* Nº 0308 - CANTOS DO CORAÇÃO - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA

 





Nas margens serenas do Lago da Princesa, vivia um pequeno sapo chamado Anurilyus. Ele era conhecido por sua energia incansável e pela forma como saltava entre as plantas aquáticas, capturando insetos com precisão e entoando melodias que ecoavam pela noite. Seus coaxares eram parte da sinfonia natural do lago, uma harmonia que encantava todos os habitantes anfíbios das redondezas.

No entanto, havia algo que diferenciava Anurilyus dos outros sapos: ele sonhava em falar a língua dos humanos. Fascinado pelas conversas que ouvia dos visitantes ocasionais do lago, ele admirava a maneira como as palavras fluíam de seus lábios, carregadas de emoções, histórias e significados profundos. Para Anurilyus, a fala humana parecia ser a chave para um mundo maior, onde ele poderia expressar seus pensamentos e sentimentos de maneira mais clara e ser compreendido além de sua natureza.

Julho após julho, Anurilyus dedicava-se a tentar imitar os sons que ouvia. Saltava cada vez mais perto das margens, observando atentamente os humanos e praticando seus coaxares até que adquirissem um ritmo diferente, quase melódico. Ele queria transformar seu canto natural em algo que pudesse se assemelhar às palavras articuladas dos humanos. No entanto, seus esforços frequentemente causavam perplexidade — e até sustos — entre as pessoas que visitavam o lago. Alguns riam, outros se afastavam apressados, e muitos simplesmente ignoravam o pequeno sapo e seus sons estranhos. Apesar disso, Anurilyus não desistia. Ele continuava sua busca, movido pela esperança de transcender sua condição e alcançar algo maior.

Um dia chuvoso, enquanto Anurilyus praticava seus sons na beira do lago, uma risada suave ecoou entre os juncos próximos. Ele olhou ao redor, curioso, e viu emergir das águas uma figura graciosa: Gentylias, uma duende dos lagos. Seus cabelos verdes reluziam como musgo molhado, e seus olhos brilhavam com sabedoria ancestral. Ela sorriu para o sapinho e disse, com uma voz tão suave quanto o murmúrio das águas:

— Olá, pequeno sapo. Ouvi você tentando falar a língua dos humanos. É um desejo nobre, mas também cheio de desafios.

Anurilyus sentiu-se exposto, como se seus segredos mais íntimos tivessem sido revelados. Ele respondeu, hesitante:

— Sim, eu... quero falar como eles. Quero compartilhar meus pensamentos e entender suas histórias.

Gentylias assentiu, compreendendo a luta de Anurilyus. Com delicadeza, ela perguntou:

— Por que deseja tanto falar como os humanos? Você já possui uma língua única e melodiosa. Seus coaxares são parte de quem você é, uma expressão genuína de sua essência.

Anurilyus baixou os olhos, refletindo nas palavras da duende. Ele sempre havia admirado a fala humana, mas nunca havia considerado o valor de sua própria voz. Gentylias continuou:

— Cada ser tem sua maneira de se comunicar. Os humanos têm suas palavras, os ventos têm seus sussurros, e você, pequeno sapo, tem suas melodias. A verdadeira conexão não está apenas nas palavras, mas no coração de quem as ouve.

Com essas palavras, Anurilyus começou a enxergar sua jornada de forma diferente. Ele percebeu que sua busca por falar como os humanos era, na verdade, uma busca por aceitar a si mesmo. Seus coaxares, antes vistos como limitações, tornaram-se uma fonte de orgulho. Ele continuou praticando, mas agora com uma nova perspectiva: não para imitar os humanos, mas para aprimorar sua própria expressão.

Com o tempo, Anurilyus tornou-se conhecido como o melhor cantante de toda a região. Suas melodias, carregadas de emoção e autenticidade, ecoavam pelos lagos de Mayandeua, encantando não apenas os animais, mas também os humanos que ocasionalmente paravam para ouvir. Ele foi convidado para participar de reuniões em diferentes lagos, onde sua voz única tocava os corações de todos.

Sua amizade com Gentylias floresceu, e juntos eles compartilhavam sabedorias sobre a importância de abraçar quem somos. Anurilyus aprendeu que a comunicação vai muito além das palavras; é uma troca de essências, uma conexão que transcende barreiras.

Moral da História:  Cada ser tem sua própria voz e maneira de se expressar. Em vez de tentar imitar os outros, devemos valorizar nossa essência e descobrir a beleza única que há em nós. A verdadeira conexão não está nas palavras, mas no coração com que nos comunicamos.


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0308





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