Nº 0657 - SIRENOS ENCANTADOS - COORDENADA GEOGRÁFICA 58 - CARTOGRAFIA DO IMAGINÁRIO POPULAR DE MAYANDEUA

 

No fundo do mar, uma guerra silenciosa estava sendo travada entre os humanos e as criaturas mágicas que viviam embaixo das águas. Alguns dos humanos, encantados pela beleza e pelas lendas sobre sereias e outras entidades da água, davam início a caçadas em busca de provar sua bravura e coragem. Outros, porém, pescadores depredadores, faziam seus ataques visando o lucro e o desrespeito ao meio ambiente.

Em um desses embates, um caçador chamado Iverçis, que liderava um grupo de homens em uma missão para capturar uma sereia, encontrou finalmente sua presa. A jovem criatura estava assustada e ferida, lutando bravamente para se libertar da rede que a envolvia. Sua cauda azulada brilhava sob a luz do sol que penetrava na superfície do mar. Seus olhos verdes expressavam medo e raiva. Seus cabelos loiros estavam emaranhados com algas e conchas.

Iverçis se aproximou dela, certo de ter pleno controle da situação. Ele segurava uma faca em uma das mãos e um saco em outra. Ele pretendia cortar uma mecha do cabelo da sereia e levá-la como troféu. O que ele não esperava era que, ao tocar a sereia, seria tomado por uma onda de energia mágica e completamente desorientado.

O que… o que você fez comigo? - ele gritou, soltando a faca e o saco.

Eu te amaldiçoei - a sereia respondeu com voz rouca. - Agora você vai sentir na pele o que é ser caçado.

Ela puxou a rede com força e arrastou Iverçis para as profundezas do mar. Ele tentou se soltar, mas sentiu uma dor aguda no peito. Ele olhou para baixo e viu que seu corpo estava se transformando. Sua pele ficou escamosa e suas pernas se fundiram em uma cauda cinzenta. Ele estava virando um tritão.

Não… não pode ser… - ele murmurou, em pânico.

Bem-vindo ao meu mundo - a sereia disse com ironia.

Ao abrir os olhos, o caçador se viu dentro do navio da Rainha das Sereias. A bela mulher, com sua cauda esverdeada e seus cabelos longos e negros, observou-o atentamente, com desconfiança.

Por que você e seus homens insistem em nos caçar? - perguntou a Rainha, em voz baixa, mas firme.

Eu… eu não sei - gaguejou Iverçis, sentindo-se pequeno e assustado diante dela. - Éramos instruídos a fazê-lo pelos nossos líderes. Para ganhar prestígio e dinheiro.

Vocês não têm noção do que causam quando tentam nos capturar - a Rainha das Sereias acrescentou com tristeza. - Não apenas matam nossos irmãs e irmãos como também destroem nosso lar. Sua ganância e luxúria são tão perigosas quanto os demônios que tentam nos destruir.

Iverçis sentiu uma ponta de culpa crescer em seu peito. Ele percebeu que, durante anos, seguia uma cultura de destruição, sem nunca questionar seus senhores ou os motivos por trás das caçadas. Ele se perguntou se não poderia haver uma forma de conversar e negociar com as criaturas mágicas, em vez de usar a violência.

Desculpa, eu nunca soube a verdadeira motivação dos nossos superiores. Mas agora entendo que precisamos encontrar um caminho para viver em paz e harmonia com as criaturas do mar - declarou Iverçis com sinceridade.

A Rainha das Sereias observou-o por um instante e, depois, emitiu um som que parecia ser um grito modificado - um sinal para que a rede que estava prendendo Iverçis fosse solta. Em seguida, apontou para a porta e disse:

Vá. E lembre-se do que viu aqui hoje. Lembre-se também de que nós, as criaturas mágicas do mar, não estamos dispostas a tolerar mais desrespeito ao nosso habitat e à nossa vida.

O caçador saiu do navio e percebeu que seus homens estavam à sua espera. Eles o olharam com espanto e horror, sem reconhecer seu antigo líder. Eles apontaram suas armas para ele, gritando:

Um tritão! Mate-o!

Iverçis se viu cercado por seus antigos companheiros, que agora eram seus inimigos. Ele não tinha como se defender ou fugir. Ele pensou que iria morrer ali mesmo.

Mas, antes que os tiros fossem disparados, uma onda gigantesca se ergueu do mar e atingiu o barco dos caçadores. Iverçis sentiu alguém puxá-lo pela mão e levá-lo para longe da embarcação. Era a sereia que ele havia tentado capturar.

Eles nadaram juntos para o navio da Rainha das Sereias, onde foram recebidos com alegria e alívio. Iverçis se sentiu acolhido e aceito por aqueles que antes eram seus inimigos. Ele se sentiu parte de uma nova família.

A guerra continuou por muito tempo, mas agora havia um novo lutador. Iverçis, antes um caçador inconsciente, tornou-se um aliado da Rainha das Sereias e de todas as criaturas do mar.

Ele se esforçou para divulgar a verdade sobre as sereias e outras entidades do oceano para o mundo, e ajudou a criar leis de proteção ao meio ambiente.

Em vez de caçar, agora buscava o diálogo pacífico e a convivência harmoniosa - uma jornada longa, cheia de desafios, mas necessária para garantir um futuro melhor para si, para as criaturas do mar, e para as gerações futuras.

- Assim Primolius narrou em uma conversa de espera "de maré" encher...


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0657

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