* Nº 0074 - PÓLYPOUS... A ÚLTIMA MORADA - CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA





As águas de Mayandeua eram o palco das curiosidades inquietas de Pólypous. Um polvo de mente sagaz e coração aventureiro, ele circundava a ilha com a cadência das marés, seus tentáculos ágeis explorando cada coral e fenda rochosa. A sabedoria ancestral de sua espécie ecoava em seus pensamentos viscosos: em Mayandeua, nas profundezas insondáveis, repousava um reino de seus semelhantes, um lar ancestral perdido nas brumas do tempo.

Em suas incursões pelos arredores da ilha, ele colecionava amigos como conchas raras. Peixes coloridos com escamas cintilantes, tartarugas sábias com cascos encrustados de algas, e até mesmo os esquivos caranguejos de patas laterais compartilhavam histórias e segredos com o polvo inquisitivo. E, fiel ao seu propósito, em cada novo encontro, Pólypous lançava a mesma pergunta, a esperança tingindo a ponta de seus tentáculos: "Porventura, saberíeis onde se oculta a entrada secreta do Reino dos Moluscos de Mayandeua?"

As respostas variavam, desde o balançar hesitante de cabeças escamosas até o clique confuso das pinças, mas nenhuma indicava o caminho para o lar perdido. A cada ciclo solar, com a chegada imponente do Inverno e o refluxo vigoroso das grandes marés, ele sentia um chamado ancestral mais forte. Era nessa época que as correntes marinhas pareciam sussurrar, e a esperança de encontrar a entrada para o reino submerso reacendia em suas oito almas.

Assim, a cada ano, como um peregrino incansável, o polvo retornava às proximidades de Mayandeua. Deixava seus amigos do oceano aberto, trocando a vastidão azul pela promessa escondida sob as ondas da ilha. Explorava as cavernas úmidas que se abriam nas rochas, espreitava por entre os jardins  dançantes e sondava os abismos escuros com seus olhos atentos.

O tempo escorria como água entre seus tentáculos, mas a determinação daquele animal permanecia inabalável. Ele sabia, no fundo de sua tinta ancestral, que o Reino dos Moluscos de Mayandeua o aguardava. E, com a certeza de que o Inverno retornaria, trazendo consigo as grandes marés e o chamado do lar, Pólypous se despedia das águas da ilha, levando consigo a renovada esperança de que, em sua próxima visita, encontraria finalmente a derradeira morada de seus ancestrais. A busca continuava, nas correntes marinhas e na paciência infinita de um polvo em sua jornada de volta para casa.

- Assim narrou Primolius... 

FIM

© Copyright de Britto, 2020 – Pocket Zine
Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0074

Mensagens populares