Nº 0659 - TUCUXIS ENCANTADOS - COORDENADA GEOGRÁFICA 60 - CARTOGRAFIA DO IMAGINÁRIO POPULAR DE MAYANDEUA

 



Banzeiro de vida...

Terfolio olhou o horizonte e logo percebeu que a maré já havia chegado nos mangueiros. O mar com toda sua geometria de ângulos perfeitos fazia aos poucos adentrar novamente por entre os olhos daquele jovem a visão daquelas águas que sempre estiveram em sua vida. Rapidamente o rapaz fez uma oração, enquanto abanava o fogareiro, relembrou do quanto fazia falta a sua família. Terfolio já estava longe de sua casa há duas semanas. A vida no pequeno retiro era triste, pois o mar, a praia, os peixes e os pássaros eram o seus únicos instrumentos de comunicação. Claro, além do vento que não cessava e que levava sempre a suas palavras por entre o infinito da areia. Tão branca e perfeita que sustentava aquele pequeno espaço de palafitas, feito para aquele momento em que o mar ofertava para os seus muitos filhos os seus mais belos frutos.

Assim a vida do rapaz seguia por entre o ciclo das marés. Em sua meta, como Sonho de muitos jovens, era possuir a sua tão sonhada paragem. Depois, montar o seu curral com as próprias mãos. Após as Imagens de seus sonhos passarem novamente pela milésima vez em sua cabeça, Terfolio preparava os seus instrumentos de pesca.

Logo adentrou no furo e rapidamente chegava no mar aberto, onde posicionou a sua rede e o capitão passou a delinear novamente as suas aspirações. No agora, deitado na embarcação com o marulhar e o movimento das águas na pequena canoa, novamente matutava. Estando os seus olhos fechados, imaginou que a cada braça de rede no mar, pudesse vir muitos peixes. Assim, logo adormeceu. Por alguns minutos dormiu profundamente, mas, logo acordou espantado com o barulho de um motor que vinha em direção de sua embarcação. 

Era um barco grande que passou por ele, na sequencia provocou uma sucessão de ondas que rapidamente a canoa passou a ser conduzida pelo deslocamento das ondulações do banzeiro deixado pela embarcação. Causando assim o alagamento de sua pequena canoa.

Na sequência de tentar salvar algo, o rapaz se engata em sua própria rede, e e levado para o fundo, mas, como sempre ele trazia em sua cintura uma pequena faca, onde rapidamente cortou a rede que havia enrolado em sua perna esquerda. Já submergido, tentava  encontrar a sua canoa. Mas, ele não estava só no mar de Maya. 

A maré ainda intensa fez cansar o rapaz e imediatamente Terfolio de alguma forma tentava ver algo para ele descansar. Mas nem isopor, curral, madeira, enfim, nada ao redor! E por um breve momento já pensou no Destino que o "Pai Velho" havia ofertado para ele. No grave momento, uma esperança. Surge um casal de botos que surpreendentemente passou a ajudar o Jovem. Enquanto um tentava erguer Terfolio o outro o direcionava para mostrar onde estava a sua embarcação. Achando o casco, lá ficou de bubúia, até surgir uma lancha para poder lhe socorrer daquele estado que ficará por intermináveis horas ao sol daquela tarde.

Após um mês do acontecido. Lá estava o rapaz olhando novamente para o maré e seguramente preparava-se para a primeira pesca após a sua "nova" Vida. E assim ele parte novamente do furo para o mar. E desde aquele instante a única conquista que obteve, foi a amizade do casal de botos, pois, os mesmos nunca mais o deixaram após aquele episódio fatídico.

E lá vai o jovem novamente... Ele por entre as águas de Mayandeua com outra canoa, outra rede, outra vida, outra Esperança, novos amigos... 

E no pensamento de Terfolio a tão sonhada e sempre a mesma... 

Paragem!

(Este fato ocorreu perto do Retiro dos Encantados) Na praia do Mupéua.

Copyright de Britto, 2020

Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0659


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