam.
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0299