* Nº 0037 - NAÚFRAGO DA CIDADE GRANDE - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA


Caminhando por entre as areias de Camboinha, sinto a ilha pulsar. É como se ela tivesse um coração que bate em perfeita sintonia com as ondas que acariciam sua praia. O ar traz consigo um perfume inconfundível de prosperidade — uma fragrância salgada e terrosa, entrelaçada ao aroma de peixes assados, despertando memórias e aguçando os sentidos. É verão, e o calor toca os corpos, eriça a pele, fazendo a vida transbordar por cada poro. O vento dança entre os coqueiros, trazendo uma melodia única, decifrada apenas por aqueles que pertencem a este pedaço de paraíso.

Aqui, não sou apenas um visitante; sou parte dela. Sou o quase "porto" dessas águas serenas, sou as algas que se enroscam nas redes dos pescadores e os coqueiros que se curvam ao sabor do vento. Minha ilha não é apenas um lugar; é uma extensão de mim, um reflexo sincrônico do que sou e do que desejo ser. No entanto, Camboinha, com toda a sua beleza, também enfrenta mudanças sutis. Há algo novo no ar: os passarinhos parecem mais vibrantes, suas cores e cantos destacam-se contra o cenário verdejante. Os moradores, serenos, seguem suas rotinas com a tranquilidade de quem confia no curso natural da vida. Camboinha continua graciosa, vestida de brisa e sal, erguendo paisagens que parecem saídas de sonhos.

Por aqui, o espetáculo litorâneo é genuíno: não há telhas, cimento ou lajotas, apenas a simplicidade de um mundo onde os pés tocam a terra em um carinho descalço, onde o sol abraça e o luar envolve tudo com sua luz prateada. Entrego-me a essa natureza exuberante, respiro sua pureza, absorvo sua energia. Camboinha, com seus bancos de areia e cores silenciosas, é um refúgio para almas cansadas das grandes cidades.

Nas noites de lua cheia, minha ilha parece flutuar, dançando entre os sonhos esquecidos do mundo. Ela está lá, humilde e silenciosa, mas vibrante em sua existência. Seus habitantes, afortunados, vivem em um abraço constante com o oceano, que sussurra segredos e canta com o ritmo das ondas. E eu, no meu canto, entrego-me à sua magia. Ouço o som distante dos barcos, imagino o mar abraçando o pequeno porto com ternura. Minha ilha me espera sempre, com um banho de luar e um sorriso que apenas quem pertence a ela pode compreender.

Camboinha, nossa ilha. Ela não é apenas um lugar no mapa; é um pedaço de poesia que estará sempre à espera, com suas melodias, seu ar de liberdade e o eterno aconchego de seu abraço sereno.

— Camboinha acordando! 

FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0037

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