DA PROA PARA O CURRAL Nº 0309 - CONTO

 




Ustiesto era um tatuzinho diferente dos outros. Ele era o rei de uma colônia de cracas que vivia na proa de um navio mercante que cruzava os oceanos. Ele tinha uma carapaça maior e mais brilhante do que as dos seus súditos, e se orgulhava de ser o líder daquela comunidade. Ele gostava de dar ordens, fazer discursos e receber homenagens. Ele se achava o dono do navio e do mar.

Um dia, porém, ele teve uma surpresa desagradável. O navio em que ele vivia foi atingido por uma forte tempestade, que balançou a embarcação de um lado para o outro. Ustiesto se segurou com força na sua placa de madeira, mas não foi suficiente. Uma onda gigante arrancou a placa com ele junto e o lançou no mar revolto.

Ustiesto ficou desesperado. Ele nunca tinha saído do seu lugar antes. Ele não sabia nadar nem se orientar naquela imensidão azul. Ele sentiu medo dos predadores que podiam devorá-lo a qualquer momento. Ele sentiu saudade dos seus amigos e parentes que ficaram no navio. Ele sentiu raiva do destino que o tirou do seu trono.

Ele ficou à deriva por vários dias, sem comer nem beber, esperando a morte chegar. Mas ela não chegou. Em vez disso, ele chegou a uma ilha desconhecida, onde foi arrastado pela correnteza até uma praia de areia branca. Lá, ele viu uma paisagem diferente de tudo o que ele já tinha visto: um mar calmo e transparente, uma floresta verde e exuberante, uma montanha alta e imponente.

Ele também viu outras criaturas que ele nunca tinha visto: peixes coloridos, pássaros cantores, macacos saltadores, tartarugas lentas… E entre elas, ele viu um animal estranho que tinha um chifre na cabeça e um arco-íris na cauda. Era Uiresper, o unicórnio viajante que tinha ido ao Vale da Princesa para visitar seu amigo André Nalina, o siri curioso.

Ustiesto se aproximou de Uiresper e disse:

— Olá, quem é você?

Ustiesto se assustou com a voz do unicórnio, mas logo se recompôs. Ele lembrou que ele era um rei e que devia ser respeitado por qualquer ser vivo. Ele respondeu com arrogância:

— Olá, eu sou Ustiesto, o rei das cracas. E você?

— Eu sou Uiresper, um unicórnio. Você é muito estranho, Ustiesto. De onde você vem?

— Eu venho de um navio mercante, onde eu governava uma colônia de cracas. Mas eu fui arrancado do meu lugar por uma tempestade e vim parar aqui.

— Que pena! Você deve estar muito triste…

— Não estou triste. Estou furioso! Eu quero voltar para o meu navio e recuperar o meu trono!

— Mas como você vai fazer isso? Você não sabe nadar nem se orientar no mar…

— Eu não sei… Mas eu vou encontrar um jeito! Eu sou o rei das cracas! Eu posso tudo!

— Bom, eu não quero te desanimar, mas eu acho que você não pode tudo. Você é apenas um tatuzinho que se agarra nas coisas e filtra a água. Você não tem poder nenhum sobre o mar ou sobre os outros animais.

— Como você ousa falar assim comigo? Você não sabe com quem está falando! Eu sou o rei das cracas! Eu exijo respeito!

— Respeito se conquista, não se exige. Você não é rei de nada aqui. Você é apenas um visitante, como eu. E se você quiser ficar bem, você precisa ser humilde e aprender com os que vivem aqui.

— Humilde? Aprender? Eu não preciso disso! Eu já sei tudo o que eu preciso saber! Eu sou o rei das cracas!

— Tudo bem, então. Fique aí com a sua arrogância e a sua ignorância. Eu vou embora. Adeus, Ustiesto.

Após a conversa com Uiresper, Ustiesto continua suas viagens e explorando novos lugares. No entanto, o destino lhe prepara uma reviravolta inesperada. Em uma de suas jornadas, uma tempestade violenta surge repentinamente. Apesar de sua força e tamanho, Ustiesto é atingido pelas águas furiosas da chuva e é arrastado para o mar.

Desta vez, o tatuzinho se vê em uma situação semelhante àquela enfrentada por Uiresper. Ele é jogado nas ondas turbulentas e se agarra a um pedaço de isopor que faz parte de uma velha rede flutuante. Por horas, Ustiesto fica à deriva, lutando contra as águas agitadas enquanto tenta manter-se seguro no pequeno pedaço de isopor.

Finalmente, após um longo período de incerteza, a correnteza leva Ustiesto até um antigo curral de pesca abandonado. Embora tenha inicialmente se comportado com arrogância e desrespeito em relação às colônias de criaturas que habitavam o curral, a difícil experiência que ele passou o leva a uma mudança de perspectiva. Preso no curral, sem uma maneira óbvia de escapar, ele percebe a importância de considerar os outros e respeitar seu espaço.

Com o tempo, Ustiesto começa a interagir de maneira mais amigável com as outras colônias que vivem no curral. Ele aprende sobre suas histórias, suas lutas e suas formas de sobreviver no ambiente hostil. Ustiesto passa a colaborar e compartilhar conhecimentos, aprendendo lições valiosas de humildade e empatia.

Frustrado por sua condição de aprisionado, Ustiesto decide utilizar suas habilidades e criatividade para construir uma pequena embarcação improvisada. Com paciência e determinação, ele reúne materiais que encontra no curral e, aos poucos, constrói um barco que possa flutuar novamente na água.

Quando a embarcação está finalmente pronta, Ustiesto se prepara para partir. Movido pela busca de seu reino perdido e inspirado pela nova mentalidade que desenvolveu, ele se lança ao mar com coragem e determinação. Durante sua jornada, ele encontra desafios e dificuldades, mas sua disposição de aprender e se adaptar o ajuda a superá-los.

Enquanto navega pelos oceanos, Ustiesto reflete sobre a jornada que o levou a mudar sua maneira de ser. Ele percebe que a humildade, o respeito e a disposição de aprender são qualidades que podem guiá-lo não apenas em suas viagens, mas também em sua interação com o mundo ao seu redor.

E assim, Ustiesto, o tatuzinho viajante, continua sua jornada, não apenas em busca de seu reino perdido, mas também em busca de autodescoberta, crescimento pessoal e conexões significativas com os outros seres que compartilham o vasto e diversificado mundo em que vivem.

- Será que ele conseguirá mudar? Só o tempo irá dizer.... 

Dizem  que ele reside em uma embarcação antiga, lá para os lados de Algodoal.    

Primolius avisa que irá fazer uma visita para ele.....

-  Vamos esperar!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0309


 

  




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