*Nº 0122 - TIBUM! - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA



Na penumbra da tarde, quando o sol já começa a se esconder, a ilha de Mayandeua se transforma em um palco de alegria e aventura. Meninos de cabeças raspadas, pés descalços, correm pela praia, deixando pegadas efêmeras na maré. Suas risadas são música para os ouvidos dos pescadores que, ao longe, recolhem suas redes.

Esses meninos, com cabeças arranhadas pelas brincadeiras intensas, são mestres em trepar nas árvores e se embrenhar nos mangues. Como pequenos Tarzans, desafiam a gravidade com uma destreza que só a liberdade pode proporcionar. E então, um grito coletivo: "Thibum!"—e eles mergulham no rio, fazendo tralhotos fugirem em disparada. Meninos de cabeças alisadas, brilhando ao sol, afundam nas águas frescas, nadam com a destreza de peixinhos. Em meio a esse balé aquático, bolas dente-de-leite são “bicudadas” com força e precisão. Cada gol, cada lance bem-sucedido, é seguido de sorrisos e gargalhadas que ecoam pela ilha, contagiando todos ao redor.

Mas não se pode brincar eternamente. Quando a brisa da noite começa a esfriar o ar, meninos de cabeças agatanhadas se levantam, ainda molhados, e começam a caminhar para casa. Seguem desnudos, sem pressa, deixando a areia da praia entre os dedos dos pés. Suas casas simples os esperam, onde mães já preparam o jantar e pais contam histórias de outras épocas. Essas crianças de Mayandeua, com suas cabeças raspadas, arranhadas, alisadas, e agatanhadas, são a essência viva da ilha. Representam uma infância pura, descomplicada, onde a natureza é o playground e a imaginação não conhece limites.

A noite se aproxima, trazendo consigo um frio que faz a pele arrepiar. "Que frio!"—exclamam, correndo os últimos metros até suas casas. O calor do lar os acolhe, e logo o barulho da brincadeira dá lugar ao silêncio confortável do descanso. Amanhã, a maré estará lá, as árvores os esperam, e a vida em Mayandeua continuará seu ciclo. Em meio a essa simplicidade, há uma beleza imensa. São momentos como esses que moldam memórias eternas, que se entrelaçam nas histórias de cada um daqueles meninos. A vida na ilha, com suas dificuldades e encantos, é um constante lembrar de que felicidade não está nas grandes coisas, mas nos pequenos instantes de liberdade e alegria compartilhada.

E assim, enquanto as estrelas brilham sobre Mayandeua, as crianças sonham com novas aventuras. Amanhã, elas estarão de volta à praia, aos manguezais, ao rio, porque a infância na ilha é uma eterna dança com a natureza. E nós, que observamos de longe, não podemos deixar de sentir um leve toque de nostalgia, lembrando dos nossos próprios dias de brincadeiras sem fim. Que frio!—dizem, enquanto se aconchegam em suas redes de dormir. Mas no fundo, sabem que esse frio é passageiro, que a manhã trará novamente o calor do sol e a promessa de mais um dia de aventuras. E assim, a vida em Mayandeua segue seu curso, simples e grandiosa, como as ondas que vêm e vão na praia onde tudo recomeça.

- Crianças de Camboinha!

FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0122

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