*Nº 0764 - O PINTOR DE LUAS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Ykenyus, um jovem sonhador da pequena vila costeira, sempre se destacou por sua maneira peculiar de ver o mundo. Seus pensamentos eram habitados por cores vibrantes, formas etéreas e sonhos impossíveis. Mas o que o diferenciava verdadeiramente dos outros era sua paixão singular: pintar luas. Desde muito cedo, ele se encantava com o brilho prateado da lua no céu noturno. Enquanto as outras crianças corriam nas praias sob a luz suave da lua, Ykenyus ficava parado, olhando para o céu com os olhos cheios de admiração. Ele não queria apenas admirar a lua, queria dar a ela vida, cores e nomes que a tornassem única em cada uma de suas fases e formas.

Ykenyus, com seu espírito criativo e sua imaginação incansável, concebeu um plano extraordinário: ele nomearia cada lua com o nome de uma flor. Para ele, as flores representavam emoções, memórias e sonhos que desejava compartilhar com o mundo por meio de suas pinturas. Cada lua, em sua concepção, teria a alma de uma flor, e suas pinceladas fariam a conexão entre o céu e a terra, entre o cosmos e o coração humano.

Todos os dias, em seu humilde barraco de madeira, Ykenyus se dedicava a essa tarefa. Com seus pincéis feitos à mão e tintas que ele mesmo criava a partir de pigmentos naturais, ele pintava lua após lua. Cada uma era diferente da anterior, com cores que pareciam conter toda a complexidade do universo. Ele as nomeava com cuidado, associando-as a flores como “Orquídea Azul”, “Jasmim da Noite” e “Lírio dos Ventos”. E então chegou o dia em que ele decidiu pintar uma lua especial: "Mayanda", uma flor mística que, segundo as lendas da vila, representava o portal entre o mundo real e o mágico.

Foi nessa noite que algo inexplicável aconteceu. Enquanto Ykenyus dava vida às cores da lua Mayanda com suas pinceladas delicadas, as tintas começaram a brilhar com uma luz misteriosa. Era como se a lua em sua pintura estivesse ganhando vida própria, irradiando uma energia que ele nunca havia experimentado antes. As cores pulsavam, se transformando e criando tonalidades que iam além da imaginação humana. O jovem pintor, em êxtase com o que estava acontecendo, não conseguia parar. Quanto mais ele pintava, mais intensa a luz se tornava, preenchendo o pequeno barraco com um brilho místico.

No entanto, conforme a luz aumentava, Ykenyus começou a sentir algo estranho no ar. Uma presença invisível parecia observá-lo, algo além do mundo físico. O barraco, antes acolhedor e familiar, agora parecia envolto em mistério. Um arrepio percorreu sua espinha, e seus olhos se fixaram na lua Mayanda. Ele sentiu que a pintura estava tentando comunicar algo, como se fosse um portal para outro mundo.

De repente, uma brisa suave entrou pelas janelas abertas, carregando consigo um sussurro que parecia vir do próprio vento. O murmúrio era quase inaudível, mas Ykenyus sentiu que era mais do que apenas o vento nas árvores. As velas ao redor do barraco tremularam, projetando sombras dançantes pelas paredes, enquanto a sensação de uma presença enigmática permeava o ambiente. Era como se ele estivesse na fronteira entre o real e o sobrenatural, e a lua Mayanda, em sua pintura, fosse a chave para atravessar essa fronteira.

Ykenyus, fascinado e assustado ao mesmo tempo, sabia que estava diante de uma escolha. Ele poderia parar, recuar e deixar os mistérios permanecerem ocultos, ou poderia continuar, seguir o chamado da lua e descobrir o que estava além do véu do desconhecido. Seu coração, no entanto, não lhe dava escolha. A chama da curiosidade ardia forte dentro de si, e ele sabia que precisava continuar.

Conforme ele pintava os últimos traços da lua Mayanda, a luz mágica que emanava da pintura se intensificou, envolvendo-o completamente. Então, em um instante de pura revelação, ele sentiu uma força puxá-lo, como se a pintura fosse um portal. A realidade ao seu redor começou a se distorcer, e Ykenyus foi sugado para dentro de um vórtice de cores e luzes.

Quando ele abriu os olhos, já não estava mais em seu barraco. Ao seu redor, estendia-se um novo mundo, vasto e indescritível, com paisagens que desafiavam as leis da física e da lógica. Ele havia sido transportado para as Sete Cidades de Fora de Mayandeua, um reino místico, repleto de segredos e enigmas. Ali, os Encantados — os antigos guardiões daquele mundo — o observavam silenciosamente, esperando seu próximo movimento.

E assim, começava a jornada de Ykenyus pelos arredores de Algodoal, onde ele descobriria os mistérios da ilha encantada, os segredos das luas que ele tanto amava e o verdadeiro poder que residia em suas pinturas. O jovem pintor estava prestes a embarcar em uma aventura além de qualquer sonho que ele já havia imaginado.

- Primolius depois contará esta nova história


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0764




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