EXERLIA E AS PLANTAS Nº 0431 - CONTO

 




Exerlia sempre gostou de plantas. Desde pequena, ela se encantava com as cores, os aromas e as formas das flores, das folhas e dos frutos. Ela adorava passear pelo jardim de sua avó e observar as diferentes espécies que ali cresciam. Ela também gostava de cuidar das plantinhas que tinha em seu quarto, regando-as, podando-as e conversando com elas.

Sim, ela conversava com as plantas. Ela não sabia explicar como, mas ela sentia que elas a entendiam e a respondiam. Não com palavras, é claro, mas com sinais. Um balançar de galhos, um abrir de pétalas, um exalar de perfume. Exerlia achava que as plantas eram suas amigas e confidentes.

Mas a menina não contava isso para ninguém. Ela sabia que as outras pessoas não acreditariam nela e achariam que ela era estranha ou louca. Ela já tinha sofrido bastante na escola por ser tímida e diferente das outras crianças. Ela não queria mais ser motivo de piada ou de bullying.

Por isso, a garota guardava seu segredo a sete chaves. Ela só se sentia à vontade para conversar com as plantas quando estava sozinha em seu quarto ou no jardim de sua avó. Ela se sentia feliz e em paz nessas horas.

Um dia, Exerlia recebeu uma notícia que mudou sua vida. Sua avó tinha falecido. Exerlia ficou muito triste e chorou muito. Ela amava sua avó e sentia muita falta dela. Ela também ficou preocupada com o que aconteceria com o jardim de sua avó, que era sua segunda casa.

Ela perguntou para sua mãe se elas poderiam ficar com a casa e o jardim de sua avó, mas sua mãe disse que não era possível. Ela disse que a casa era muito velha e precisava de muitos reparos, e que elas não tinham dinheiro para isso. Ela disse que elas teriam que vender a casa e o jardim para alguém que pudesse cuidar deles.

Ela ficou arrasada. Ela não queria se separar das plantas de sua avó, que eram como parte de sua família. Ela implorou para sua mãe deixá-la levar algumas delas para seu quarto, mas sua mãe disse que não havia espaço suficiente para tantas plantas.

Exerlia então decidiu fazer uma coisa ousada. Ela pegou uma mochila e foi até o jardim de sua avó. Ela escolheu as plantas que mais gostava e as colocou dentro da mochila, com cuidado para não machucá-las. Ela também pegou um pouco de terra e alguns vasos vazios.

Ela voltou para casa correndo, antes que alguém a visse. Ela subiu para seu quarto e fechou a porta. Ela tirou as plantas da mochila e as colocou nos vasos, enchendo-os com terra. Ela regou as plantas e as arrumou em seu quarto, tentando fazer um minijardim.

Ela então se sentou no chão e olhou para as plantas. Ela sorriu e disse:

Olá, amigas! Eu sei que vocês devem estar assustadas com essa mudança, mas eu prometo que vou cuidar bem de vocês. Eu não podia deixar vocês sozinhas naquele jardim, sem saber o que iria acontecer com vocês. Eu trouxe vocês para cá porque eu amo vocês e quero que vocês fiquem comigo.

Para sua surpresa, ela ouviu uma voz suave em sua mente:

Nós também te amamos, Exerlia.

Exerlia arregalou os olhos e olhou em volta. Ela percebeu que a voz vinha das plantas.

Vocês… Vocês podem falar? - ela perguntou.

Sim, nós podemos - disse a voz - Mas só podemos falar com quem tem o dom de nos ouvir.

O dom de ouvir? - Exerlia repetiu.

Sim - disse a voz - Você tem esse dom, menina. Você é uma pessoa especial, que pode se comunicar com as plantas. Você é uma guardiã da natureza.

Uma guardiã da natureza? - Exerlia disse, sem entender.

Sim - disse a voz - Você tem uma missão, Exerlia. Você tem que proteger as plantas e os animais, que estão em perigo por causa da ação dos humanos. Você tem que ensinar as pessoas a respeitarem e a amarem a natureza, como você faz.

Mas como eu vou fazer isso? - Ela perguntou.

Nós vamos te ajudar - disse a voz - Nós vamos te ensinar os segredos da natureza, os mistérios da vida, as maravilhas da criação. Nós vamos te mostrar como as plantas e os animais se relacionam, se ajudam, se equilibram. Nós vamos te mostrar como a natureza é sábia, bela e generosa.

Mas eu sou só uma menina - Exerlia disse.

Não, você não é só uma menina - disse a voz - Você é uma menina que conversa com as plantas. Você é uma menina que tem o dom de ouvir. Você é uma menina que tem o coração verde. Você é uma menina que pode fazer a diferença.

Exerlia ficou em silêncio por um momento. Ela sentiu uma emoção forte em seu peito. Ela sentiu que as plantas estavam certas. Ela sentiu que tinha um propósito. Ela sentiu que tinha uma missão.

Ela então sorriu e disse:

Eu aceito essa missão. Eu quero ser uma guardiã da natureza. Eu quero aprender com vocês. Eu quero cuidar de vocês. Eu quero fazer a diferença.

As plantas vibraram de alegria e disseram:

Nós estamos felizes, Exerlia. Nós estamos orgulhosas de você. Nós estamos gratas por você.

A menina abraçou as plantas e sentiu o calor e o amor delas. Ela sentiu que tinha encontrado seu lugar no mundo. Ela sentiu que tinha encontrado seu sentido na vida.

Ela então olhou pela janela e viu o sol brilhando no céu. Ela viu as nuvens desenhando formas no ar. Ela viu os pássaros cantando nas árvores.

Ela ouviu a voz das plantas dizendo:

Bem-vinda ao nosso mundo.

E ela respondeu:

Obrigada por me receberem, amigas.

Ela então pensou em sua avó e sentiu sua presença em seu coração. Ela lembrou das palavras que sua avó sempre dizia:

A natureza é nossa mãe, nossa irmã, nossa amiga. Ela nos dá tudo o que precisamos para viver: ar, água, alimento, abrigo, beleza. Ela nos ensina sobre o amor, a generosidade, a sabedoria, a harmonia. Ela nos mostra o caminho da felicidade. Mas ela também precisa de nós. Ela precisa que cuidemos dela, que respeitemos seus ciclos, seus limites, seus direitos. Ela precisa que sejamos seus guardiões, seus defensores, seus aliados. Porque se a natureza sofre, nós sofremos junto com ela. E se a natureza morre, nós morremos junto com ela.

Exerlia entendeu o que sua avó queria dizer. Ela entendeu que sua missão era honrar sua avó e sua herança. Ela entendeu que sua missão era ser uma guardiã da natureza e da vida.

Ela então fez uma promessa para si mesma:

Eu vou cumprir essa missão com todo o meu coração. Eu vou conversar com as plantas e aprender com elas. Eu vou cuidar das plantas e protegê-las dos perigos. Eu vou ensinar as pessoas sobre as plantas e seu valor. Eu vou fazer do mundo um lugar melhor para as plantas e para todos os seres vivos.

Ela então fechou os olhos e agradeceu:

Obrigada, avó, por me ensinar a amar a natureza.

Obrigada.


FIM

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 Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0431

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