*Nº 0239 - ENQUANTO BRINCÁVAMOS DE FERIAR - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Na imensidão da praia, onde o horizonte se dissolve entre o mar e a terra, um grupo de crianças se aventura em um espetáculo de descobertas. Com os pés descalços sentindo o calor da areia, elas se lançam em perguntas que parecem desafiar o próprio tempo. “Por que a areia brilha tanto?” – indaga uma menina, enquanto observa os raios do sol transformarem o chão arenoso em um manto de luz, como se o solo fosse composto de minúsculos diamantes.
A cada passo, as marcas na areia logo são apagadas pelo vento, que parece ter vida própria. “De onde vem esse vento sem fim?” – um garoto se pergunta, fechando os olhos por um instante para sentir a força invisível que brinca com seus cabelos e com as ondas. Esse vento, tão misterioso quanto constante, envolve as crianças em uma dança que parece eterna.
Mais adiante, elas descobrem um vasto areal que parece se estender até o infinito. A maré, que havia subido há pouco, agora recua, deixando para trás pequenos lagos cristalinos. Uma nova dúvida surge entre os pequenos exploradores: “Para onde foi toda essa água? E onde estão os peixes que nadavam aqui?” Eles observam os espelhos d'água que restaram, à procura de sinais de vida, mas o silêncio prevalece, como se os segredos do mar se escondessem por trás de um véu invisível.
Conforme o sol começa a se despedir, tingindo o céu com cores que oscilam, as crianças voltam para suas casas. O mistério da praia, no entanto, permanece com elas, ecoando em suas mentes curiosas. Quando chegam aos seus lares, são recebidas com a pergunta costumeira dos adultos: “Como foi o passeio?” E as respostas vêm carregadas de uma inocente perplexidade. “Fiz um castelo de areia enorme, e o vento quase o levou embora!” – exclama um deles. “Eu vi um lugar onde o mar desaparece e volta de repente,” relata outro, com um brilho nos olhos.
As histórias que contam são recebidas pelos mais velhos com um sorriso e um olhar nostálgico. Eles sabem que essas aventuras, tão simples e profundas, são os alicerces das lembranças que as crianças carregarão para o resto de suas vidas. No entanto, para os adultos, a magia dessas experiências já se tornou uma lembrança distante, um eco suave das próprias infâncias.
Assim, a praia continua a ser um lugar de encontros e despedidas, de perguntas sem respostas e de mistérios que apenas o coração infantil pode decifrar. E enquanto os ventos sopram e as ondas quebram, as crianças seguem descobrindo, brincando, e criando novas memórias que, um dia, também se transformarão em ecos distantes.
- Crianças do Mundo...
- Mayandeua/Algodoal!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0239