N° 0792 - A ANTIGA CAMBOINHA - CRÔNICA

 



Relatos antigos....  

Na vila de Camboinha, aninhada à beira-mar, erguia-se uma modesta residência onde as paredes brancas refletiam a suave dança da luz solar sobre as ondas. Ali, o coração desse lar simples pulsava no forno de argila, não apenas como centro da culinária, mas como guardião de memórias gustativas. Nos arredores, repousava um pote de cerâmica, testemunha silenciosa onde muitos visitantes matavam a sede com água fresca e ouviam os relatos dos pescadores que desafiavam o oceano em busca de sustento. Nas calmas tardes, os pescadores atavam suas redes de descanso no grande quintal e se balançavam como uma canção suave, acolhendo cochilos restauradores e sonhos entremeados com os murmúrios das ondas.

Mais tarde, na sala iluminada por lamparinas que pendiam como astros domésticos, transformava-se em um santuário de calor humano. Ali, famílias se reuniam para compartilhar risadas, contos e o peixe assado que nascia do ancestral forno de argila. Enquanto a luz terna das lamparinas pintava rostos enrugados e olhos sábios que conheciam a ilha de todas as formas.

Num dia especial, uma viajante, guiada pela curiosidade e anseio por descobertas, encontrou-se naquela casa singela. Dona Ysys, entre sorrisos calorosos, ofereceu-lhe um lugar à mesa. A mulher, envolta pela essência do mar e pela simplicidade da vida, entrelaçou-se à trama tecida pela chama do forno, pela brisa marítima e pelo calor humano que emanava daquele refúgio especial.

Assim, no coração de Camboinha, um forno de argila ancestral desenhava arabescos de fumaça, lançando ao ar o perfume tentador de iguarias preparadas com o esmero de Dona Ysys, a artesã culinária da comunidade. Cada preparo era impregnado com a essência mágica da própria vila.

Tarde da noite, sob a sombra dos mangueiros e cajueiros altivos, redes de descanso balançavam suavemente, como se embaladas por melodias secretas da vila. A luz de lamparinas emoldurava este espaço mágico, criando um cenário que se transformava, quando as estrelas se acendiam no firmamento. Neste contexto, Camboinha era mais do que um local; era um encanto, onde o mundo tangível e o reino dos encantados se entrelaçavam em uma dança cósmica. Nesse epicentro, portais invisíveis pulsavam com uma energia ancestral, criando uma comunhão única entre o mundo natural e as dimensões mágicas da ilha. Os mangueiros e cajueiros, com suas raízes entrelaçadas, abrigavam segredos e, diziam os moradores mais antigos, escondiam os portais para a Trilha Encantada até Fortalezinha. Mistérios envolviam esses portais, diziam que apenas os corações mais puros e os olhos mais atentos poderiam vislumbrar o caminho através da densa vegetação de outrora.

Assim, Camboinha tornava-se um epicentro não apenas de aromas e sabores, mas de energias transcendentais, onde os limites entre o real e o mágico se desvaneciam, e todos, desde os bichos da mata até os seres encantados, eram atraídos pela magia da vila através de seu tempo no espaço de Mayandeua. Bem como, entre as sombras densas da mata de Camboinha, onde o verde exuberante se entrelaça em um emaranhado de mistério, reside o segredo ancestral da ilha: as feiticeiras. Escondidas dos olhares curiosos, elas guardam os portais mágicos que pontilham a Trilha Encantada até Fortalezinha. Dizem que as feiticeiras são seres de poder incomensurável, cujos conhecimentos ultrapassam os limites da compreensão humana. Seus murmúrios ecoam entre as árvores antigas, sussurrando segredos antigos e lançando encantamentos sobre aqueles que se aventuram pela mata para maltratar a Biodiversidade da ilha. Segundo dizem, para conhecer  os mistérios das feiticeiras é preciso coragem e determinação. É preciso mergulhar nas profundezas da mata, abrir os olhos para as maravilhas da ilha e abrir o coração para a magia que permeia cada folha, cada raiz e cada suspiro que emana através da natureza da ilha.

- Ouçam!  Lá na mata! 

- As Feiticeiras! 


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius N° 0792




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