*N° 0260 - INTRODUÇÃO PARA UM LIVRO MAYANDEUENSE - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Escrever sobre o mar é mergulhar em um tempo onde a satisfação e a contemplação se entrelaçam como as ondas que evocam o vento. Cada vez que nos aproximamos do mar, somos convidados a olhar para dentro de nós mesmos, pois ele reflete não apenas o céu infinito, mas também nossas esperanças mais íntimas e desejos inalcançáveis. As memórias, assim como as marés, vêm e vão, trazendo à tona fragmentos de quem fomos e quem podemos ser.
A obra Primoliana emerge nesse contexto como uma homenagem ao poder do oceano — um espelho líquido que ressoa com nossas emoções mais profundas. Ela nos lembra que, muitas vezes, estamos perdidos nas correntes da vida, naufragados pelas complexidades humanas, até que o mar nos ofereça seu abraço silencioso. Ele é um refúgio, um espaço sagrado onde podemos reavaliar nossos caminhos e encontrar forças para recomeçar. Quando exaustos, quando desiludidos, encontramos no mar um convite à renovação, uma chance de nos reinventarmos sob o ritmo suave das ondas.
As águas de Mayandeua , com sua essência única, carregam consigo uma força transformadora. Elas nos confrontam com aquilo que há de mais genuíno em nosso ser, expondo nossas vulnerabilidades e desejos não realizados. Em sua presença, somos ao mesmo tempo refugiados e exploradores, buscando abrigo em suas areias encantadas enquanto navegamos pelos mares internos de nossas almas. O mar, em toda a sua extensão, tem o poder de acalmar os ritmos frenéticos de nossos corações, despertando em nós um desejo puro de viver em harmonia com suas criaturas e paisagens. É ali, entre as marés, que compreendemos a verdade contida na frase "somos mar".
Mas nem todos conseguem ouvir esse eco. Muitos estão perdidos, desesperados, tentando alcançar outras correntes marítimas, buscando algo que ainda não sabem nomear. Este é o sentido deste mar de ideias: ele flui como uma metáfora para nossas próprias vidas, marcadas por desilusões e pela eterna busca pela felicidade. Essa busca é como o movimento perpétuo das ondas, que avançam e recuam sem nunca cessar. E, assim como o mar, nossos sentimentos também se renovam, afastando a solidão ao som do marulhar sob a luz prateada da lua e outros encantos.
Mayandeua, com suas areias e águas cristalinas, torna-se um portal para essa jornada interior. É um lugar onde a vida pulsa em cada grão de areia e onde até os mais céticos se transformam em poetas. Escrever sobre Mayandeua e o mar é aceitar que eles são mutáveis, como nós. Suas cores mudam com o tempo, seus sons variam conforme o vento, e suas histórias são contadas em linguagens que só os sensíveis conseguem decifrar. Transcrever sua essência é um exercício de imaginação, um retorno aos devaneios da infância, onde cada palavra ganha asas e voa em direção ao desconhecido.
Assim, esta reflexão serve como um prelúdio para futuras narrativas, uma introdução delicada ao universo de Mayandeua e ao verbo que ele inspira: “mayandeuar” . É através dessa palavra, soprada pelo vento oportuno, que começamos a redescobrir o sagrado no mar e em nós mesmos. Que estas páginas sejam o início de uma travessia, onde cada linha seja uma onda e cada parágrafo, um horizonte a ser explorado.
Boa viagem!
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0260