* N° 0205 - TRALHOTO - SÉRIE: A POESIA DE MAYANDEUA
Saltam nas poças rasas,
Espelhos de um mundo minúsculo,
Onde o reflexo do céu se mistura ao sal.
Seus corpos reluzem como prata viva,
Enquanto traçam labirintos invisíveis,
Dançando entre as mãos da maré.
Meninos inquietos!
Na margem da maré,
Tralhotos, acelerados...
Fluem,
Rabiscam...
(Fogos destas marés)
São risos líquidos,
Gritos mudos que ecoam no silêncio,
Brincadeiras que só eles entendem.
Cada movimento é uma história contada,
Uma promessa feita à água,
Um segredo guardado nas ondas.
No crepúsculo, quando o sol se despede,
Os tralhotos parecem cansados,
Mas ainda há energia em seus pulos finais.
As marés suaves os embalam,
Como mães cantando canções antigas,
Prometendo um novo dia de travessuras.
Centenas na flor da água,
Pinotes...
Desengonçados,
Abundância...
Parecem brincar.
Correm daqui...
“Pra li”...
Quatro olhos afobados,
Resvalam...
Ondas trazendo os peixinhos...
Os pescadores observam distantes,
Com redes frouxas e sorrisos largos,
Sabendo que esses meninos são espertos.
Eles escapam pelos dedos,
Escorregam pelas sombras,
E voltam ao seu reino sem dono.
Peixe chistoso,
Abusam,
Improvisam estripulias,
Declives afoitados.
E assim segue o ciclo,
Entre o raso e o profundo,
Entre o brilho e a sombra.
Os meninos inquietos nunca param,
Pois o mangue é seu parque infinito,
E a vida é sua eterna brincadeira.
Tralhotos ladinos,
Cardumes afrontando os Homens
(Caboclo nem liga)
Na beirada da maré,
Recintos acessíveis e soltos,
Irresolutos habitantes pequeninos,
Parecem brincar!
- E lá vem mais!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0205

