*Nº 0686 - REINO DA FLORA DA AMAZÔNIA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA




Nas terras lendárias da Ilha de Mayandeua e Algodoal, localizadas no coração das águas misteriosas do Norte, um novo reino emergia, vibrante e pulsante: o Reino da Flora da Amazônia. Este reino, ao contrário dos outros, não era delimitado por muralhas ou fronteiras visíveis, mas por uma exuberância inigualável de vida, onde as árvores falavam com o vento e as plantas teciam segredos com suas raízes profundas. Em seu âmago, a mata era viva, quase como um ser consciente, abrigando uma vasta rede de seres encantados e espíritos que protegiam seu equilíbrio e harmonia.

Esse reino mítico florescia sob a tutela de Maya, a guardiã de Mayandeua, uma entidade antiga e sábia que se conectava com os elementos naturais em sua forma mais pura. A própria ilha, envolta em neblina de mistério e magia, era um santuário para todas as espécies da flora amazônica, desde as mais humildes ervas curativas até as majestosas árvores centenárias que dominavam o céu com suas copas entrelaçadas. Entrelaçando-se com o ciclo das marés e o fluir dos rios, esse reino vegetal era ao mesmo tempo forte e delicado, capaz de suportar a fúria das tempestades e, ainda assim, florescer em silêncio nas manhãs serenas.

O Reino da Flora da Amazônia abrigava muitas lendas, e uma das mais antigas falava de uma jovem chamada Kailash, a exploradora que há muito tempo descobriu o Batuque dos Ventos. Sua linhagem continuava viva naquelas terras, agora com sua descendente mais jovem, a princesa Jaciara, que herdara o dom de sua ancestral. Jaciara era conhecida por sua habilidade única de se comunicar com as plantas da ilha e de ler os sinais do reino vegetal como um livro aberto. Diziam que, assim como sua antecessora Kailash ouvia os ventos, Jaciara ouvia o sussurro das folhas e o murmúrio das raízes, recebendo conselhos e advertências diretamente do coração da floresta.

Certa vez, enquanto vagava sozinha pelas trilhas sinuosas de Mayandeua, Jaciara sentiu o chamado de algo mais profundo. As folhas das árvores dançavam em um padrão que ela nunca havia visto antes, e o aroma no ar era mais doce e intenso, como se o próprio reino estivesse tentando se comunicar com ela. Movida por uma curiosidade incontrolável, ela seguiu os sinais até chegar a um lugar onde a mata parecia respirar de forma mais intensa — o ponto onde a vegetação se tornava mais densa, e a energia, quase palpável.

Ali, entre cipós e samambaias gigantes, ela encontrou um portal natural, formado pelo emaranhado das raízes de uma árvore ancestral, a Mãe das Árvores, que se dizia ser a primeira a crescer na Ilha de Algodoal. Ao atravessá-lo, Jaciara foi transportada para uma dimensão oculta, um reino paralelo onde a flora da Amazônia governava soberana. As árvores tinham troncos tão grossos que pareciam pilares de um templo milenar, e as flores emanavam luz própria, iluminando o caminho da princesa.

Nesse reino, ela encontrou Yaraê, o espírito protetor da flora amazônica, uma figura etérea formada por folhas e cipós, com olhos que refletiam o brilho do sol e da lua. Yaraê saudou Jaciara, explicando-lhe que o Reino da Flora era o verdadeiro coração de Mayandeua e Algodoal, e que sua função era manter o equilíbrio entre todas as formas de vida. Os ventos de Kailash e as águas dos rios eram partes fundamentais desse ciclo, mas o segredo para a verdadeira harmonia estava nas raízes profundas das árvores e no crescimento silencioso das plantas. Jaciara, sendo a herdeira de uma linhagem sagrada, tinha o dever de se tornar a guardiã do reino vegetal, protegendo-o das ameaças externas e preservando seu equilíbrio ancestral.

A partir daquele momento, Jaciara dedicou sua vida à proteção da flora da Amazônia. Ela estudou os mistérios do reino vegetal com dedicação e sabedoria, tornando-se uma ponte viva entre o mundo dos humanos e o mundo encantado das plantas. Sob sua liderança, o Reino da Flora da Amazônia floresceu como nunca antes, e o conhecimento sobre as plantas e suas propriedades curativas se espalhou pela ilha e além, alcançando terras distantes.

Com o tempo, a conexão entre o Reino da Flora da Amazônia e as ilhas de Mayandeua e Algodoal tornou-se inquebrável. As plantas floresciam em sincronia com as marés, e cada mudança na natureza era recebida com reverência e entendimento. A tribo dos Tucuxiwaras, que ainda venerava o Batuque dos Ventos, passou a visitar o reino da flora, entendendo que os segredos do vento e das plantas estavam interligados. Ao lado das Guerreiras do Vento, surgiram as Guardiãs da Flora, mulheres sábias treinadas por Jaciara para proteger e celebrar a vida vegetal.

Esse novo ciclo de prosperidade uniu ainda mais as forças da natureza e as comunidades humanas. Os segredos do Reino da Flora da Amazônia foram compartilhados, não apenas para curar doenças físicas, mas também para restaurar o equilíbrio espiritual daqueles que viviam nas ilhas e nos territórios além. As lendas de Maya, Kailash e Jaciara continuaram a ser transmitidas de geração em geração, simbolizando a importância de viver em sintonia com a natureza e a compreensão de que a verdadeira sabedoria reside nas raízes profundas da terra e nos ventos que sopram sem cessar.

E assim, o Reino da Flora da Amazônia permaneceu como um símbolo vivo de esperança, cura e harmonia, um lugar onde todos os seres podiam encontrar paz e orientação no coração da floresta, ouvindo os segredos sussurrados pelas folhas e sentindo o ritmo pulsante da vida no centro da criação.


FIM

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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0686

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