* Nº 271 - CHELONI E O MUNDO DE FORA - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA


Primolius narrou:

No fundo das águas cristalinas do Vale da Princesa, vivia Cheloni, uma tartaruga curiosa e sonhadora. Sua paixão era ouvir histórias. Durante horas, ela ficava absorta com os relatos de viajantes aquáticos sobre as maravilhas do outro lado do vale, um mundo desconhecido e cheio de promessas. Havia um portal das Sete Cidades de Fora que separava os dois mundos, e todos sabiam que atravessá-lo era possível. Mas havia uma condição: quem decidisse sair jamais poderia voltar.  

Cheloni frequentemente visitava a misteriosa porta. Ficava ali, contemplando-a com os olhos brilhando de desejo e receio. "Como seria o mundo lá fora?", ela se perguntava. "Valeria a pena abandonar o vale por algo tão incerto?"  Um dia, a Princesa das Águas, governante sábia e benevolente do vale, soube da inquietação da jovem tartaruga e pediu para chamá-la. Cheloni chegou tímida, mas ansiosa por ouvir o que a princesa tinha a dizer.  

— Minha pequena Cheloni — começou a princesa, com um sorriso sereno. — Sei do seu desejo de atravessar a porta. Mas o mundo lá fora é muito diferente deste. Você enfrentará desafios que, no seu estado atual, podem ser insuperáveis. Cheloni baixou a cabeça, desanimada. Mas a princesa, vendo a determinação no olhar da tartaruga, fez-lhe uma proposta.  

— Existe uma maneira de você explorar o outro lado. Com a ajuda dos Encantados, posso transformar você em um ser mais adaptado para aquele mundo: uma teuthida, um molusco ágil e astuto. No entanto, o encanto só durará três dias. Após esse tempo, você deverá retornar ao vale, ou perderá para sempre a chance de voltar.  Cheloni, cheia de entusiasmo, aceitou a oferta. A princesa e os Encantados realizaram o feitiço, envolvendo Cheloni em uma dança de luzes e cantos mágicos. Quando tudo terminou, a tartaruguinha havia se transformado em uma teuthida, com tentáculos elegantes e olhos que brilhavam de emoção.  

— Lembre-se, Cheloni — advertiu a princesa. — Três dias. Use esse tempo com sabedoria.  

Cheloni partiu rumo ao outro lado, movendo-se com uma agilidade que jamais havia sentido antes. Ao atravessar o portal, foi recebida por um mundo vasto e deslumbrante. O mar aberto era imenso, cheio de cores, formas e criaturas que ela nunca havia imaginado.  

Nos três dias que se seguiram, Cheloni explorou cada canto que pôde. Nadou com peixes de todos os tamanhos, dançou entre corais luminosos e até evitou predadores perigosos usando sua nova forma. Sentiu-se livre e poderosa, mas também percebeu a vastidão e a solidão daquele mundo. Não havia laços, nem o conforto do Vale da Princesa, onde ela era conhecida e amada.  Ao final do terceiro dia, Cheloni sentiu uma saudade profunda de sua casa. Apesar da beleza do mundo exterior, ela compreendeu que a verdadeira riqueza estava nos laços que construíra no vale. Antes que o feitiço se desfizesse, retornou ao portal e atravessou de volta.  

Quando chegou, a princesa a aguardava.  

— E então, minha pequena exploradora, o que você descobriu?  

Cheloni sorriu, com os olhos marejados.  

— O mundo lá fora é incrível, majestoso e vasto. Mas percebi que a verdadeira grandeza está aqui, onde estão meus amigos, minha família e minha história.  

A princesa sorriu, satisfeita com a resposta da jovem tartaruga.  

E assim, Cheloni voltou a viver no vale, mais sábia e grata do que nunca. Ela tornou-se uma contadora de histórias, compartilhando suas aventuras com todos que quisessem ouvir.  E as suas aventuras lá fora...

Ficará para a próxima história.


Moral da história:
  
O desejo de explorar o desconhecido é natural, mas a verdadeira riqueza está em reconhecer o valor do que já temos. Aventurar-se é importante, mas nunca esqueça onde reside o coração.  






FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0271


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