* N° 0889 - CANÇÃO DE MARIPOSAS - SÉRIE : CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Às vezes, Yterus atrevia-se a dizer que as mariposas eram como aviões — pequenos e ligeiros, voando sem direção certa, mas sempre com uma missão oculta aos olhos humanos. Outras vezes, ele se pegava em discussões poéticas sobre as moedas jogadas ao mar, aquelas que os viajantes lançavam em busca de um desejo ou promessa. Para ele, essas moedas se tornavam símbolos de esperanças flutuantes, jogadas em direção ao horizonte, como se o oceano pudesse entender os segredos mais profundos da alma. Tudo, na verdade, era incerto, indecifrável. Mas Yterus acreditava que a paciência assegurava o que os olhos não conseguiam ver, que no silêncio do tempo e no movimento das marés, as respostas chegavam — mesmo que sutilmente.

Era nesse contexto de mistério que ele dizia: "Os muitos se tornam reis e rainhas de suas palavras." Ele sabia que, embora o mundo estivesse repleto de incertezas, cada um governava seu próprio império de pensamentos. Às vezes, ao acordar, Yterus sentia o cansaço nos olhos. Esse cansaço vinha não apenas do sono, mas do brilho constante das luzes artificiais que adornavam o mundo moderno, um brilho que mascarava o escuro natural da noite e do pensamento. E em meio a essas reflexões, ele contava histórias. Histórias antigas, às vezes já ouvidas, outras vezes inventadas na hora. A narrativa sempre fazia parte de quem ele era. Mesmo quando o frio invadia seus pés — um frio que parecia prendê-lo à terra firme, acorrentando aquele que não queria se aventurar de volta ao mar. O frio era como uma metáfora para o medo, uma resistência silenciosa de quem deseja o conforto da terra, mas, ao mesmo tempo, sonha com as águas vastas e imprevisíveis.

Yterus, porém, gostava de multiplicar as vaidades. Ele acreditava que, por mais que resistíssemos, as pequenas ambições de aventura e descoberta sempre voltavam. E, em suas propostas mais ousadas, sempre sugeria que, pelo menos uma vez por ano, fosse feita uma visita à ilha dos encantados. Esse lugar mítico, de beleza etérea e segredos antigos, vivia em sua imaginação como um refúgio onde todas as histórias se cruzavam, onde o passado e o futuro se encontravam. Era a ilha dos recantos de Maya, uma terra de magia e mistério que, segundo ele, todos deveriam conhecer. Às vezes, Yterus se via escrevendo aquilo que já tinha sido cantado em alguma canção antiga, daquelas que falavam do mar e do vento. Melodias que narravam o encontro das águas com a terra, os bailados do fim da tarde em uma ilha onde os sons ecoavam suaves, como o último suspiro do sol antes de desaparecer no horizonte. Ele sabia que essas canções falavam não apenas do oceano, mas também dos recantos da alma, daqueles lugares que só podemos visitar em sonhos ou memórias.

E assim, entre mariposas que se tornavam aviões, moedas jogadas ao mar e histórias de reis e rainhas de palavras, Yterus continuava a traçar seu caminho. Ele, que tantas vezes sentiu o frio nos pés, também sabia que, para chegar à ilha dos encantados, era preciso coragem para se lançar ao mar, para abraçar o desconhecido e fazer das incertezas a própria aventura.

- Um dos caminhos para Maya!


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0889

     

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