* Nº 0415 - A BALEIA FUJONA - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA

 


O Mar de Mayandeua era um reino pulsante de vida e beleza estonteante. Suas águas, de um verde-esmeralda translúcido, cintilavam como incontáveis joias sob os raios dourados do sol, enquanto a sinfonia dos habitantes marinhos – o canto das baleias, o clique dos golfinhos, o sussurrar dos cardumes – criava uma melodia suave que envolvia tudo em sua canção. Era um santuário para as criaturas mais exóticas e fascinantes, que deslizavam livres e serenas entre delicadas plantas aquáticas, um caleidoscópio vivo de cores e formas.

Neste cenário mágico, nadava Bia, uma baleia-jubarte de sabedoria ancestral, e sua filha, Bela, uma jovem baleia vibrante de curiosidade e energia contagiante. Um laço profundo de amor e cumplicidade as unia, forte como as correntes oceânicas. Certo dia, impelidas pelo espírito aventureiro, decidiram explorar novos horizontes naquele vasto azul.

— Que tal explorarmos aquela ilha que desponta no horizonte? — sugeriu Bia, sua cauda elegante indicando uma silhueta distante.
— Sim, mamãe! Parece encantadora! — respondeu Bela, suas nadadeiras batendo na água com entusiasmo juvenil.

Enquanto avançavam, seus olhos se maravilhavam com o mundo submarino daquele lugar. Peixes de cores vibrantes bailavam onde pareciam esculturas vivas, cavalos-marinhos desfilavam com uma elegância régia, e algas longas e esguias ondulavam ao ritmo suave das marés. Cada nova visão era uma descoberta que lhes enchia o coração de alegria.

— Olhe aquele peixe, mamãe! Que travesso! — exclamou Bela, uma risada borbulhante escapando-lhe.
— E veja aquele cavalo-marinho… quanta graça em seus movimentos! — comentou Bia, a admiração transparecendo em seu olhar.

Contudo, em meio a tanto fascínio, absorta pelas maravilhas que se desdobravam a cada instante, Bela, em sua curiosidade juvenil, aventurou-se um pouco mais adiante, sem notar que se distanciava de sua mãe. Quando percebeu o silêncio e a ausência de Bia ao seu lado, um arrepio de medo percorreu seu corpo e seu jovem coração disparou.

— Mamãe! Onde você está, mamãe? Perdida e assustada, começou a nadar a esmo, o desespero crescendo a cada instante. Foi então que uma voz incrivelmente suave e melodiosa chegou aos seus ouvidos:

— Olá, pequena. Quem é você? Por que chora com tanta tristeza?

Bela ergueu o olhar e deparou-se com três sereias de uma beleza que parecia  luz de cores esmeraldas. Seus cabelos longos e sedosos flutuavam como véus  na água, e seus olhos irradiavam uma compaixão que acalmou um pouco seu pranto.

— Eu sou Bela. Estou perdida… Minha mãe… ela sumiu, e eu não sei como encontrá-la — confessou a pequena baleia, a voz ainda trêmula.

As sereias, cujos nomes eram Melly, Telly e Nelly, trocaram olhares repletos de solidariedade.

— Não se preocupe, querida Bela. Nós vamos ajudar você. Conhecemos cada recanto deste mar e temos amigos que certamente poderão nos auxiliar — asseguraram as sereias com vozes que acalmavam o coração.

Com gentileza, guiaram Bela até Lumi, Rumi e Tumi, três golfinhos ágeis e de espírito protetor, que brincavam alegremente perto de um recife rochoso. Com seus corpos reluzentes e sorrisos que inspiravam confiança, prontamente se dispuseram a ajudar.

— Usaremos nossos sonares para contatar outros golfinhos. Juntos, formaremos uma rede de busca e encontraremos sua mãe! — explicou Lumi, o mais experiente do trio.

Enquanto isso, não muito longe dali, Bia perscrutava cada canto do oceano, o coração apertado de uma angústia que só uma mãe conhece. Mas a esperança, teimosa, a impulsionava a não desistir.

Finalmente, após o que pareceram horas intermináveis de busca e aflição, Bela ouviu uma melodia familiar cortando as águas:

— Bela! Minha Bela! Onde você está, filha?

Era ela! Sua mãe! Uma onda de emoção e alívio a invadiu.

— Mamãe! Estou aqui! — gritou Bela, impulsionando-se com todas as forças na direção daquele chamado amoroso.

O reencontro foi um bálsamo. Roçando-se num abraço terno e longo, compartilharam suas histórias, e lágrimas de gratidão e alívio rolaram por seus rostos.

— Oh, minha pequena, que alívio encontrá-la sã e salva! — disse Bia, ainda tremendo com a intensidade da emoção.
— Foram as sereias e os golfinhos que me ajudaram, mamãe! Eles foram verdadeiros anjos do mar! — contou Bela, apontando com a nadadeira para seus novos e preciosos amigos.

As sereias e os golfinhos aproximaram-se, seus rostos iluminados por sorrisos.

— Que alegria vê-las reunidas! Ficamos imensamente felizes por termos ajudado — disseram, suas vozes unindo-se em harmonia.

Aquele dia ficou gravado em suas memórias como uma lição inestimável. Bia e Bela aprenderam sobre os imprevistos e os perigos que o oceano pode esconder, mas, acima de tudo, sobre a força indestrutível do cuidado mútuo. Descobriram que, mesmo perante as maiores adversidades, a coragem, a esperança e o calor de amigos verdadeiros podem transformar qualquer desafio em uma jornada de aprendizado e crescimento.

E assim, sob o brilho eterno e protetor do Mar de Mayandeua, mãe e filha seguiram sua jornada, seus corações agora entrelaçados por novas e preciosas amizades que enriqueceriam para sempre suas vidas nas profundezas azuis.

Moral da história: "Em meio aos perigos da vida, a união, a amizade e a gentileza são faróis que nos guiam, ensinando que o cuidado mútuo é o maior tesouro."

FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0415





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