*Nº 0351 - A FEIRA DO AÇAÍ - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Direto de Mayandeua
Ele acorda cedo e se dirige ao Ver-o-Peso, o maior mercado público da América Latina. Lá, encontra um cenário vibrante, repleto de cores, sons e sabores que refletem a riqueza cultural do Norte abençoado. Ao ouvir os barraqueiros chamando os fregueses na madrugada, oferecendo o melhor peixe-frito da região, ele sente-se em casa. Caminha pela Feira do Açaí, onde a maresia do rio se mistura ao ritmo da batucada, criando uma atmosfera única. Ele compra um beiju de mandioca para matar a fome e observa a ressaca de muitos que estão indo embora depois de uma noite de festa.
As tapioqueiras vendendo a branquinha, uma delícia feita com coco e manteiga que derrete nos lábios, chamam sua atenção. Ele admira os homens que realizam fretes com suas carroças decoradas e os estivadores atléticos que gritam na feira, trazendo vida ao mercado. Sentindo-se parte de uma comunidade vibrante e orgulhosa, decide almoçar em um dos restaurantes do mercado ao meio-dia. Escolhe um prato típico: camarão no tucupí com jambú e chibé. O vinho de bacaba e o açaí, bebidas refrescantes e energéticas, complementam sua refeição. Conversa com os outros clientes sobre as narrativas e alaridos do cotidiano, sobre o Remo e o Payssandú, os times de futebol que dividem as paixões dos paraenses, e sobre os conhecimentos matutinos e vespertinos que ele aprendeu na feira.
Ele se sente feliz por viver em um lugar tão rico em tradições e diversidade. A mesa continua abastecida, então pede um pirarucu no prato esmaltado, um peixe gigante que é considerado o rei do rio. Experimenta a maniçoba, o vatapá e o xerimbabo, pratos que misturam influências indígenas, africanas e portuguesas. A boca dormente pelo jambú, uma erva que tem o poder de anestesiar as papilas gustativas, é uma sensação única. Ele se delicia com a gastronomia regional, que é uma das mais saborosas do Brasil.
Na boca da noite, resolve tomar um tacacá para encerrar o dia. Dirige-se a uma das barraquinhas que vendem essa iguaria feita com tucupí, goma de mandioca, camarão seco e jambú. Pega a cuia e toma o caldo quente, que faz suar o rosto e arder a língua. Divertido com as cores e as luzes das barracas, que vendem de tudo um pouco: artesanato, ervas medicinais, doces caseiros, bijuterias, etc., ele observa outros biritando na esquina, enquanto um barco chega trazendo mais mercadorias para o mercado.
A música ao vivo em um dos bares próximos convida à dança. Ele se apaixona pelo Ver-o-Peso festeiro, que nunca dorme nem perde o charme. Ao olhar para o céu e ver uma chuvinha começando a cair, ele sorri e pensa: “Égua da feira estrondosa! Namoro-te desde moleque”.
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 351