* Nº 0056 - O SIRI ANDRENALINA CALLI -SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA

 


Há muito tempo, nos arredores da Vila de Camboinha, vivia Trimis, um siri peculiar. Ele era diferente dos outros siris por sua curiosidade insaciável e seu jeito inquieto de explorar o mundo. Enquanto seus companheiros se contentavam com as águas salgadas dos estuários, Trimis sonhava em descobrir novos territórios. Seus amigos até brincavam: "Trimis não é só um siri; ele é o urubu dos rios e do mar!"

Com sua respiração adaptada à terra e à água, e suas nadadeiras rápidas como flechas, Trimis parecia destinado a grandes aventuras. Mas havia algo que ele ainda precisava aprender: a moderação. Um dia, movido pela curiosidade, Trimis decidiu explorar a Praia da Princesa, um lugar encantador frequentado por turistas. Lá, encontrou um castelo de areia construído por crianças. Fascinado pelas torres altas e pelos corredores labirínticos, ele resolveu investigar mais de perto. Dentro do castelo, descobriu uma coroa de papelão abandonada e moedas reluzentes feitas de chocolate embrulhado em papel dourado.

Sem pensar duas vezes, Trimis colocou a coroa na cabeça e guardou algumas moedas no "bolso" de sua casca. Admirando-se em uma concha próxima, ele se achou majestoso. "Sou o Rei Trimis!", pensou, orgulhoso. Mas sua alegria durou pouco. As crianças perceberam o intruso e começaram a gritar:

— Olhem! Um siri roubando nosso castelo!

Assustado, Trimis tentou escapar, mas foi perseguido pelas crianças, que jogavam areia para detê-lo. Sem outra saída, ele pulou por uma abertura no castelo... e caiu diretamente sobre um barco ancorado.

No barco, um pescador limpava seus peixes quando viu algo incomum cair na água. Pensando ser um peixe fugitivo, lançou seu anzol. Para sua surpresa, fisgou Trimis, o siri coroado com uma coroa de papelão e bolsos cheios de "joias". Achando que aquele exemplar poderia ser valioso, o pescador o colocou em um balde com outros peixes.

Preso e sem espaço para respirar, Trimis sentiu o peso de suas escolhas impulsivas. Arrependido, pensou em sua família, seus amigos e nas consequências de sua ganância. Fechou os olhos, esperando o pior.

Mas então, uma mão grande apareceu. Era Procyon, um guaxinim amigo de Trimis, que havia encontrado o balde. Com um movimento rápido, Procyon virou o balde, libertando Trimis.

— Me tire daqui, Procyon! — gritou Trimis assim que recuperou o fôlego.

Procyon, sempre sábio, respondeu:

— Trimis, você tem muitas qualidades, mas precisa aprender a controlar sua curiosidade e sua ganância. O mundo está cheio de maravilhas, mas nem tudo é para ser tomado. Às vezes, o maior tesouro é saber quando parar.   E eu sei o que é isso! 

Trimis voltou para casa com uma lição aprendida. Ele nunca mais tentou roubar castelos ou acumular tesouros que não lhe pertenciam. Em vez disso, passou a compartilhar suas histórias com os outros animais, ensinando-lhes sobre a importância de viver com moderação e respeitar os limites.

Desde então, Trimis tornou-se conhecido não apenas como o siri curioso, mas também como o siri sábio, cujas aventuras eram contadas por gerações.

Moral da história:  

A curiosidade pode levar a grandes descobertas, mas a ganância pode nos colocar em apuros. A verdadeira sabedoria está em saber distinguir o que é necessário do que é excessivo.


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0056


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