N° 0936 - CUIDANDO DO MANGUE - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


No manguezal, onde as raízes das árvores se entrelaçavam  a vida pulsava em cada canto, viviam Melya, a tartaruga, e Coquy, o caranguejo. Suas tocas, feitas nas águas rasas, eram seus refúgios de paz e segurança. O manguezal era um lugar de harmonia, onde cada ser vivia em equilíbrio, com as marés trazendo e levando, sem pressa, o fluxo da vida. Melya e Coquy desfrutavam desse ritmo sereno, compartilhando o espaço com diversas outras criaturas que, assim como eles, encontraram ali o lar ideal.

Mas essa tranquilidade, que parecia eterna, foi bruscamente interrompida. Um dia, ao saírem de suas casas para explorar, Melya e Coquy perceberam que algo estava terrivelmente errado. As águas, que antes eram claras e frescas, estavam sujas e cheias de resíduos. Mais alarmante ainda, as raízes dos mangueiros estavam secando, e as tocas de Melya e Coquy, antes seguras, estavam desmoronando. Algo estava fora de lugar, e logo eles descobriram o que estava acontecendo: o manguezal estava sendo invadido pela poluição.

A causa de toda a destruição era clara: os humanos, em sua busca implacável por conveniência, estavam despejando lixo nos rios que alimentavam o manguezal. Plásticos, metais, substâncias químicas e outros resíduos estavam sendo arrastados pela correnteza, contaminando a água e destruindo o equilíbrio natural do ecossistema. Melya, com sua paciência e sabedoria de tartaruga, e Coquy, com sua agilidade e coragem, não podiam simplesmente ignorar o que estava acontecendo. Suas casas estavam ruindo, mas o que os preocupava ainda mais era o futuro do manguezal e dos seus amigos.

Determinaram que não poderiam ficar parados. Eles precisavam agir para salvar seu lar. Porém, para restaurar o equilíbrio da natureza, seria necessário mais do que apenas vontade; precisavam de ajuda, uma força coletiva que fosse capaz de reverter os danos já causados. Com coragem renovada, Melya e Coquy decidiram partir em busca de ajuda. Eles sabiam que não podiam fazer tudo sozinhos e que precisavam de aliados para enfrentar o inimigo invisível da poluição. Enquanto exploravam os cantos do manguezal, encontraram outros animais que também estavam sofrendo os efeitos da contaminação. A garça, com suas penas enfraquecidas pela água suja, o peixe-boi que mal conseguia respirar nas águas contaminadas, e até o camarão, cuja colônia estava sendo destruída pela acidez da água – todos estavam desesperados e prontos para lutar.

Com muita coragem e a determinação de salvar seu lar, Melya e Coquy começaram a formar uma equipe de resistência. Cada um deles, com suas habilidades únicas, tinha algo valioso a oferecer. Juntos, eles formariam um exército de seres vivos dispostos a lutar pela preservação de seu ambiente em Maya. A equipe de Melya e Coquy cresceu rapidamente. Animais de todas as formas e tamanhos se uniram à causa, reconhecendo que o problema não era apenas individual, mas coletivo. A garça usava seu olhar aguçado para detectar os focos de poluição mais graves, enquanto o peixe-boi, com sua força, ajudava a arrastar os resíduos flutuantes para fora das águas. O camarão, com suas habilidades de escavação, trabalhava no fundo, limpando os sedimentos e removendo as toxinas acumuladas.

A união dos animais, cada um contribuindo com o que podia, começou a fazer a diferença. Aos poucos, aquele local do mangue na ilha de Maya foi se tornando mais limpa, os mangueiros começaram a recuperar suas raízes, e as tocas de Melya e Coquy voltaram a ser seguras. Mas a luta ainda não estava ganha. Para que o manguezal fosse realmente restaurado, era preciso mais: as pessoas precisavam ser educadas sobre os danos que estavam causando à natureza e a urgência de mudar seus hábitos.

Melya e Coquy sabiam que a verdadeira mudança só aconteceria quando os humanos começassem a entender a importância de proteger o meio ambiente. Então, com o apoio de seus amigos animais, sendo cachorros e gatos das vilas,  criaram um movimento para educar as pessoas. Organizavam encontros com a comunidade local, onde mostravam de suas maneiras os danos causados pela poluição e explicavam através de gestos e atitudes diárias  como cada ação humana podia afetar a vida no manguezal.

As palavras de Melya e Coquy, simples mas cheias de sabedoria, começaram a ecoar. “Preservar é o verdadeiro progresso”, diziam. Eles faziam com que as pessoas vissem o manguezal não apenas como um recurso, mas como um organismo vivo, interligado com tudo ao seu redor. O manguezal, uma vez deteriorado, foi gradualmente sendo restaurado, não apenas fisicamente, mas na mente das pessoas que começaram a perceber a importância de cuidar da natureza naquela parte da ilha.

Os habitantes do manguezal, agora unidos e fortes, celebravam cada pequeno avanço. Ao final de cada dia, os animais se reuniam para cantar uma canção de carimbó sobre respeito à natureza, sobre cuidado mútuo e sobre a compreensão de que todos estavam conectados por um delicado equilíbrio. A canção, que começara como um sussurro, agora ecoava com força por todo o manguezal, uma lembrança constante do trabalho conjunto, da luta pela preservação e da força da empatia.

Com o manguezal recuperado, o manguezal floresceu, e a canção de Melya e Coquy nunca parou de ser cantada. A natureza, finalmente, foi reconhecida como o tesouro precioso que é. E assim, o manguezal naquela parte de Maya continuou a brilhar como um exemplo de harmonia, de respeito pela vida e pela ilha, mostrando a todos que, quando se trabalha juntos, podemos transformar até os maiores desafios em vitórias duradouras. 

- E assim foi naquele canto da ilha....


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0936


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