Nº 0402 - A CARTA - CONTO




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Era uma vez um homem que buscava renovação e novas experiências em sua vida. Sua mente era preenchida com lembranças carinhosas de sua infância, onde brincadeiras de roda e banhos de igarapé traziam alegria. Cantigas de roda ecoavam em sua memória, assim como as brincadeiras de pira e cai no poço. Ele se recordava da felicidade em direcionar as pipas ao som do vento de junho. O circo também deixou uma marca em seu coração desde que o conheceu quando era pequeno. Ele ainda se lembrava das músicas que fazia no fundo do quintal, acompanhado de seu rádio de pilha, e dos banhos de chuva durante os invernos na Amazônia.

Seu fascínio pela natureza e pela realização de experimentos que dela surgiam era uma constante em sua vida. Ele também tinha uma paixão pela escrita, e o primeiro livro que leu por completo foi a Série Cavalo de Troia. No entanto, apesar de todas essas lembranças positivas, ele também carregava inquietações e expectativas. A saudade era um sentimento forte em seu coração, e ele desejava voltar às ruas de sua infância e enxergar as pessoas ao seu redor com novos olhos, menos tímidos. Ele se questionava sobre as consequências de suas escolhas passadas em momentos difíceis e imaginava como seria se pudesse olhar de forma diferente para as pessoas ao seu redor, influenciando um futuro que parecia tão distante quando era criança.

No entanto, o tempo passou e novos sentimentos surgiram, talvez escondidos nas garagens e vielas de sua infância. Mesmo assim, ele continuou sua jornada em busca de novas aventuras e renovações, ciente de que a vida é cheia de surpresas e desafios, e que ele estava pronto para enfrentá-los com determinação.

Esse cidadão encontrava alegria em ver suas pipas de papel de seda subirem, e em suas metáforas, ele buscava novos caminhos para a liberdade de seus próprios sonhos cativos. Assim, ele colecionava pipas de seda em vez de pedras, construindo castelos na imaginação e guardando diferentes tipos de vento em pequenas caixinhas de fósforo, caso o mundo não o deixasse voar. Às vezes, ele refletia sobre a efemeridade de suas emoções e sobre a necessidade de novas abstrações para aquele menino colorido pelos papagaios de seda.

Em certos momentos, ele contemplava o mundo e sentia que sua cidade se tornava cada vez menor diante dos muitos planos que ele aspirava realizar. O mundo o comovia, e ele gostava de escrever cartas para pessoas desconhecidas. Muitas vezes, ele se deixava envolver pelas memórias de sua alegre infância e juventude ao estar rodeado de papéis, sejam eles cartas, cadernos ou folhas em branco. Ele sabia que naquela alvura surgiriam um dia poesias, crônicas, peças de teatro, contos, haicais...

E assim, encerro essa história com o entendimento de que a saudade se manifesta quando escrevemos cartas para nossa própria consciência, um sinal de que estamos envelhecendo e amadurecendo com o tempo, mas também de que estamos conectados com a essência de nossa própria história.

FIM 

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 402



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