*N° 0216 - FORTALEZINHA “Menina” de Mayandeua - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA




Fortalezinha é mais do que uma simples vila: é uma joia rara, lapidada pela força do tempo e pelo carinho de seus habitantes. Ali, cada sorriso traz a leveza e a sabedoria de quem vive em harmonia com a natureza, e cada canto da vila parece sussurrar segredos antigos para aqueles que se permitem escutar. Fortalezinha é um abraço acolhedor, uma dança entre cultura e natureza que só se revela para quem se deixa enraizar na simplicidade de suas terras e mares. 

As ruas, cobertas de areia e pedras, suas ladeiras harmoniosas, são mais do que simples caminhos; são volumes que carregam as memórias dos que vieram antes, testemunhos vivos dos que pisaram esse chão e contribuíram para a história da vila. Cada passo é um mergulho em histórias contadas pelas vozes do vento, que se misturam ao canto dos pássaros e ao ritmo suave das ondas que beijam a costa. As árvores frondosas, especialmente as mangueiras da rua principal, são como testemunhas de gerações, suas raízes entrelaçadas com a própria essência do vilarejo. Ali, o vento não é apenas uma força natural: é um velho amigo, sempre presente, que parece velar por Fortalezinha e saudar quem chega, convidando a todos a compartilhar do segredo dessa terra.

As casas pintadas em cores vibrantes refletem a alegria e o vigor de seus moradores. São moradias que, mais do que abrigos, irradiam uma vivacidade que brota da terra, das águas e do céu. Canoa após canoa, as águas tranquilas da vila são cruzadas por embarcações que carregam mais do que pessoas – levam sonhos, esperanças, a força e a resiliência dos que ali vivem. Ao longe, o mar parece íntimo, guardado como um tesouro, enquanto os coqueiros se curvam em danças suaves ao ritmo dos "Maraventos", compondo melodias que encantam e acolhem.

Os habitantes de Fortalezinha são os guardiões de um saber que se confunde com as águas e se dispersa com o vento. É um conhecimento antigo, transmitido no som dos curimbós que ecoam durante as festas, marcando o compasso de uma cultura viva, sempre pulsante. Cada celebração é uma manifestação do espírito coletivo, onde a ancestralidade ganha corpo e se renova, permitindo que Fortalezinha se revele majestosa e acolhedora, uma anfitriã que abraça todos os que chegam, com o sorriso e o calor de quem vive à beira do mar.

Ao se aproximar desse lugar mágico, o horizonte se transforma, e o que era apenas paisagem ganha vida. As canoas coloridas deslizam pelas águas calmas, levando consigo os anseios dos pescadores e das famílias, que lançam seu olhar para o outro lado da margem. É como se Fortalezinha se estendesse além de seu espaço físico, ressoando na alma de quem se deixa tocar por ela. As águas, ora calmas, ora inquietas, guardam mistérios e belezas que apenas os que sabem apreciar o silêncio conseguem decifrar. O céu é um palco, onde pássaros dançam em liberdade, e o mar, com seu azul profundo, reflete o mundo interno daqueles que aprenderam a respeitar e a amar essa terra.

Quando a noite cai, é a lua que assume o papel de guia, iluminando as trilhas e aquecendo os corações dos que ali se encontram. Nas estradas de areia e nos caminhos percorridos de bicicleta, sente-se a presença dos antigos moradores, mesmo que invisíveis aos olhos. Cada curva, cada pedacinho de chão conta um pouco da vida daqueles que ajudaram a construir a identidade desse lugar. A rabeta, deslizando suavemente pelas águas do rio, carrega histórias, segredos e risadas, como se ao deslizar contasse ao vento todas as suas lembranças e saudades, guiando-se em direção à “menina” de Mayandeua, esse refúgio onde o vento sopra eternamente e onde o coração se reencontra com o que há de mais verdadeiro e simples.

Fortalezinha é um lugar onde o tempo parece desacelerar, onde a vida encontra um ritmo próprio, mais suave, mais autêntico. É um espaço que transcende o físico, que deixa marcas profundas na memória e nos sentimentos de todos que têm a sorte de conhecê-la. Aqui, o tempo parece parar, e a essência da vida se revela em toda sua pureza e beleza. É um lar para os que buscam um reencontro com a simplicidade, onde o mar e a terra se encontram em harmonia, e onde o vento, eterno guardião, sussurra histórias para quem se dispõe a escutá-las.

E assim, ao som do murmúrio do vento e das águas, lá vai a rabeta, cortando o rio e se dirigindo à “menina” de Mayandeua, levando consigo pedaços de histórias e pedaços de alma.

Fortalezinha... 

Terra do vento e do mar...

FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0216

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