* Nº 0313 - A DANÇA DAS PRATIQUEIRAS - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA



Nas águas vibrantes da maré, os peixes dançantes — conhecidos como pratiqueiras, ou mensageiras das profundezas — deslizavam ao ritmo dos ciclos oceânicos. Com a leveza de uma bailarina experiente, cortavam as ondas em movimentos fluidos e precisos. Sua trajetória era uma sinfonia de velocidade e graça, uma coreografia que encantava todos os que tinham o privilégio de testemunhar tal espetáculo. Os pescadores locais, maravilhados com a harmonia entre essas criaturas marinhas e os elementos naturais, viam nelas mais do que  peixes; acreditavam que eram emissárias divinas, enviadas pelos próprios guardiões do mar.

Em cada alvorecer, quando o sol tingia o horizonte, essas nadadoras incansáveis iniciavam sua jornada matinal. Moviam-se sobre as águas fazendo nuvens, piriricando por todos os cantos como raios de luz refletida, buscando o frescor de um novo dia. A maré, sempre misteriosa, guardava seus segredos, e aqueles que se entregavam à sua imensidão podiam sentir a magia dessas nadadeiras prateadas, símbolos vivos da união entre a natureza e a existência humana.

Neste cenário encontra-se a tradição ancestral dos pescadores de Mayandeua. Em suas canoas coloridas, eles navegam pelas águas cristalinas, buscando a abundância que o oceano generosamente promete. O nascer do sol transforma o céu e o mar em uma tela celestial, pintada com nuances douradas e vibrantes. Esse momento é um verdadeiro espetáculo divino, uma dádiva que os pescadores acolhem com profunda gratidão em seus corações.

À medida que lançam suas redes ao mar, a beleza do instante se funde com a esperança e a fé inabalável que nutrem no "Pai Velho", a entidade venerada que governa os mares e sustenta a vida. Eles confiam que serão abençoados com fartura e provisão, uma crença que os fortalece para enfrentar as incertezas do dia a dia.

Assim, o cenário de Mayandeua transcende a mera estética; ele é uma representação viva da pureza da natureza. As águas translúcidas brilham como joias líquidas, refletindo a luz solar e revelando a riqueza da vida marinha em todo o seu esplendor. Neste contexto, os pescadores continuam a zarpar, guiados por sua fé inabalável e pela esperança renovada a cada amanhecer. Enquanto remam em direção ao horizonte infinito, sabem que estão participando de algo maior do que suas próprias vidas: a dança sagrada entre o ser humano e o oceano, a serenidade que só pode ser encontrada nas águas protegidas por princesas encantadas, e a convicção de que o Pai Velho sempre os conduzirá em suas jornadas.

Ei-las as pratiqueiras! 

Vem piriricando no horizonte!  

Bom dia Mayandeua!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0313





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