*Nº 0038 - PECÚNIA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

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Nos confins do mangue, onde a natureza revela seus segredos mais íntimos, vivia a caboca odorosa. Ela habitava a fina flor do mangue, onde a vida pulsava vibrante. Destemida, subia nos altos açaizeiros, seus pés adornados com a pecúnia da mãe natureza. Caboca do Norte, descia audaz, chupando os frutos com seus beiços de chuva, saboreando a essência da mata. Deslizava pelo remanso como uma piaba natural, montaria enlaçada, encantando só de olho, enquanto os guarás também observavam em silêncio.

Um dia, uma chuva forte desabou sobre o mangue. A caboca, assombrada pela fúria da tempestade, viu sua montaria sendo levada pela correnteza. Sem hesitar, lançou-se na maré bravia. Dezenas de tucuxis emergiram das águas, cercando a caboca que, sufocada pelo caos aquático, lutava para respirar. O mangue, em um silêncio sepulcral, assistia à cena com uma quietude respeitosa. E assim, a caboca partiu, encantada, rumo ao desconhecido.

Agora, a caboca aromática reside no Reino das Águas. Sua lenda ecoa entre as árvores e os rios, um sussurro de coragem e mistério. A mata lembra-se dela como uma filha da terra, que desafiou os elementos e encontrou seu destino entre as profundezas do mundo aquático.

 - Primolius assim relatou!


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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0038

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