* Nº 0263 - IDADES DO SABER ENVELHECER - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Eis o afronto dos anos…
O mar, ora tão próximo, ora tão inalcançável, oscila como as marés dentro do pensamento. Na janela do tempo, escuto a voz do silêncio, que ressoa em rostos refletidos, como espelhos da Sociedade feita de sal e águas. De um berço, nascemos, embalados na fragilidade e na promessa de um horizonte vasto. Seguimos para redes, onde crescemos, sonhamos e repousamos, até que finalmente alcançamos camas onde descansamos o corpo e a alma. Entre um ponto e outro, somos atravessados pelas redes invisíveis da vida, que nos prendem, nos guiam e, por vezes, nos libertam.
Nesses espaços salinos, onde o compasso do tempo marca o ritmo, os dias de pesca refrescam nossas nucas cansadas, trazendo alívio e renascimento. E os mares, com suas espumas efêmeras como sabão, se tornam companheiros, enchendo de orgulho os nossos pés descalços, que percorrem caminhos e lembranças de liberdade.
Eis o afronto dos anos…
Renascer a cada dia, como o sol que emerge renovado sobre o oceano. Cantemos então aos oceanos! Que seu aroma proclame a liberdade, e que os versos fluam em honra às baleias – seres que, conhecendo o profundo e o vasto, jamais esquecem sua Pátria Mãe, esse mar que as abriga e orienta.
Pois bem sabemos: o mar tem braços invisíveis que nos envolvem e, quando necessário, nos guiam, nos amparam ou nos impulsionam. As chuvas do verão vêm e vão, e nas velas baixas das navegações talhadas, enfrentamos ventos e ondas como velhos marinheiros, prontos para o embate e para a aventura.
Já te fiz lua e nuvem, Mayandeua, pintando-te em meu céu pessoal. Mas agora és rota para os náufragos distantes, com teu sorriso guardado no horizonte, como um segredo só teu. O tempo e os minutos não cedem. O mar, sempre alongado e misterioso, guarda lembranças de ventos livres, ventos tão distantes quanto cordilheiras que nunca tocaremos.
Eis o afronto dos anos…
Catar mariscos nas pedras da memória, colher os frutos da jornada, e encontrar, no simples, a perfeição.
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0263