* Nº 0642 - A MÃE DO LAGO DE MAYANDEUA - ALGODOAL - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


Nas tranquilas águas que envolvem a ilha de Mayandeua- Algodoal, emerge uma figura sagrada, envolta em mistério e reverência: a Mãe do Lago. Sua presença não é apenas um eco do misticismo local, mas um símbolo da própria essência da ilha. Ela é a guardiã que protege as águas,  os segredos profundos e as vidas que dependem do equilíbrio natural.

Conta-se que a Mãe do Lago não tem forma única. Alguns a veem como uma mulher de longos cabelos trançados, feitos de fios de água que brilham ao luar. Outros falam de uma criatura translúcida, com olhos que refletem todas as cores dos lagos. Há quem diga que ela é o próprio espírito das águas, presente em cada gota e correnteza. Seja qual for sua aparência, uma coisa é certa: sua força é sentida em toda a ilha, desde os igarapés escondidos até os grandes lagos que reluzem sob o sol.

Nas vilas de pescadores como Camboinha, Fortalezinha, Mocooca e Algodoal, a Mãe do Lago é mais do que uma entidade distante. Ela é uma protetora silenciosa, observando os pescadores enquanto lançam suas redes ao amanhecer. Muitos acreditam que ela guia os peixes até as redes, garantindo uma pesca suficiente para sustentar as famílias sem desequilibrar a vida aquática. Em noites claras, há relatos de pescadores que veem sua silhueta dançando sobre as águas, um presságio de abundância e harmonia.

Os mais velhos contam que a Mãe do Lago é a guardiã de um pacto ancestral, firmado entre os primeiros habitantes da ilha e a própria natureza. Esse pacto garante a prosperidade dos ribeirinhos enquanto as águas forem respeitadas. Dizem que, quando o equilíbrio é ameaçado — seja por pesca descontrolada ou pela chegada de forasteiros desatentos — a Mãe do Lago faz sentir sua ira. Ventos repentinos, ondas que engolem barcos e noites de silêncio absoluto são seus avisos de que a harmonia precisa ser restaurada.

Além de sua função protetora, a Mãe do Lago é vista como uma curadora. Histórias de milagres percorrem a ilha: crianças doentes que se recuperaram após banhos nos lagos sagrados, pescadores perdidos que foram guiados por luzes misteriosas, e viajantes que, ao tocar nas águas, encontraram consolo para suas dores mais profundas. Esses relatos reforçam a crença de que ela é mais do que uma guardiã; ela é uma amiga, uma conselheira e, para muitos, uma mãe espiritual.

O macaco Clow, um observador astuto das idas e vindas da ilha, relata que, durante as madrugadas, é possível ouvir uma canção suave que emana dos lagos. Ele jura que é a voz da Mãe do Lago, cantando histórias antigas para as águas e conectando os corações dos habitantes ao passado e ao futuro. "Ela não é apenas a guardiã das águas", diz Clow, "ela é o próprio espírito de Mayandeua."

Assim, a Mãe do Lago nos ensina que a natureza e a humanidade são uma só rede, onde cada fio é essencial. Sua história é um lembrete de que a preservação e o respeito pelo mundo natural não são apenas deveres, mas atos de amor que mantêm a vida em equilíbrio. Na ilha de Mayandeua-Algodoal, ela é o símbolo eterno de que o que é sagrado deve ser cuidado, não apenas por hoje, mas para as gerações que ainda virão. E enquanto as águas da ilha brilham sob o sol ou sussurram à luz da lua, a presença da Mãe do Lago continua viva, inspirando a todos que têm a sorte de chamá-la de protetora.

- Assim foi relatado por Clow, enquanto a brisa das águas sussurrava verdades esquecidas no solo da Pedra Chorona. 


 FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0642


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