* N° 0069 - CALLI E SABIDUS - SÉRIE: CONTO FANTÁSTICO DE MAYANDEUA
Calli era um siri vermelho que vivia na Vila de Camboinha, uma pequena comunidade à beira-mar. Ele adorava cavar buracos na areia e brincar com as conchas e algas que o mar trazia até a praia. Um dia, enquanto explorava seu cantinho favorito, Calli recebeu uma carta especial. Era de seu primo Sabidus, um siri azul que morava na ilha de Algodoal. A carta dizia:
"Querido Calli,
Estou com muitas saudades de você e gostaria de te convidar para me visitar aqui em Algodoal. É um lugar lindo, cheio de coisas incríveis para ver e fazer. Temos uma lagoa de água doce conhecida como 'da Princesa', mangues encantadores, uma vila de pescadores charmosa e uma praia de areia branquíssima. Você vai adorar!*
Venha logo, estou te esperando.
Com carinho,
Sabidus.
Ao ler a carta, Calli sentiu seu coração se encher de felicidade. Sem pensar duas vezes, decidiu aceitar o convite. Ele pegou uma carona em um barco de turistas que seguia para Algodoal, levando consigo uma mochila com algumas roupas, um chapéu, óculos escuros, protetor solar e, claro, seu livro de poesias de Manoel de Barros, seu escritor favorito.
Depois de algumas horas de viagem, Calli chegou à ilha de Algodoal. Lá, foi calorosamente recebido por Sabidus na praia. Sabidus era um siri azul muito simpático e inteligente, apaixonado pela natureza, história e cultura da ilha. Com um abraço caloroso, ele disse:
"Que bom que você veio, Calli! Estou tão feliz em te ver! Venha, vamos para minha casa. Fica logo ali, na beira do furo. É bem aconchegante e tem uma vista linda."
Calli seguiu Sabidus até sua casa. Dentro dela, havia uma cama confortável, uma mesa simples, uma cadeira, uma estante repleta de livros e um rádio sintonizado na "frequência mangue". Na parede, um quadro chamou sua atenção: uma foto antiga dos dois quando ainda eram bebês-siri.
Sabidus sorriu ao perceber o olhar curioso de Calli. "Vamos lá fora? Tenho um pé de caju no quintal. Podemos colher alguns frutos fresquinhos e preparar um suco delicioso!" Os dois saíram e encontraram o pé de caju carregado de frutas vermelhas e amarelas. Depois de colherem alguns cajus, voltaram para dentro. Sabidus cortou os frutos em pedaços, adicionou água e açúcar ao liquidificador e preparou um suco cremoso. Servindo-o em dois copos, ele disse:
"Aqui está o suco de caju, Calli. Experimente, é uma delícia!"
Calli tomou um gole e sentiu o sabor doce e azedo do caju invadir sua boca.
"Hummm… Que suco gostoso, Sabidus! Você tem razão, é uma delícia!"
"Que bom que você gostou, Calli. O caju é minha fruta preferida."
"E também a minha!", respondeu Calli, sorrindo.
Os dois brindaram com seus copos, desejando saúde. Enquanto saboreavam o suco, conversaram sobre suas vidas, sonhos e planos. Descobriram que tinham muitas coisas em comum e se deram ainda melhor do que imaginavam.
Após terminarem o suco, Sabidus sugeriu:
"Calli, quero te mostrar toda a ilha. Vamos fazer um passeio?"
"Claro, Sabidus! Quero conhecer tudo!", respondeu Calli, animado.
Os dois partiram caminhando pela lagoa. Durante o passeio, Sabidus explicava tudo com sabedoria e poesia. Apontando para um pássaro, ele disse:
"Olhe aquele pássaro, Calli. Ele se chama bem-te-vi. É o cantor da manhã. Acorda cedo e canta alto para saudar o sol. Ele tem uma plumagem amarela e preta e um topete elegante. É um pássaro que sabe das alegrias da vida."
Calli observava tudo com olhos de criança e alma de poeta. Encantado, ele respondia:
"Que flor linda! Ela parece uma princesa dormindo na água. Eu queria ser a lua para beijar suas pétalas."
"Que pássaro bonito! Ele parece um rei cantando no céu. Eu queria ser o sol para ouvir sua música."
"Que pedra preciosa! Ela parece uma estrela caída na terra. Eu queria ser o vento para tocar seu brilho."
Os dois continuaram explorando a ilha até chegarem à floresta de mangue. Ali, as árvores exibiam suas raízes expostas, e caranguejos andavam de um lado para o outro.
"Esta é a floresta de mangue, Calli", explicou Sabidus. "É um ecossistema essencial para a ilha. Aqui vivem muitos seres que se adaptaram às condições salgadas e lamacentas do solo. É um lugar cheio de vida e magia."
Sabidus apresentou Calli aos diferentes tipos de caranguejos que habitavam o local: o caranguejo-uçá, o caranguejo-vermelho e o caranguejo-azul. Eles eram de várias cores, tamanhos e formas.
"Esses são meus amigos caranguejos, Calli. Eles são divertidos e adoram brincar de esconde-esconde nas tocas e dançar na maré cheia. Além disso, são muito sábios e conhecem muitas histórias da ilha."
Sabidus apresentou Calli aos caranguejos, que o cumprimentaram com suas pinças e fizeram perguntas curiosas:
"De onde você vem, Calli?"
"Eu vim da Vila de Camboinha."
"Como é lá?"
"Você gosta de lá?"
"Eu gosto sim. Sinto falta da tranquilidade e da natureza de lá."
"Então você veio ao lugar certo, Calli. Aqui em Algodoal, você vai encontrar tudo isso e muito mais."
Os caranguejos conversaram animadamente com Calli, compartilhando histórias sobre a ilha, o mar, o mangue e a lagoa. Calli se sentiu acolhido e encantado por aquela nova família de amigos.
Depois de algum tempo, Sabidus sugeriu:
"Calli, quero te mostrar a vila dos pescadores. Vamos sair da floresta de mangue."
E assim, outra aventura estava prestes a começar para Calli, o siri de Camboinha, e seu primo Sabidus.
- Primolius contará depois!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0069