*N° 0070 - MEUS TANTOS ANOS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA



Sob os mangueiros,  estavam o homem e o menino, ambos com suas almas livres e seus corações em paz. Ali, naquela manhã serena, onde o sol mal despontava no horizonte, o tempo parecia correr mais devagar, quase parando para contemplar aquele encontro de gerações. O pai, já marcado pela vida, carregava nos olhos a sabedoria dos anos, enquanto o filho, com o brilho da infância, trazia consigo a energia vibrante da juventude. Respiravam juntos o ar fresco, mas cada um inalava um sentimento diferente. O homem, envolto em memórias, sentia no peito a saudade das vivências passadas, das aventuras de outros tempos. Já o menino, com os bolsos cheios de petecas bolivianas, pensava apenas nas próximas travessuras, nas corridas pelo quintal, nas risadas que ecoavam como música na brisa matinal.

Sob as copas verdes dos mangueiros, os dois se entregavam à simplicidade do momento. Os bem-te-vis, em coro, celebravam o dia que nascia, e pai e filho, como se guiados por uma melodia invisível, pulavam e dançavam no quintal, seus movimentos sincronizados pela alegria pura de estarem juntos. O homem via no filho a continuação de sua própria história, um novo capítulo escrito com a tinta dos dias felizes. O menino, por sua vez, via no pai um herói, um companheiro de brincadeiras e o guardião de segredos infantis.

Aos nove anos, o mundo ainda era vasto e cheio de possibilidades. Debaixo dos mangueiros, olhando para o céu, pai e filho permitiam-se sonhar. As nuvens que passavam acima pareciam formas vivas, mutantes, ora sugerindo animais fantásticos, ora mares revoltos. E enquanto montavam seus sonhos, esses dois seres, em diferentes estágios da vida, encontravam uma conexão profunda, como se o tempo ali, na sombra dos mangueiros, não existisse.

As nuvens, que outrora pareciam falar, agora sussurravam promessas de um futuro ainda por vir. O homem viajava para o passado, revivendo seus próprios dias de menino, enquanto o filho imaginava o futuro, repleto de aventuras que ainda não tinha vivido. E juntos, naquela manhã tranquila, pai e filho compreendiam, sem precisar de palavras, que estavam vivendo os dias de seus melhores anos.

A sombra dos mangueiros os envolvia, criando um refúgio onde o tempo era apenas uma ilusão. Ali, naquele instante eterno, eram apenas pai e filho, homem e menino, duas almas unidas pelo amor e pela cumplicidade. Sob os mangueiros, o presente era um presente, e o futuro, uma promessa que se construía na simplicidade de um dia qualquer.


Pai e filho...
Na sombra do tempo...

- Dias de nossos melhores anos.

FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0070

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