O PACAMUM VIRTUAL Nº 0134 - CONTO FANTÁSTICO

 








PakasMan era um pacamum diferente dos outros. Ele não tinha nascido na Terra, mas em um planeta distante chamado Paku-Paku, onde todos os seres vivos eram parecidos com ele. Lá, ele era um grande sábio e líder, que ensinava aos seus semelhantes os mistérios do universo e os valores da paz e da harmonia.

Um dia, ele recebeu uma missão especial: viajar pelo espaço em busca de outros mundos habitados, para compartilhar sua sabedoria e aprender com outras culturas. Ele aceitou o desafio e partiu em uma nave espacial em forma de bola amarela, equipada com um poderoso motor de fusão e um sistema de camuflagem.

Ele viajou por muitos anos-luz, visitando vários planetas e conhecendo diversas formas de vida. Em cada lugar, ele deixava uma mensagem de amor e esperança, e recebia em troca conhecimentos e experiências. Ele se maravilhava com a diversidade e a beleza da criação.

Um dia, ele chegou ao sistema solar e detectou sinais de vida inteligente na Terra. Ele se aproximou do planeta azul e ativou seu sistema de camuflagem, que o fazia parecer um peixe comum. Ele escolheu um lugar para pousar: um lago próximo à vila de Camboinha, em Mayandeua.

Ele mergulhou nas águas límpidas e sentiu uma sensação de paz. Ele observou os outros peixes que nadavam ao seu redor e percebeu que eles eram pacíficos e curiosos. Ele se sentiu bem-vindo e decidiu ficar ali por um tempo.

Ele também notou a presença de seres humanos na margem do lago. Eles eram diferentes dos que ele tinha visto em outros planetas: tinham pele de várias cores, cabelos de várias formas e roupas de vários estilos. Eles pareciam felizes e divertidos, mas também tinham problemas e conflitos.

Ele quis se comunicar com eles, mas sabia que não podia revelar sua verdadeira identidade. Ele tinha que ser discreto e cauteloso, pois não sabia como eles reagiriam à sua presença. Ele decidiu usar seus poderes telepáticos para enviar mensagens sutis aos humanos mais sensíveis e receptivos.

Ele escolheu uma menino chamado  Lepustier, que costumava brincar na maré com seus amigos. Ele era alegre e gentil, e tinha uma forte conexão com a natureza. Ele gostava de observar os peixes e conversar com eles, mesmo que eles não respondessem.

Um dia, ele estava sentado na beira do lago, jogando pedrinhas na água, quando ouviu uma voz em sua mente:

Olá, amigo. Eu sou um peixe especial. Você pode me ouvir?

O que? Um peixe falante? Isso é incrível!

Sim, eu sou um peixe falante. Mas não conte a ninguém, por favor. É um segredo entre nós.

Eu tenho um nome, sim. Eu me chamo PakasMan. Eu vim de um planeta muito distante, onde todos os peixes são como eu. Eu estou aqui para conhecer a Terra e seus habitantes, e para ensinar e aprender com eles.

Uau, que incrível! Você é um peixe alienígena! E o que você já aprendeu sobre a Terra?

Eu aprendi muitas coisas. Eu aprendi sobre as plantas, os animais, o clima, a geografia, a história, a cultura, a arte, a ciência, a religião, a política… A Terra é um planeta muito rico e diverso, mas também muito complexo e conflituoso.

É verdade. Às vezes eu não entendo os humanos. Eles fazem coisas boas e ruins, e nem sempre se respeitam uns aos outros.

Eu sei. Eu também não entendo. Mas eu tento ver o lado bom de cada um, e ajudar quando posso.

Você é muito sábio e bondoso, PakasMan. Eu gosto de você.

Eu também gosto de você, Lepustier. 

E assim começou uma bela amizade entre o peixe alienígena e o menino humano. Eles passaram muitos dias conversando e brincando na maré, compartilhando suas histórias e seus sonhos.

Mas nem tudo era paz e alegria. Havia também perigos e ameaças. Um deles era um grupo de pescadores malvados, que viviam na vila vizinha. Eles eram cruéis e gananciosos, e não se importavam com os peixes ou com o meio ambiente. Eles usavam redes e anzóis para capturar os peixes na maré, sem deixar nenhum para trás. Eles também jogavam lixo e esgoto na água, poluindo-a e contaminando-a.

Um dia, eles chegaram ao lago onde PakasMan e Lepustier estavam. Eles não viram o menino na margem, pois ele estava escondido atrás de um mangueiro. Mas eles viram o peixe amarelo nadando na superfície. Eles ficaram surpresos e curiosos com aquele peixe diferente, que parecia uma bola com olhos e boca.

Olha só que peixe estranho! - disse um deles.

Deve ser uma espécie rara! - disse outro.

Vamos pegá-lo! Deve valer uma fortuna! - disse o terceiro.

Eles lançaram suas redes e anzóis na direção de PakasMan, tentando capturá-lo. Mas PakasMan era rápido e esperto, e conseguiu escapar das armadilhas. Ele mergulhou no fundo das águas e ativou seu sistema de camuflagem, ficando invisível aos olhos dos pescadores.

Os pescadores ficaram frustrados e irritados. Eles continuaram jogando suas redes e anzóis na água, esperando pegar o peixe amarelo. Mas eles só conseguiram pegar outros peixes inocentes, que eles arrancavam da água com violência.

Lepustier viu tudo aquilo e ficou indignado. Ele quis sair do seu esconderijo e enfrentar os pescadores, mas ele sabia que era perigoso. Ele era apenas um menino, e eles eram homens fortes e armados. Ele não tinha como se defender ou proteger os peixes.

Ele sentiu uma vontade de chorar, mas se conteve. Ele lembrou das palavras de PakasMan: “Não se deixe abater pela tristeza ou pela raiva. Busque sempre a paz e a harmonia.”

Ele fechou os olhos e respirou fundo. Ele tentou se acalmar e se concentrar. Ele tentou se comunicar com PakasMan telepaticamente:

PakasMan, você está bem? Onde você está?

Ele esperou alguns segundos, mas não obteve resposta. Ele ficou preocupado:

PakasMan, por favor, responda! Eu estou com medo!

Ele esperou mais alguns segundos, mas ainda não obteve resposta. Ele ficou desesperado:

PakasMan, por favor, não me deixe! Eu preciso de você!

Ele abriu os olhos e olhou para o lago. Ele viu uma luz brilhante emergir da água. Era PakasMan, que tinha desativado seu sistema de camuflagem e revelado sua verdadeira forma. Ele estava cercado por uma aura dourada, que irradiava poder e majestade.

Os pescadores também viram a luz e se assustaram. Eles não acreditaram no que viram: um peixe alienígena, que parecia um deus.

O que é isso? - gritou um deles.

É um monstro! - gritou outro.

É um milagre! - gritou o terceiro.

PakasMan olhou para os pescadores com um olhar severo e penetrante. Ele falou com uma voz forte e grave, que ecoou pelo lago:

Vocês são uns seres desprezíveis e ignorantes. Vocês não respeitam a vida nem a natureza. Vocês só pensam em si mesmos e em seus interesses mesquinhos. Vocês não merecem habitar este planeta maravilhoso.

Os pescadores ficaram paralisados de medo e vergonha. Eles não conseguiram responder ou reagir.

PakasMan continuou:

Eu vim de um planeta distante, onde todos os peixes são como eu. Eu vim para conhecer a Terra e seus habitantes, e para ensinar e aprender com eles. Eu vim para trazer amor e esperança, mas encontrei ódio e destruição.

Ele fez uma pausa e suspirou. Ele disse:

Eu tentei ser pacífico e discreto, mas vocês me forçaram a me revelar. Eu tentei ser bondoso e generoso, mas vocês me atacaram sem piedade. Eu tentei ser sábio e justo, mas vocês me ignoraram e desprezaram.

Ele fez outra pausa e olhou para o céu. Ele disse:

Eu tenho um poder que vocês não podem imaginar. Um poder que pode criar ou destruir. Um poder que pode curar ou ferir. Um poder que pode libertar ou aprisionar.

Ele olhou novamente para os pescadores e disse:

Eu vou usar esse poder para punir vocês pelo mal que fizeram aos peixes e ao lago. Eu vou usar esse poder para dar uma lição a vocês e aos que são como vocês. Eu vou usar esse poder para transformar vocês em pedra.

Ele levantou uma de suas nadadeiras e apontou para os pescadores. Ele disse uma palavra em sua língua natal, que soou como um trovão.

Uma onda de energia saiu da nadadeira de PakasMan e atingiu os pescadores. Eles sentiram seus corpos se endurecerem e se imobilizarem. Eles sentiram suas mentes se esvaziarem e se silenciarem. Eles se transformaram em  pedra  na margem da maré.

PakasMan abaixou sua nadadeira e olhou para as pedras com tristeza e compaixão. Ele disse: Eu sinto muito por ter feito isso, mas era necessário. Talvez assim vocês aprendam a valorizar a vida e a natureza. Talvez assim vocês se arrependam do mal que fizeram. Talvez assim vocês se tornem melhores.

Ele se virou para Lepustier, que estava boquiaberto com o que acabara de presenciar. Ele sorriu para ele e disse:

Não se preocupe, meu amigo. Eles não estão mortos, apenas petrificados. Eles vão voltar ao normal quando eu for embora.

Quando você vai embora? - perguntou Lepustier, com um nó na garganta.

Em breve, muito em breve - respondeu PakasMan, com uma lágrima no olho.

Por quê? Por que você tem que ir? - insistiu Lepustier, com um soluço na voz.

Porque eu tenho uma missão a cumprir - explicou PakasMan, com um suspiro no peito 

- Eu tenho que viajar pelo espaço em busca de outros mundos habitados, para compartilhar minha sabedoria e aprender com outras culturas.

E assim no mesmo dia PakasMan foi embora. No entanto deixou para o seu amigo uma longa carta e que iria certamente mudar a avida daquele menino. 

Mas, esta é uma outra história. 


  FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0134




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