*Nº 0573 - CONTEMPLAÇÃO NATURAL - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA

 


Na exuberante mata de Maya, a preguiça reinava de maneira harmoniosa. Seus olhos pesados, embalados pela serenidade do ambiente, abriam-se ocasionalmente para apreciar o esplendor ao seu redor. Seus movimentos, cadenciados como uma dança suave, eram uma celebração tranquila no espetáculo da vida. A cada gesto, a preguiça refletia a calmaria da floresta, tornando-se um símbolo de paz e equilíbrio. Um dia, uma brisa gentil acariciou as folhas das árvores preguiçosamente. A preguiça, despertando com delicadeza de seu repouso, acolheu a mudança com serenidade. Seu bocejo se transformou em um suspiro de contentamento, ecoando pela mata sem perturbar a paz reinante. Faminta, ela começou a se movimentar com uma graça natural em busca de alimento. Cada passo lento era uma coreografia ensaiada pela natureza, uma dança que integrava perfeitamente seu ritmo ao das ilhas. 

As folhas, antes apenas parte da paisagem, agora eram vistas como presentes da natureza. Com uma apreciação genuína, a preguiça se alimentou suavemente, saboreando cada bocado como se fosse uma dádiva. Seus movimentos, antes lentos, eram agora uma dança suave que complementava a tranquilidade do local. Cada folha mastigada era um ritual de gratidão, uma conexão profunda com a generosidade do mundo ao seu redor. A saciedade chegou como uma bênção. A preguiça, plenamente satisfeita, retornou aos galhos, balançando-se como uma nota suave em uma melodia tranquila. Seus olhos, agora serenos, fecharam-se para mais um ciclo de repouso restaurador. A mata continuava seu murmúrio pacífico, embalando a preguiça em um sono profundo e revigorante.

Na mata de Maya, a preguiça continuava sua existência em harmonia, celebrando a simplicidade e a naturalidade de seus hábitos. Uma parte essencial  da vida, ela lembrava a todos da beleza encontrada na serenidade e na apreciação do presente. Nesse contexto filosófico mayandeuense, a preguiça poderia ser vista como um lembrete para apreciarmos a vida em seu ritmo natural, sem a urgência muitas vezes imposta pela sociedade dos carros, e encontrar a sabedoria na contemplação tranquila do mundo ao nosso redor. Para além das águas calmas que delineavam os limites da mata de Maya, existia um mundo bem diferente: o mundo dos homens. Ali, a pressa e a agitação dominavam, e a serenidade parecia um conceito distante. As cidades pulsavam com a energia frenética de pessoas correndo contra o tempo, sempre em busca de mais, sempre em busca de algo que parecia constantemente fora de alcance.

Enquanto a preguiça na mata de Maya vivia em completa harmonia com seu ambiente, os homens frequentemente esqueciam a importância de desacelerar. As folhas que a preguiça via como dádivas eram para os homens meros elementos de uma paisagem muitas vezes ignorada. A pressa em consumir e produzir deixava pouco espaço para a apreciação das pequenas belezas da vida. No entanto, mesmo no meio da correria, havia momentos de introspecção. Em noites estreladas, algumas almas contemplativas olhavam para o céu e sentiam uma conexão com algo maior, um eco distante da paz que reinava na mata de Maya. Nessas breves pausas, os humanos talvez se lembrassem da serenidade da preguiça, do valor da quietude e da simplicidade.

A premente necessidade de se reconectar com a natureza e redescobrir a harmonia perdida levava alguns a buscar refúgio nas ilhas, nos retiros e nas praias. Essas jornadas não eram apenas físicas, mas também espirituais, uma busca por equilíbrio em um mundo desequilibrado lá fora. A história da preguiça na mata de Maya servia como uma lição silenciosa, um convite a todos para que encontrassem tempo para a contemplação e a apreciação do presente. Através da observação da vida simples e pacífica da preguiça, os humanos poderiam redescobrir o ritmo natural da existência, encontrando beleza e sabedoria na serenidade, mesmo em meio ao caos. Assim, enquanto a preguiça continuava sua dança tranquila nas árvores da mata de Maya, sua história se tornava um farol de esperança e reflexão para o mundo dos homens, lembrando-os constantemente da importância de viver em harmonia com a natureza e consigo mesmos.

- E além da maré.... O mundo dos Homens! 

 FIM


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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0573



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