*Nº 0348 - POROROCA E SUA LEI - SÉRIE: A POESIA DE MAYANDEUA
De até três metros já assisti,
La vem o temerário chegando à antemanhã
Fluxos, refluxos e jabutis,
Lá vem ela,
Grande e atrapalhada.
Das luas crescentes e cheias,
Ai vem, a rainha que abocanha tudo pela frente,
Ei-la possante passeando,
Pássaros, troncos...
Todos se tornando miúdos.
Nos braços da rainha solitária,
Mururés e árvores guerreiam,
Gritos na mata frustrada,
Muitos te apelidam de covarde,
Lá vem ela...
Intensa e embaraçada.
Das marés, ventos e correnteza,
Lá vem ela vomitando a sua sede e sua coragem,
Índio atiçado,
Trovador assombrado...
Os dois não se movimentam...
E lá no fundo da rede...
Vai se ouvindo só os estalos...
(Vem abocanhando tudo!)
- Vixi! Maria!
(Ninguém se mexe no retiro)
Degraus das águas rebeldes,
Fluxo lunar das terras úmidas,
Ruidosa, mulher valente de segredos mágicos,
Ela, a pororoca.
Assustadoras de embarcações,
Vazantes completas de forças superiores,
Muralhas de ondas espumosas,
Pororoca violenta.
Avança rápida, aves, bichos e flora,
Saúdam a senhora capirota,
Rugidora dos lamaçais, igapós, rios e igarapés,
Levantadora de troncos, barragens, homens...
Pororoca agitada.
Junção do rio Capim e Guamá águas da terra Pará.
Desaparecem por encanto,
Galhos mortos nas barragens destruídas,
Destroços flutuantes,
Banzeiro respeitado,
Uiara aborrecida...
(é quem manda por aqui)
Caboclinhos trabalhando,
Pauladas nas águas,
Justiça desta terra,
E surge...
A Pororoca.
Bicha violenta,
Degraus de águas vibrantes,
Leis diferentes por estas terras,
Derruba açaizeiros, buritizeiros,
Botos fazendo a festa.
Degraus das águas borbulhantes,
Aqui, leis diferentes...
Águas do Capim, águas da terra Pará.
Um estalar medonho,
Um estalar de qualquer coisa se quebrando,
Degraus das águas salientes...
“Vixi Maria”!
- Na rede, alguém tremendo!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0348
