*Nº 0547 - FOLHAS SECAS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Caminhando nas migalhas do tempo, adentramos os segredos profundos da Amazônia, onde os rios serpenteiam como fios de um imenso novelo, desvendando mistérios que a selva morena encena com maestria. As chamas do sol pintam quadros dourados sobre as águas serenas dos igapós, enquanto os raios solares dançam em um balé ancestral, refletindo-se nas superfícies escuras como espelhos líquidos. Nesse cenário mágico, segredos ancestrais sussurram entre as raízes das árvores, envoltos em um silêncio profundo e reverente, como se o próprio tempo tivesse parado para ouvir.
Os igapós, ecossistemas alagados que se escondem na floresta, são guardiões silenciosos de mistérios insondáveis. Suas águas escuras e tranquilas são espelhos da natureza, revelando sua plenitude e complexidade. Ali, onde vivem seres que parecem vagar entre o vento e a bruma, os rios que circundam essa terra encantada são como veias pulsantes, alimentando a floresta viva. Cada curva, cada meandro, guarda uma história, uma jornada, onde a vida se renova incessantemente, como se o próprio coração da Amazônia batesse ao ritmo dessas águas. Nas migalhas do tempo, a floresta se desvela diante de nossos olhos curiosos, convidando-nos a explorar suas profundezas, a mergulhar em seus mistérios e a sentir o eco de suas histórias.
As chamas do sol e os segredos dos igapós compõem um conto eterno, tecido pelas mãos invisíveis da natureza. Os rios serpenteiam pela paisagem, dominando-a como veias de uma grande ciranda de palavras cantadas pelo vento. No coração da selva, onde a vida pulsa de forma intensa e vibrante, os igapós guardam seus segredos sob a luz prateada da lua e sob as folhas úmidas que reluzem como joias. Sob o manto estrelado do céu amazônico, os rios dançam ao som de sua própria música, uma sinfonia que ecoa histórias de eras passadas e presentes. Lá, bem adentro dos ninhos e pequenas grutas, as chamas do sol acariciam a terra, enquanto as águas escuras encantam com segredos de antigas eras, como se fossem páginas de um livro, escritas em línguas que só a floresta entende.
No silêncio profundo, a natureza costura suas linhas invisíveis, revelando os encantos e mistérios que habitam aquele espaço sagrado. Nas migalhas do tempo, a Amazônia se revela como uma poesia única, onde as chamas, os igapós e os rios se entrelaçam em uma constante sinfonia de vida. Ela nos convida a perder-nos nas entrelinhas de sua existência, a desvendar os sonhos mais profundos dessa gigante floresta, que parece respirar em harmonia com o universo. Nas migalhas do tempo, ela nos ensina que o tempo pertence à Amazônia, moldado pelos ciclos lunares e pelas marés que nos fazem refletir sobre nossa própria existência, como estrelas cintilantes nesta gigantesca mata.
Poderes do tempo permeiam cada folha, cada gota de água, cada sussurro do vento. Em algum lugar, os Encantados — seres mitológicos que habitam o imaginário amazônico — preparam-se para a guerra, uma batalha silenciosa e eterna pela preservação dos segredos que a floresta guarda. Eles são os protetores invisíveis, os guardiões de um equilíbrio frágil e poderoso, que resiste ao peso das eras. E nós, meros observadores, continuamos a caminhar nas migalhas do tempo, fascinados pela grandiosidade e mistério da Amazônia. Conscientes de que somos parte de um ciclo muito maior, um ciclo que transcende nossa compreensão e nos conecta às raízes da terra, sentimos que estamos apenas de passagem, aprendizes humildes diante da sabedoria ancestral da floresta.
Nas margens dos rios, onde as águas escuras abraçam as raízes das árvores centenárias, percebemos que a Amazônia não é apenas uma floresta; é um templo vivo, um santuário de histórias e segredos que se renovam a cada nascer do sol. Ela nos ensina que a vida é um fluxo contínuo, como as águas que nunca param de correr, e que cada migalha do tempo carrega consigo a essência de algo maior: a conexão entre o homem, a natureza e o cosmos.
E assim, caminhamos nas migalhas do tempo, deixando que a Amazônia nos guie, nos ensine e nos transforme. Pois, no final, compreendemos que não somos apenas visitantes; somos parte integrante dessa sinfonia eterna, onde cada nota, cada suspiro, cada segredo é um convite à contemplação e ao respeito.
— Nas migalhas do tempo, todos somos um.
FIM
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Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0547