*Nº 0032 - A PEDRA QUE CHORA - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Na vida, ouvimos canções que se entrelaçam com o mar, melodias que dançam ao sabor dos segredos das nuvens. Sentimos o vento que atravessa as ilhas distantes, trazendo consigo histórias de terras ainda desconhecidas pela imaginação humana. Essa é a missão do mar: ser guardião e mensageiro. E nesse movimento eterno, precisamos aprender a ouvir o silêncio, pois nele há contos e encantos, vozes que choram, cantam, ecoam. É um gesto natural, que nos invade como o sal dos oceanos, revelando mistérios antigos e presentes. A natureza se defende, e até a pedra chora.
Entre o perfume da maré, escuta-se o seu lamento — uma melodia triste que se repete incansavelmente. O delito ocorre todos os dias, em todas as horas, um ciclo imposto pelo próprio homem do mar, que navega alimentado por desejos de horizontes cada vez mais longínquos. Entre as marés, a pedra chora, cantando sua canção de um antigo mar, de tempos em que era possível curar, cantar, amar. Verbos que outrora compunham uma metáfora de "choro" alegre, hoje não passam de ecos de um passado distante. A pedra chora em silêncio, vítima de um tempo seco e covarde. Chora no tempo, sangra sem água, sob os olhos de seus filhos. Ela chora calada.
Além de aqui, entre as pedras ou na areia onde a Princesa Sereia descansa, a pedra já não chora como antes. Seu enredo atual é o lamento, um canto que cresce à medida que os dias passam. Aos poucos, ela vai morrendo com o tempo, levando consigo a saudade de si mesma. Questionamos: será que a pedra resistirá até o próximo verão? Ou até o próximo inverno? O que sabemos é que ela já não é admirada, falada, visitada. Está lá, calada. A pedra, que um dia chorou no seio de Mayandeua, talvez ainda chore em silêncio. Lá, tudo é encantado.
Mayandeua, um lugar onde a terra e o mar se encontram através dos Encantados e Portais, onde as pedras têm histórias para contar e lágrimas para derramar. As canções das águas se misturam aos ventos das ilhas, criando uma sinfonia única que celebra a vida em sua forma mais pura. É um ciclo de vida e morte, de alegria e tristeza, de cura e lamento. A pedra, com seu pranto contínuo, torna-se símbolo da resistência da natureza frente às mudanças impostas pelo homem. Ela chora por um tempo em que as águas eram cristalinas, quando as marés traziam apenas vida e esperança. Agora, as ondas carregam também a tristeza e o lamento de um mundo que muda rápido demais.
A pedra que chora em Mayandeua nos lembra da urgência de cuidar do nosso planeta, de ouvir os lamentos silenciosos da natureza e agir antes que seja tarde demais. Ela é um testemunho mudo da beleza e da fragilidade do nosso mundo. Enquanto ela chora, nós, os filhos deste mundo, devemos ouvir e responder ao seu chamado. Mas quase ninguém quer ouvir.
Mayandeua, com suas histórias encantadas, seus ventos e marés, continua a nos ensinar sobre a delicadeza da vida e a importância de preservar o que temos. A pedra, embora calada, fala conosco através de suas lágrimas, contando histórias de tempos antigos e de um futuro incerto. É na simplicidade da pedra, na pureza do mar e na força dos ventos que encontramos a verdadeira essência de Maya. Um lugar onde cada elemento da natureza tem uma voz, onde cada som é parte da grande sinfonia da vida. E assim, continuamos a ouvir, a aprender e a proteger o que é precioso para nós.
Mayandeua, com suas belezas naturais e seus encantos, permanece um lugar de inspiração e reflexão. A pedra que chora é um lembrete constante de nossa responsabilidade para com a natureza e de nossa profunda conexão com o mundo ao nosso redor. Que possamos sempre ouvir seu lamento e agir em defesa de nosso planeta, para que as futuras gerações também possam ouvir as canções do mar e os segredos das pedras.
— La! Tudo é encantado!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0032

