* Nº 0309 - O PEQUENO REI E O GRANDE OCEANO - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA

 



Ustiesto era um pequeno tatuzinho, mas não qualquer um. Ele ostentava uma carapaça brilhante e imponente, e reinava sobre uma colônia de cracas que habitava a proa de um antigo navio mercante. Orgulhoso, ele adorava comandar, dar discursos elaborados e receber elogios de seus súditos. Em sua visão, ele não era apenas o rei das cracas — era também o soberano do navio e, quem sabe, do próprio mar.

Porém, a vida do "rei" tomou um rumo inesperado. Uma tempestade colossal abateu-se sobre o navio, balançando-o violentamente. Ustiesto, acostumado à segurança de sua placa de madeira, foi arrancado dela por uma onda impiedosa e lançado no vasto oceano. O pequeno tatuzinho, que nunca havia saído de seu lugar, viu-se sozinho em um mundo que lhe era completamente estranho.

Ele ficou à deriva por dias, com medo dos predadores e sentindo saudades de sua colônia. Sua arrogância deu lugar à angústia, e ele se perguntou se aquele seria o seu fim. Mas o destino tinha outros planos. As correntes o levaram até uma ilha distante, onde foi depositado em uma praia de areia brilhante, cercada por águas tranquilas e vegetação exuberante de mangueiros.

Na ilha, Ustiesto encontrou um mundo completamente novo. Ele viu peixes coloridos, tartarugas descansando ao sol e até mesmo uma criatura magnífica: Uiresper, o unicórnio viajante, conhecido por explorar terras e mares distantes. A interação com Uiresper foi um choque para o pequeno tatuzinho. Ao invés de reverência, ele encontrou desafio. O unicórnio lhe disse verdades amargas: Ustiesto não era o rei de nada ali. Ele precisava aprender humildade e respeitar aqueles que compartilhavam aquele ambiente.

Ustiesto, teimoso, ignorou o conselho e seguiu explorando a ilha com sua habitual arrogância. Mas a ilha também tinha lições a ensinar. Uma nova tempestade o apanhou e o arrastou para o mar novamente. Ele se agarrou a um pedaço de isopor de uma rede velha de pesca, ficando à deriva até ser levado a um curral de pesca abandonado. Lá, ele conheceu colônias de outras criaturas, que inicialmente o rejeitaram por sua atitude autoritária. Com o tempo, porém, a convivência e as dificuldades o forçaram a refletir. Ele começou a ouvir, colaborar e aprender com as histórias de seus novos companheiros.

Determinado a sair daquele lugar, Ustiesto usou sua criatividade para construir uma pequena embarcação improvisada com materiais do curral. Quando finalmente partiu, ele não era mais o mesmo. Sua jornada pelo oceano tornou-se uma busca por mais do que um reino perdido: tornou-se uma jornada de autodescoberta e transformação.

Agora, dizem que Ustiesto vive em uma embarcação antiga perto de Algodoal, onde é visitado por viajantes curiosos como Primolius, o papagaio aventureiro. Cada encontro é uma oportunidade para contar suas histórias e lembrar que, no vasto oceano, o respeito e a humildade valem mais do que qualquer trono.

Será que Ustiesto mudou de verdade? Somente o tempo dirá.

Moral da história: "A verdadeira grandeza não está em se impor sobre os outros, mas em aprender com o mundo ao seu redor. Arrogância pode nos afastar daqueles que podem nos ajudar, enquanto humildade e respeito nos guiam a novos caminhos e nos tornam mais fortes."


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0309


 

  




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