*Nº 0241 - O CIRANDEIRO E O MAR - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Naquele fim de tarde, sentado na varanda de uma casa de praia, alguém observava o mar. As ondas iam e vinham, em um ritmo constante e hipnotizante. Ao longe, um grupo de cirandeiros na areia estava envolto em uma dança que parecia seguir o compasso do oceano.
As crianças corriam, riam, e suas vozes se misturavam ao som das ondas quebrando na praia. As lembranças daqueles tempos em que elas mesmas eram crianças, livres de preocupações, brincando nas mesmas areias, vinham à mente. Naquele momento, a combinação de ritmos trazia uma nostalgia doce, quase palpável. O mar, com seu vai e vem constante, era um lembrete do ciclo da vida, sempre em movimento, sempre em mudança.
As embarcações balançavam suavemente, ancoradas ao largo. Seus mastros dançavam ao sabor do vento, que trazia consigo o cheiro salgado e a promessa de novas aventuras. As garças, assustadas pelos estrondos das ondas, levantavam voo em direção ao horizonte, desenhando silhuetas graciosas contra o céu alaranjado. Enquanto se observava aquele espetáculo natural, a sensação de fazer parte de algo maior era inevitável. Os ventos, as cores, os sons, tudo parecia conspirar para criar um momento perfeito de harmonia e beleza. Respirar fundo, deixando que o ar marinho enchesse os pulmões e renovasse as forças, era um ato instintivo.
Os cirandeiros continuavam sua dança, suas mãos unidas em um laço invisível de camaradagem e alegria. A cada volta, a cada passo, eles deixavam para trás as preocupações e os dissabores da vida cotidiana. Ali, na beira do mar, havia uma liberdade única, uma mistura de abraços e sorrisos que transcendia qualquer barreira. As folhas dos mangueiros dançavam ao vento, como que acompanhando a ciranda. O cenário era idílico, quase mágico. Sentia-se abençoado por estar ali, testemunhando aquele momento de pura beleza.
E assim, enquanto o sol se punha e o céu se enchia de estrelas, os olhos se fechavam e deixavam-se levar pelo som das ondas, pelo canto dos cirandeiros, pelo balé das garças. No balançar do mar, encontrava-se uma paz profunda, um acalanto que só a natureza pode oferecer. Era a ciranda de beira-mar, um eterno convite à serenidade e ao encantamento. Naquele instante, sabia-se que, não importa o que acontecesse, sempre haveria aquele lugar, aquela dança, aquele mar. E, no fundo do coração, sentia-se eternamente grato por isso. E assim uma poesia surgiu:
No balançar do mar
O cirandeiro encanta-se
Combinação de ritmos...
Retumbam com o vai e vem de ondas
Salutar de estrondos no fundo...
Abrolham e ensurdecem as garças...
Bailado acelerado de anseios de proa.
Embarcações satisfazem as âncoras...
Vento de fora trazem cores diversas
Brincam juntos, segundo por segundo...
Rememoram as suas ações de crianças soltas.
Neste momento...
Deixam de lado as os espinhos de fora
Dessabores e lembranças envolvem o bailado
Mistura de abraços que transcendem a liberdade
Acalanto de folhas de mangueiros que dançam,
- Ciranda de beira-mar.
FIM
© Copyright de Britto, 2021 – Pocket Zine
Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0241