*Nº 0685 - REINO DA FAUNA DA AMAZÔNIA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA
Nas profundezas das vastas florestas tropicais que envolvem a Amazônia, onde a vida pulsa em cada gota de chuva e nas sombras das árvores gigantes, existe um reino tão misterioso quanto grandioso: o Reino da Fauna da Amazônia. Este reino é habitado por criaturas extraordinárias, cujas vidas estão intrinsecamente conectadas aos segredos da mata. Não é apenas um território físico, mas um espaço mágico e simbólico, onde a diversidade da vida é reverenciada como uma manifestação divina.
Esse reino está oculto aos olhos dos mortais, acessível apenas àqueles que possuem uma conexão profunda com a natureza ou que foram escolhidos pelos espíritos protetores da fauna. Dizem que em suas margens invisíveis, todos os animais são governados por uma entidade majestosa, o espírito protetor chamado Kaaporê, um ser mítico que personifica a sabedoria ancestral da fauna amazônica. Kaaporê assume a forma de um grande macaco dourado, cujos olhos brilham como estrelas e cujas pegadas deixam flores por onde passa.
Em cada canto desse reino, a vida prospera de maneiras inimagináveis. Os macacos balançam pelas copas das árvores, parecendo brincalhões e sagazes, enquanto as aves, com suas penas coloridas, cantam canções que ecoam entre os troncos das árvores imponentes. Os rios que cortam esse reino são povoados por peixes encantados e botos cor-de-rosa, seres que carregam o mistério das águas em suas almas. As onças-pintadas, caçadoras silenciosas e soberanas das florestas, patrulham os caminhos da mata, enquanto borboletas gigantes voam ao lado de seres encantados, como se o ar fosse um tecido vivo que conecta todas as criaturas.
Em uma pequena vila beira das matas de Mayandeua e Algodoal, uma jovem chamada Naína, filha de guerreiros ancestrais de Maya cresceu ouvindo as histórias sobre o Reino da Fauna. Seu povo, assim como os antigos habitantes das ilhas, acreditava que a fauna era mais do que uma coleção de seres vivos; era a própria essência da Amazônia, uma força vital que conectava o mundo natural ao espiritual. Naína, desde criança, sentia uma profunda conexão com os animais da mata, como se eles fossem seus guias e protetores.
Certa noite, após uma intensa tempestade que parecia trazer mensagens dos deuses, Naína teve um sonho vívido. Em seu sonho, Kaaporê, o macaco dourado, apareceu a ela, convidando-a a atravessar o véu entre o mundo dos humanos e o Reino da Fauna. "A Amazônia está viva", Kaaporê disse, "e você, Naína, foi escolhida para ouvir o que ela tem a dizer." Ao acordar, ela sabia que precisava seguir o chamado. Guiada por seus instintos e pelos sinais sutis da mata, Naína embarcou em uma jornada pelas dunas e lagos. Ela seguiu os trilhos dos animais, observou as aves no céu e escutou o canto dos sapos, até chegar a um Lago Imaginário, cercado por dunas e vegetação densa. Ali, nas águas tranquilas, o reflexo da lua parecia abrir um portal, revelando o caminho para o Reino da Fauna da Amazônia.
Ao atravessar o portal, Naína se viu em um mundo onde os animais falavam com suas almas e o ciclo da vida era celebrado em sua mais pura essência. Kaaporê a aguardava ao lado de outras criaturas majestosas: árpias gigantes, tartarugas milenares e jacintas que cintilavam como joias vivas. O reino era vasto e diverso, e Naína pôde sentir a energia vibrante de cada ser que habitava aquele espaço.
No centro desse reino, uma árvore colossal, chamada de "Árvore da Vida Animal", erguia-se até tocar os céus. Suas raízes se estendiam por toda a ilha, conectando cada animal e planta em uma grande teia de interdependência. Ali, Kaaporê mostrou a Naína o verdadeiro equilíbrio da mata, revelando que todos os seres — desde os maiores predadores até os menores insetos — desempenhavam um papel essencial na manutenção do ciclo da vida.
Naína entendeu que sua missão era proteger esse equilíbrio. Ela foi nomeada a nova guardiã do Reino da Fauna, encarregada de espalhar o conhecimento sobre a interconexão entre os humanos e os animais. Ao retornar à sua aldeia, ela trouxe consigo a sabedoria do Reino da Fauna, ensinando seu povo a respeitar a vida animal como parte do próprio espírito da Amazônia.
Assim a ilha, com sua vibrante diversidade de vida, permaneceu sagrada, e os animais, protegidos e honrados como guardiões silenciosos dos mistérios da mata. A mensagem de Kaaporê ecoava através do vento: A Amazônia vive em cada batida de asas, em cada rugido e em cada passo silencioso no coração da mata. Proteger seus habitantes é proteger a própria essência da vida.
- Dizem que Naína se tornou a guardiã da entrada dos Caruanas da ilha. Mas, esta é uma próxima história.
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius N° 0685