O SIRI ANDRENALINA CALLI Nº 119 - CONTO FANTÁSTICO

 



Calli era um siri andrenalina, que vivia nos arredores da Vila de Camboinha, no litoral do Pará. Ele gostava de explorar os estuários entre o mar e os rios, onde o sal era muito importante para ele. Ele não tinha preferências para alimentos, pois diziam que os siris eram oportunistas, segundo o primo caranguejo. Ele se alimentava de bichos mortos que encontrava pelo caminho, e era conhecido por outros colegas do mar como o urubu dos rios ou do mar.

Calli era arisco e tinha uma respiração traqueal, que lhe permitia respirar na terra e na água. Esse era o seu grande poder, além das nadadeiras que usava para nadar e fugir dos predadores. A comunicação dos siris Calli era feita pela agitação ou batida de suas pinças. Alguns eram capazes de amputar o próprio membro, se fossem pegos por algum inimigo. Calli nunca precisou fazer isso, pois era muito rápido e esperto.

Um dia, Calli resolveu se aventurar mais longe do que o habitual, e foi parar na Praia da Princesa, onde havia muitos turistas e barcos. Ele ficou encantado com as cores e os sons que via e ouvia, e resolveu se aproximar de um grupo de crianças que brincavam na areia. Elas tinham feito um castelo de areia, e Calli achou que seria divertido entrar nele e ver como era por dentro.

Ele se esgueirou por uma das janelas do castelo, e começou a explorar os corredores e as salas. Ele se sentiu como um rei, e imaginou que aquele era o seu palácio. Ele encontrou uma coroa de papelão que uma das crianças tinha deixado cair, e colocou na cabeça. Ele se olhou no reflexo de uma concha, e achou que estava muito elegante.

Ele continuou a sua aventura pelo castelo, até que chegou a uma sala onde havia um tesouro. Eram várias moedas de chocolate embrulhadas em papel dourado, que as crianças tinham comprado na barraca de doces. Calli ficou maravilhado com aquilo, e pensou que eram as moedas mais bonitas que ele já tinha visto. Ele resolveu pegar algumas para levar para casa, e colocou no bolso da sua casca.

Ele estava tão distraído com o seu achado, que não percebeu que uma das crianças tinha visto ele entrar no castelo, e estava curiosa para saber o que ele estava fazendo lá dentro. A criança se aproximou do castelo, e espiou pela janela. Ela viu Calli com a coroa na cabeça e as moedas no bolso, e achou que ele era um ladrão. Ela gritou para os seus amigos:

- Olhem! Tem um siri roubando o nosso castelo! Vamos pegá-lo!

Os outros amigos ouviram o grito, e correram para ver o que estava acontecendo. Eles viram Calli dentro do castelo, e ficaram furiosos. Eles começaram a jogar areia e pedras no siri, tentando acertá-lo.

Calli ficou assustado com aquele ataque, e não entendeu o que tinha feito de errado. Ele tentou se defender com as suas pinças, mas eram muitas crianças contra ele. Ele percebeu que tinha se metido em uma grande encrenca, e resolveu fugir dali o mais rápido possível.

Ele saiu correndo pelo castelo, procurando uma saída. Ele encontrou uma porta nos fundos do castelo, e saiu por ela. Mas ele não sabia que aquela porta dava para a água, onde havia um barco ancorado. Ele caiu na água, bem em cima do barco.

O dono do barco era um pescador, que estava limpando os seus peixes. Ele viu Calli cair na água, e achou que ele era um peixe que tinha escapado da sua rede. Ele pegou uma vara de pescar, e lançou o anzol na direção de Calli.

Calli viu o anzol se aproximando dele, e ficou apavorado. Ele tentou nadar para longe, mas o anzol era mais rápido. Ele sentiu uma fisgada na sua casca, e foi puxado para cima.

O pescador ficou surpreso ao ver que tinha pescado um siri, e não um peixe. Ele achou que era um siri muito estranho, pois ele tinha uma coroa na cabeça e moedas no bolso. Ele pensou que aquele siri devia valer muito dinheiro, e resolveu levá-lo para casa.

Ele colocou Calli em um balde, junto com os outros peixes. Calli se sentiu sufocado dentro do balde, pois não havia água suficiente para ele respirar. Ele tentou se soltar do anzol, mas estava preso com muita força. Ele olhou para os outros peixes, e viu que eles estavam mortos. Ele percebeu que aquele era o seu fim, e se arrependeu de ter saído da sua casa.

Ele pensou na sua família e nos seus amigos, e desejou poder vê-los novamente. Ele pensou na sua aventura pelo castelo, e se deu conta de que tinha sido uma grande bobagem. Ele pensou nas moedas de chocolate, e se perguntou se elas eram mesmo tão bonitas assim. Ele pensou na coroa de papelão, e se sentiu ridículo.

Ele fechou os olhos, e esperou pela morte.

Mas a morte não veio.

O que veio foi uma mão.

Uma mão grande. Era o amigo guaxinim Procyon  que pegou o balde onde Calli estava, e o virou de cabeça para baixo.

Calli caiu no chão, junto com os outros peixes. Ele abriu os olhos, e viu o amigo e logo disse:

- Me tire daqui  Procyon!!!

E assim começou a história do siri andrenalina chamado Calli.

E certamente Primoluis irá contar outras aventuras por aqui.


FIM

Copyright de Britto, 2020

Projeto Literário e Musical Primolius N° 119


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