* Nº 0287 - PORTO DE ASAS – SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA
O turista havia acabado de atravessar para a ilha quando avistou um nativo sentado em sua cadeira, contemplando o horizonte. A paisagem era de tirar o fôlego — uma combinação perfeita de céu azul, mar cristalino e areias suaves ao pisar. No entanto, por mais bela que fosse a vista, o turista não conseguia desviar o olhar do nativo. Havia algo intrigante em sua expressão serena e no modo como parecia absorver a vastidão à sua frente.
Movido pela curiosidade, o turista decidiu se aproximar e puxar conversa. O nativo, com um sorriso acolhedor estampado no rosto, o recebeu em sua casa sem hesitar. Ali, cercados pela simplicidade e calor da hospitalidade local, passaram horas conversando sobre a vida, as tradições da ilha e as histórias que atravessavam gerações.
Foi então que o nativo resolveu compartilhar uma narrativa especial, ouvida na infância de seu avô. Era uma história encantadora, repleta de emoção e significado. Contava sobre o romance entre um pássaro japiim e um pássaro bem-te-vi, cujo amor enfrentava os desafios impostos pela comunidade de aves da ilha. Segundo as tradições ancestrais, tal união era proibida, pois quebrava as normas estabelecidas pelos pássaros mais antigos.
Sem alternativas, os dois apaixonados buscaram ajuda em um único ser em quem confiavam: a princesa da ilha. Com o coração apertado pelo medo das consequências, ela os enviou ao Vale da Princesa, um lugar escondido entre as dunas da paradisíaca ilha. Era um santuário secreto, conhecido apenas por poucos. Ao chegarem ao Vale, os pássaros tiveram uma surpresa transformadora. Foram recebidos por uma comunidade de aves que os acolheu de braços abertos. Não só aceitaram o amor entre o japiim e o bem-te-vi, como também os ajudaram a construir uma vida juntos, celebrando o afeto que nutriam um pelo outro.
O turista ficou maravilhado com a história. Cada detalhe parecia ecoar uma lição profunda sobre aceitação, coragem e o poder do amor em superar barreiras. Ele percebeu que aquele momento seria inesquecível, gravado para sempre em sua memória. Com o coração transbordando de gratidão, ele agradeceu ao nativo por compartilhar tão generosamente sua cultura e sabedoria. Ao deixar a ilha, levou consigo não apenas lembranças da paisagem deslumbrante, mas também uma mensagem de esperança e amor que prometeu carregar por toda a vida.
Moral da História: O amor verdadeiro encontra seu caminho, mesmo diante dos maiores obstáculos. E, às vezes, é nas comunidades mais improváveis que encontramos a aceitação e o apoio que tanto buscamos.
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0287

